Quando você está em outro país, experimentando o dia-a-dia de uma cultura diferente, precisa se adaptar o mais rápido possível às coisas do local. Pra mim, que sou movido à música, um jeito legal de fazer isso é ouvindo rádio.
Por sugestão do Alberto, meu assessor (deu branco, espero que seja com esse monte de "s" mesmo) pra assuntos catalães, a melhor daqui é a Rádio 3. Eclética, pouco ou nenhum jabá, gente que conhece muito de música. Resolvi experimentar. Viciei. Ainda bem que isso não dá positivo em anti-doping.
Fato é que a rádio é a melhor que já ouvi na minha vida. Qualquer uma do Brasil perde de lavada pra ela. Se fosse Fórmula 1, as daí se comparariam ao Rubinho. Se fosse futebol, ao Botafogo. Se fosse vela, ao Lars Grael (sem uma perna, pra quem não entendeu o humor negro). Realmente, a estação é incrível.
Eles têm uns programas raros, é verdade. Tipo um em que uma espécie de robô recita frases desconexas com um som ao fundo. Os radialistas também são um pouco esquisitos, como um cara que tem voz de quem fumou até a certidão de nascimento e agora convive com um câncer de garganta de 3 quilos. Mas pasa res, porque esta mesma figura sabe tanto o que acontece no underground ganês quanto a última tendência dos novos sons paquistaneses. E sabe muito de Brasil. Muito.
Um dia, enquanto corria, tocou Wilson Simonal ("Nem vem que não tem"). Ah, mas é conhecido, o cara é cool das antigas, vocês poderiam dizer. Beleza. Pois hoje (dia 25 de novembro, no caso), ele e seu convidado colocaram Zeca Pagodinho. Fácil também? Um pouco antes tocou Maria Bethânia. Ainda não convencidos? Pois logo depois de sua música, que era do seu último álbum, eles discutiram Hermeto Pascoal. E, pra acabar com os mais céticos, meu argumento final. Um nome:
Emílio Santiago.
Sim, ele mesmo. O pontinho preto no milharal. O alvo de tantas piadas homofóbicas. Pois além de ser muito elogiado por sua voz - que é realmente sensacional - ele foi comparado a ninguém mais, ninguém menos que Nat King Cole e Frank Sinatra. Disseram que poderia ser tão famoso quanto qualquer um dos dois.
Claro, eles não sabem que o cara é considerado meio brega por aí. Nem que é razoavelmente excluído do grande circuito. Mas a verdade é que colocaram uma canção muito boa, e deu até vontade de ouvir mais. Coisa que não vou fazer. E senti certo orgulho de ver nossa cultura tão elogiada, e de forma tão abrangente.
Só não fecho este post com algo do tipo "dá neles, Emílio!" porque coisas assim, em se tratando do garotão aí, podem pegar mal. Pra mim, porque com certeza ele encararia com a maior naturalidade. De costas.
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2 comentários:
o pontinho preto no milharal... eles resgatam o emilio santiago, vc resgata as piadas babacas sobre ele.
muito bom.
Eles só tocam música brasileira ou vc está com muita saudade do Brasil?
A voz de robô, não seria Kraftwerk? O radialista, não seria Darth Vader?
Beijinhos =)
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