sábado, 6 de outubro de 2007

Boa noite?

"O único braço do Estado que sobe o morro é a polícia."

A frase é do Comandante Pimentel, a voz do BOPE no "Notícias de uma guerra particular". Não é preciso ser um gênio para entender o que ele quis dizer: o governo só entra no morro se for para reprimir. Nada de políticas públicas para os pobres. Excluídos serão sempre excluídos.

Uma vez meu pai foi à uma costureira que trabalhava com ele. Era no pé de um morro qualquer. E o lugar estava em festa, porque um caminhão de entrega do Ponto Frio havia sido roubado naquele instante e o conteúdo estava sendo distribuído aos moradores. Legal o traficante, né?

Não. O apadrinhamento que eles fazem não é função dos governantes, mas na falta de qualquer solução proposta aos miseráveis isso acaba valendo. E mais: se você, transeunte da Ponte, não conseguiria viver bem com um salário mínimo, por que alguém com família conseguiria? Ou melhor, como?

Exatamente. Não vive. E por isso aceita de bom grado o que os bandidos dão a eles. Porque o sonho de consumo dessa gente é como o seu. Só está mais distante de ser alcançado.

E por que os traficantes existem? Porque pessoas como vocês e/ou amigos compram o que é distribuído por eles. Oferta e procura. Preço de mercado. Oportunidade de emprego. Capitalismo. O nome não importa, o vício sim. E é graças a ele que se compram armas, que se pagam os salários acima da média dos envolvidos no crime, que se mantém a vida paralela.

Por isso, antes de reclamar que perdeu o celular ou o tio foi agredido covardemente por um pivete, pensa que o mesmo dinheiro que você (não necessariamente leitor, mas usuário) usou pra ficar doidão (doidona) serviria para fazer algo maior por alguém. Ou o básico, como dar um prato de comida.

Ahan, não é obrigação sua. Como não é obrigação do marginal saber distinguir quem faz alguma coisa boa, quem faz coisa ruim e quem não faz nada. Vamos chamar de daltonismo criminal: uma pessoa com arma na mão não sabe distinguir o verde bom do vermelho ruim. Escolhe um e aperta o gatilho.

E aí, quando vai ser a sua vez?

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