quarta-feira, 31 de março de 2010
"Tráfego de neurônios"
Finalmente, meu cérebro começa a honrar o silogan deste blog outra vez. E o melhor: não só "via www".
terça-feira, 30 de março de 2010
"Uno, grande, eterno, antimadridista" e freguês
Domingo foi dia de clássico... em Madrid. Atlético x Real, a rivalidade da capital à flor da pele. Algo que não se reflete na posição dos times na tabela, ou no investimento, ou no marketing, ou...
Como todo culé (torcedor do Barça), quero que o Real afunde nas próprias fanfarronices e suma do mapa. Assim, fui assistir ao jogo num bar da peña (torcida) do Atlético. Pequenininho, como a torcida. Mas todo empipadinho, como a torcida. Milhares de faixas, bandeiras, fotos, reportagens, e até uma baratinha passeando na parede, pra me recordar o bom e velho pé-sujo carioca. Vale registrar que foi a primeira barata que vi em cinco meses e meio aqui. Quase acredito que essa é a mascote do bar, como diziam.
Eles realmente são "antimadridistas", como fala o título deste texto - e como estava em uma das bandeiras. Xingamentos, piadas e gritaria eterna contra os blancos. E ainda saímos na frente! Mas, tal qual o Vasco diante do Flamengo (ou o Fluminense, ou o botafogo - com minúsculas, mesmo, como sempre), o pobre Atlético é freguês. Foi pro intervalo com 1x0 e bastaram uns 15 minutos da segunda parte pra levar 3 gols. Resultado: perderam e deixaram o Real junto do Barça, na liderança. O clássico do dia 10 promete incendiar o inferno.
---
E, aproveitando o gancho do futebol, Armando Nogueira morreu. Admito que nunca fui fã dele (na verdade, achava um saco), mas é uma pena que se vá. Porque dificilmente dois jornalistas esportivos serão enterrados no mesmo ano - no bom sentido. O que quer dizer que ele fica.
Não desejo a morte ao "homem da palavra fácil". Mas é que a palavra dele fica mais difícil a cada dia. E não basta estar longe, tenho que sofrer com seus comentários em absolutamente todos os jogos do Flamengo, que sempre escuto na Rádio Globo. Isso é propaganda enganosa, e nem processar o Sistema Globo de Rádio eu posso. Me sinto castigado no exílio.
O Armando Nogueira era incrivelmente chato, com suas poesias tediosas sobre temas que já estávamos cansados de ouvir. Mas o Luizinho comenta com um Aurélio na mão - provavelmente a segunda edição dele. E, por não entender muito bem como funciona esse negócio de tecnologia (quando ele começou, a rádio era literalmente ao vivo, com duas pessoas com cabos de vassoura na mão, falando de dentro de uma caixa de papelão), demora a se entender com essa coisa de microfone, dinâmica etc. Assim que uma frase tão simples como "o Dodô não sabe bater pênalti" demora uns três minutos pra ser completada - isso quando um repórter não o interrompe, e o narrador aproveita pra falar alguma coisa. Qualquer coisa.
Bom, fato é que o Cid Moreira continua firme e forte como azarão em todos os bolões de possíveis presuntos. O prêmio pela cabeça dele vai pagar mais que Mega-Sena acumulada. Talvez, tanto quanto 10% de uma obra pública qualquer de cidade do interior do Brasil.
Como todo culé (torcedor do Barça), quero que o Real afunde nas próprias fanfarronices e suma do mapa. Assim, fui assistir ao jogo num bar da peña (torcida) do Atlético. Pequenininho, como a torcida. Mas todo empipadinho, como a torcida. Milhares de faixas, bandeiras, fotos, reportagens, e até uma baratinha passeando na parede, pra me recordar o bom e velho pé-sujo carioca. Vale registrar que foi a primeira barata que vi em cinco meses e meio aqui. Quase acredito que essa é a mascote do bar, como diziam.
Eles realmente são "antimadridistas", como fala o título deste texto - e como estava em uma das bandeiras. Xingamentos, piadas e gritaria eterna contra os blancos. E ainda saímos na frente! Mas, tal qual o Vasco diante do Flamengo (ou o Fluminense, ou o botafogo - com minúsculas, mesmo, como sempre), o pobre Atlético é freguês. Foi pro intervalo com 1x0 e bastaram uns 15 minutos da segunda parte pra levar 3 gols. Resultado: perderam e deixaram o Real junto do Barça, na liderança. O clássico do dia 10 promete incendiar o inferno.
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E, aproveitando o gancho do futebol, Armando Nogueira morreu. Admito que nunca fui fã dele (na verdade, achava um saco), mas é uma pena que se vá. Porque dificilmente dois jornalistas esportivos serão enterrados no mesmo ano - no bom sentido. O que quer dizer que ele fica.
Não desejo a morte ao "homem da palavra fácil". Mas é que a palavra dele fica mais difícil a cada dia. E não basta estar longe, tenho que sofrer com seus comentários em absolutamente todos os jogos do Flamengo, que sempre escuto na Rádio Globo. Isso é propaganda enganosa, e nem processar o Sistema Globo de Rádio eu posso. Me sinto castigado no exílio.
O Armando Nogueira era incrivelmente chato, com suas poesias tediosas sobre temas que já estávamos cansados de ouvir. Mas o Luizinho comenta com um Aurélio na mão - provavelmente a segunda edição dele. E, por não entender muito bem como funciona esse negócio de tecnologia (quando ele começou, a rádio era literalmente ao vivo, com duas pessoas com cabos de vassoura na mão, falando de dentro de uma caixa de papelão), demora a se entender com essa coisa de microfone, dinâmica etc. Assim que uma frase tão simples como "o Dodô não sabe bater pênalti" demora uns três minutos pra ser completada - isso quando um repórter não o interrompe, e o narrador aproveita pra falar alguma coisa. Qualquer coisa.
Bom, fato é que o Cid Moreira continua firme e forte como azarão em todos os bolões de possíveis presuntos. O prêmio pela cabeça dele vai pagar mais que Mega-Sena acumulada. Talvez, tanto quanto 10% de uma obra pública qualquer de cidade do interior do Brasil.
domingo, 28 de março de 2010
"... no túnel do tempo"
São 5h e ainda estou acordado. É verdade que hoje adiantamos o relógio em uma hora, mas só isso não justificaria eu estar escrevendo. Tampouco posso resumir a volta da minha insônia ao fuso horário - depois de mais de cinco meses em Barcelona, seria algo tão factível quanto o Barrichello dizer que perdeu (mais) uma corrida porque está se acostumando à forma de conduzir da F1.
Sinceramente, tenho sentido saudades do Brasil nas últimas semanas. Mais do que das fronteiras imaginárias que limitam nosso país e não acredito muito, mas sim de tudo o que está contido nelas. A milionésima crise mental que me assola me faz pensar em tudo o que tenho, ou creio que ainda tenho, na minha querida terra.
Nesse momento os vazios são mais vazios, o silêncio grita ainda mais alto, o skype que não toca me deixa mais mudo, o emprego que não tenho aponta o dedo com mais convicção. Aquela ligação besta de cinco minutos pra um amigo faz tanta falta quanto feijão com arroz, a pipoca do cinema me faz salivar, um chope com os que ficaram é um porre de tristeza. E até a felicidade que deveria sentir em pensar em espanhol antes do português na hora de escrever este text me parece uma enorme babaquice.
Pois calhou de eu entrar nos quilométricos túneis do metrô de Barna hoje à noite, indo ver o jogo do Barça, e sentir um pouco de nostalgia extra. No caminho para Joanic (linha 4, amarela) - também conhecido como corredor polonês - havia um cara com toda a pinta de gringo, tocando teclado. A música? Essa! Pra ser sincero, estava bem bosta. Mas foi engraçado ver duas mulheres passando pelo cara e rebolando de leve, brincando com ele - e ver como ele errava as notas depois, e demorava a se reencontrar.
Não dei dinheiro, tanto por estar estragando minhas belas memórias como porque, se fosse pra ajudar alguém, seria um brasileiro. Muy bien, eis que desço um par de escadas e escuto "hoje à tarde a Ponte engarrafou, e eu fiquei a pé...". O sotaque era inconfundível: brasileiro!
Passei, encontrei um euro na carteira e, mesmo correndo o risco de inflacionar o mercado, deixei a moeda no chapéu estilo quipá-baiano-da-vovó de um tiozinho com dread. Sem pedir troco. Ele pára, me olha e diz "muy amable". Achei legal e respondi "tá maneiro, brasileiro, você merece". Eis que ele abre um sorriso e, mal eu viro e volto ao meu caminho, ele manda "então, tá". E me sai com isso aqui. Com uma voz bem melhor que a do papai da Bossa Nova.
Admito que o dia não foi exatamente como esperava, depois de me levantar com boas sensações e um sorriso enorme no rosto. Mas isso me fez um bem como poucas coisas - inclusive as que esperava - teriam conseguido. Por alguns momentos, isso aqui (ô, ô) foi um pouquinho de Brasil (iá, iá).
Sim, com saudade e sentindo muito algumas coisas. Mas, sim, feliz.
Sinceramente, tenho sentido saudades do Brasil nas últimas semanas. Mais do que das fronteiras imaginárias que limitam nosso país e não acredito muito, mas sim de tudo o que está contido nelas. A milionésima crise mental que me assola me faz pensar em tudo o que tenho, ou creio que ainda tenho, na minha querida terra.
Nesse momento os vazios são mais vazios, o silêncio grita ainda mais alto, o skype que não toca me deixa mais mudo, o emprego que não tenho aponta o dedo com mais convicção. Aquela ligação besta de cinco minutos pra um amigo faz tanta falta quanto feijão com arroz, a pipoca do cinema me faz salivar, um chope com os que ficaram é um porre de tristeza. E até a felicidade que deveria sentir em pensar em espanhol antes do português na hora de escrever este text me parece uma enorme babaquice.
Pois calhou de eu entrar nos quilométricos túneis do metrô de Barna hoje à noite, indo ver o jogo do Barça, e sentir um pouco de nostalgia extra. No caminho para Joanic (linha 4, amarela) - também conhecido como corredor polonês - havia um cara com toda a pinta de gringo, tocando teclado. A música? Essa! Pra ser sincero, estava bem bosta. Mas foi engraçado ver duas mulheres passando pelo cara e rebolando de leve, brincando com ele - e ver como ele errava as notas depois, e demorava a se reencontrar.
Não dei dinheiro, tanto por estar estragando minhas belas memórias como porque, se fosse pra ajudar alguém, seria um brasileiro. Muy bien, eis que desço um par de escadas e escuto "hoje à tarde a Ponte engarrafou, e eu fiquei a pé...". O sotaque era inconfundível: brasileiro!
Passei, encontrei um euro na carteira e, mesmo correndo o risco de inflacionar o mercado, deixei a moeda no chapéu estilo quipá-baiano-da-vovó de um tiozinho com dread. Sem pedir troco. Ele pára, me olha e diz "muy amable". Achei legal e respondi "tá maneiro, brasileiro, você merece". Eis que ele abre um sorriso e, mal eu viro e volto ao meu caminho, ele manda "então, tá". E me sai com isso aqui. Com uma voz bem melhor que a do papai da Bossa Nova.
Admito que o dia não foi exatamente como esperava, depois de me levantar com boas sensações e um sorriso enorme no rosto. Mas isso me fez um bem como poucas coisas - inclusive as que esperava - teriam conseguido. Por alguns momentos, isso aqui (ô, ô) foi um pouquinho de Brasil (iá, iá).
Sim, com saudade e sentindo muito algumas coisas. Mas, sim, feliz.
quinta-feira, 18 de março de 2010
Lamentável
Começo meu texto com o outro, do qual quero falar. E lembrando a todos que sou "acima de tudo, rubro-negro". Só pra deixar claro que não é por isso que escrevo. Paciência, já, já vocês vão entender tudo.
"O Flamengo parece um antro de marginais
seg, 15/03/10, por Marco D'Eca
O centro-avante Adriano é um cachaceiro marginal e descontrolado, protegido pela mídia flamenguista e financiado por quem quer vê-lo na Copa.
Wagner Love é marginal mesmo - no sentido social do termo - destes que participam de festas com traficantes e acham normal a convivência.
O goleiro Bruno se revela um marido brutamontes, agressor de mulher e farrista inveterado, com as declarações bisonhas que deu à mídia.
Além dele, vários jogadores rubro-negros participam de farras e bebedeiras antes, depois e até durante os jogos do Flamengo.
Nenhum outro time de futebol no Brasil abriga tanta gente desajustada quanto o Flamengo - marginais no sentido amplo da palavra, aqueles que vivem, por exclusão ou opção, à margem da sociedade organizada e civilizada.
Nenhum outro time registra tantos jogadores com problemas sociais quanto o Flamengo.
Este é o Flamengo, parece um antro de marginais.
Movidos, no mínimo, pela ausência de bom senso, os donos da Choppana, em São Luís, resolveram abrir a casa para acompanhamento comaptrilhado de torcida durante os jogos.
Vascaínos disseram não à idéia estapafúrdia e procuraram outro local para se concentrar e fazer a festa do futebol.
Porque sabem ganhar e perder com a mesma educação.
Não dá para compartilhar o mesmo espaço em ambientes públicos com flamengustas - jogadores ou torcedores.
É pedir por agressão...
Texto modificado às 16h55 por conter agressões injustas e desnecessárias a dirigentes e a torcida do Flamengo. Mantêm-se a opinião apenas em relação aos jogadores. a Torcida, minhas desculpas.
Marco Aurélio D'Eça
marcoaureliodeca@mirante.com.br"
Tive o trabalho de transcrever o texto tal qual estava na página da globo.com por alguns motivos. Um, porque me recuso a dar qualquer chance de tráfego a uma página com esse conteúdo - quem quer saber exatamente do que se trata se satisfaz aqui. Dois, porque quero ser honesto com ele para quando começar a bater no seu texto. Três, para que vejam que o infeliz é incapaz de escrever corretamente, e tem a audácia de falar alguma coisa de alguém.
Acredito que não faria falta falar isso, mas ele é vascaíno. Não só pelo elogio à torcida, mas por escrever com tamanha dor de corno numa segunda-feira pós-derrota. Não apenas pós-derrota, mas pós-cagadas do seu (teoricamente) maior astro. Que, não custa nada lembrar, ficou suspenso por um bom tempo. E, até onde eu ser, ser atleta de Cristo não dá gancho em ninguém...
O queridão também demonstrou uma falta de memória incrível, se considerarmos seu últimoditador presidente, Eurico Miranda, que roubava renda dos próprios jogos e amordaçava imprensa, sócios e funcionários. Ou mesmo do Dinamite, que rezam as más línguas (repetindo palavras de amigos vascaínos) não é lá um primor de honestidade. Ah, sim, vale lembrar que ali está jogando o Carlos Alberto, e que seus últimos grandes ídolos foram Romário e Edmundo. Que batiam boca abertamente na imprensa, quando o Euricão deixava.
Também não custa nada relembrar o alinhamento de Eurico com o declaradamente pilantra Viana (se era com dois "n", o outro foi roubado). Quem conhece um mínimo de história do futebol carioca sabe da quantidade de falcatruas organizadas e levadas a cabo pelos dois.
Mas não quero falar dessas brechas, apesar de poder. Não quero revidar na torcida vascaína, por não ser necessário e por ter amigos (incluo pai, irmão e demais familiares em amigos) que torcem pelo clube. Muito menos vou ficar xingando o pobre coitado, exatamente por esse motivo: o tal Marco Aurélio é um coitado.
Um ser sem um mínimo de bom senso. E que, justamente pela falta dele, acabou expondo um preconceito lamentável que já deveria ter sido extinto há muito tempo. O país do futebol, que une ricos e pobres, letrados e analfabetos, pretos e brancos e toda a escala Pantone, não consegue se livrar de idéias absurdas e mesquinhas inventadas algum dia por algum idiota.
Chamar alguém de "cachaceiro marginal e descontrolado" é triste, porque alcoolismo é um problema de saúde. De "marginal mesmo - no sentido social do termo" é grave, uma acusação digna de ser provada - e passível de ser punida na falta de provas. "Farrista inveterado" pode até ser um elogio, dependendo da situação. Dizer que "jogadores participam de farras e bebedeiras até durante os jogos" mostra um absoluto desconhecimento do esporte.
E tudo isso em uma idéia pré-concebida - preconceituosa, vamos deixar mais claro - de que um clube de futebol reúne a toda essa gente é deplorável. Sim, o Flamengo é um time de massas. E entre 35 milhões de torcedores é provável que tenhamos bandidos entre nós. Assim como policiais, cientistas, médicos, advogados e até publicitários como eu. Assim como é normal que, devido à paixão de tanta gente, o sonho de todo aspirante a profissional (e profissional também) seja defender as cores do clube - o que aumenta a probabilidade de que alguém com problemas venha a jogar pela equipe.
A maioria esmagadora de brasileiros que pretende viver de jogar bola é a mesma que não tem muitas expectativas na vida, por falta de educação ou oportunidades. Como uma pequena parcela alcança o sonho de ser jogador, e uma ainda mais microscópica consegue viver disso, e um milionésimo dessa gente vive bem como que ganha, é claro que muitos virão de áreas pobres, e muitos voltarão para lá. E vitoriosos e "derrotados" manterão a amizade, o que é louvável. Mais do que o ganha-pão de alguns, que entram no mundo do crime. O que não faz com que os anos juntos sejam esquecidos. O que faz com que um jogador profissional seja visto no baile funk que freqüentava, ou no churrasco de um amigo bandido.
O preconceito exposto por um ser como o que escreveu o texto, compartilhado em muitos dos comentários que vinham abaixo, fatalmente será retransmitido às próximas gerações, mantendo o círculo vicioso de ignorância que impede nossa sociedade de evoluir. Também contribuirá, provavelmente, para que sigam existindo agressões verbais e físicas entre torcedores dos dois clubes (e de vários outros), que não se aceitarão ou dividirão espaço, como o próprio cita no final do seu texto. E, pior ainda, é reflexo de tantos outros preconceitos que estão escondidos numa capa bem rasa de muita gente, e só precisa de um arranhãozinho para abrir um rasgo e transbordar, espirrando em todo mundo. Coisa de cor, raça, gênero, opção sexual, idade, estudo, profissão etc.
Sinto muito, mas o Brasil não vai longe com gente assim. Porque, cedo ou tarde, essa visão curta vira uma barreira e bloqueia o caminho. Vira cegueira. E, em terra de cego, quem tem um olho fatalmente acaba se aproveitando. Basta ver o que passa no país há séculos, literalmente.
Voltando às idéias absurdas do texto do queridão (e estou sendo incrivelmente gentil chamando tudo aquilo de "idéias" e "texto"), é bom ressaltar que jogadores problemáticos estão espalhados por todos os clubes, basta uma lidinha rápida na página de esportes pra satisfazer a curiosidade e conseguir papo pra fofoca com os companheiros de resmungo. E torcida problemática se manifesta em cada canto do país, e fica a dica do jornal pra conseguir mais assunto.
Isso não é uma questão de camisa. É questão de educação. A mesma citada no texto desse tal de Marco Aurélio D'Eça, e que claramente falta na sua vida. E a desculpa que ele foi obrigado a acrescentar no final do seu texto, eu não aceito. É um remendo pra disfarçar sua opinião, que não mudou.
Eu tenho pena. Não dele, mas de quem é obrigado a conviver com tamanha boçalidade.
"O Flamengo parece um antro de marginais
seg, 15/03/10, por Marco D'Eca
O centro-avante Adriano é um cachaceiro marginal e descontrolado, protegido pela mídia flamenguista e financiado por quem quer vê-lo na Copa.
Wagner Love é marginal mesmo - no sentido social do termo - destes que participam de festas com traficantes e acham normal a convivência.
O goleiro Bruno se revela um marido brutamontes, agressor de mulher e farrista inveterado, com as declarações bisonhas que deu à mídia.
Além dele, vários jogadores rubro-negros participam de farras e bebedeiras antes, depois e até durante os jogos do Flamengo.
Nenhum outro time de futebol no Brasil abriga tanta gente desajustada quanto o Flamengo - marginais no sentido amplo da palavra, aqueles que vivem, por exclusão ou opção, à margem da sociedade organizada e civilizada.
Nenhum outro time registra tantos jogadores com problemas sociais quanto o Flamengo.
Este é o Flamengo, parece um antro de marginais.
Movidos, no mínimo, pela ausência de bom senso, os donos da Choppana, em São Luís, resolveram abrir a casa para acompanhamento comaptrilhado de torcida durante os jogos.
Vascaínos disseram não à idéia estapafúrdia e procuraram outro local para se concentrar e fazer a festa do futebol.
Porque sabem ganhar e perder com a mesma educação.
Não dá para compartilhar o mesmo espaço em ambientes públicos com flamengustas - jogadores ou torcedores.
É pedir por agressão...
Texto modificado às 16h55 por conter agressões injustas e desnecessárias a dirigentes e a torcida do Flamengo. Mantêm-se a opinião apenas em relação aos jogadores. a Torcida, minhas desculpas.
Marco Aurélio D'Eça
marcoaureliodeca@mirante.com.br"
Tive o trabalho de transcrever o texto tal qual estava na página da globo.com por alguns motivos. Um, porque me recuso a dar qualquer chance de tráfego a uma página com esse conteúdo - quem quer saber exatamente do que se trata se satisfaz aqui. Dois, porque quero ser honesto com ele para quando começar a bater no seu texto. Três, para que vejam que o infeliz é incapaz de escrever corretamente, e tem a audácia de falar alguma coisa de alguém.
Acredito que não faria falta falar isso, mas ele é vascaíno. Não só pelo elogio à torcida, mas por escrever com tamanha dor de corno numa segunda-feira pós-derrota. Não apenas pós-derrota, mas pós-cagadas do seu (teoricamente) maior astro. Que, não custa nada lembrar, ficou suspenso por um bom tempo. E, até onde eu ser, ser atleta de Cristo não dá gancho em ninguém...
O queridão também demonstrou uma falta de memória incrível, se considerarmos seu último
Também não custa nada relembrar o alinhamento de Eurico com o declaradamente pilantra Viana (se era com dois "n", o outro foi roubado). Quem conhece um mínimo de história do futebol carioca sabe da quantidade de falcatruas organizadas e levadas a cabo pelos dois.
Mas não quero falar dessas brechas, apesar de poder. Não quero revidar na torcida vascaína, por não ser necessário e por ter amigos (incluo pai, irmão e demais familiares em amigos) que torcem pelo clube. Muito menos vou ficar xingando o pobre coitado, exatamente por esse motivo: o tal Marco Aurélio é um coitado.
Um ser sem um mínimo de bom senso. E que, justamente pela falta dele, acabou expondo um preconceito lamentável que já deveria ter sido extinto há muito tempo. O país do futebol, que une ricos e pobres, letrados e analfabetos, pretos e brancos e toda a escala Pantone, não consegue se livrar de idéias absurdas e mesquinhas inventadas algum dia por algum idiota.
Chamar alguém de "cachaceiro marginal e descontrolado" é triste, porque alcoolismo é um problema de saúde. De "marginal mesmo - no sentido social do termo" é grave, uma acusação digna de ser provada - e passível de ser punida na falta de provas. "Farrista inveterado" pode até ser um elogio, dependendo da situação. Dizer que "jogadores participam de farras e bebedeiras até durante os jogos" mostra um absoluto desconhecimento do esporte.
E tudo isso em uma idéia pré-concebida - preconceituosa, vamos deixar mais claro - de que um clube de futebol reúne a toda essa gente é deplorável. Sim, o Flamengo é um time de massas. E entre 35 milhões de torcedores é provável que tenhamos bandidos entre nós. Assim como policiais, cientistas, médicos, advogados e até publicitários como eu. Assim como é normal que, devido à paixão de tanta gente, o sonho de todo aspirante a profissional (e profissional também) seja defender as cores do clube - o que aumenta a probabilidade de que alguém com problemas venha a jogar pela equipe.
A maioria esmagadora de brasileiros que pretende viver de jogar bola é a mesma que não tem muitas expectativas na vida, por falta de educação ou oportunidades. Como uma pequena parcela alcança o sonho de ser jogador, e uma ainda mais microscópica consegue viver disso, e um milionésimo dessa gente vive bem como que ganha, é claro que muitos virão de áreas pobres, e muitos voltarão para lá. E vitoriosos e "derrotados" manterão a amizade, o que é louvável. Mais do que o ganha-pão de alguns, que entram no mundo do crime. O que não faz com que os anos juntos sejam esquecidos. O que faz com que um jogador profissional seja visto no baile funk que freqüentava, ou no churrasco de um amigo bandido.
O preconceito exposto por um ser como o que escreveu o texto, compartilhado em muitos dos comentários que vinham abaixo, fatalmente será retransmitido às próximas gerações, mantendo o círculo vicioso de ignorância que impede nossa sociedade de evoluir. Também contribuirá, provavelmente, para que sigam existindo agressões verbais e físicas entre torcedores dos dois clubes (e de vários outros), que não se aceitarão ou dividirão espaço, como o próprio cita no final do seu texto. E, pior ainda, é reflexo de tantos outros preconceitos que estão escondidos numa capa bem rasa de muita gente, e só precisa de um arranhãozinho para abrir um rasgo e transbordar, espirrando em todo mundo. Coisa de cor, raça, gênero, opção sexual, idade, estudo, profissão etc.
Sinto muito, mas o Brasil não vai longe com gente assim. Porque, cedo ou tarde, essa visão curta vira uma barreira e bloqueia o caminho. Vira cegueira. E, em terra de cego, quem tem um olho fatalmente acaba se aproveitando. Basta ver o que passa no país há séculos, literalmente.
Voltando às idéias absurdas do texto do queridão (e estou sendo incrivelmente gentil chamando tudo aquilo de "idéias" e "texto"), é bom ressaltar que jogadores problemáticos estão espalhados por todos os clubes, basta uma lidinha rápida na página de esportes pra satisfazer a curiosidade e conseguir papo pra fofoca com os companheiros de resmungo. E torcida problemática se manifesta em cada canto do país, e fica a dica do jornal pra conseguir mais assunto.
Isso não é uma questão de camisa. É questão de educação. A mesma citada no texto desse tal de Marco Aurélio D'Eça, e que claramente falta na sua vida. E a desculpa que ele foi obrigado a acrescentar no final do seu texto, eu não aceito. É um remendo pra disfarçar sua opinião, que não mudou.
Eu tenho pena. Não dele, mas de quem é obrigado a conviver com tamanha boçalidade.
Emenda Ibsen
Depois do BBB, não se fala em outra coisa nos jornais brasileiros - ou cariocas, pelo menos. A famigerada "emenda Ibsen", que causa revolta, indignação, pânico e até um chororô bem suspeito e botafoguense (esse me pareceu um pleonasmo legal) no Cabralzinho.
Sim, considero uma emenda sem sentido e aproveitadora, que muda as regras do jogo após terem sido estipuladas. Tal qual as viradas de mesa que trouxeram o nensinho de volta à elite. Mas...
Bom, antes vale ressaltar que esta emenda tem toda a pinta (sendo gentil) de manobra política oportunista em ano de eleição. Além do mais, qual o sentido do Acre, por exemplo, receber dinheiro gerado no RJ ou ES? O que fez o Acre pra merecer esse dinheiro, forneceu mão-de-obra? Arriscou o meio-ambiente local? Atraiu empresas? Convenhamos, o Acre nem existe! Mas...
Outra coisa, ainda. Retirar dinheiro de onde ele foi gerado, e de forma relativamente ilegal (sendo gentil outra vez), abre precedentes para mudar as regras do jogo em qualquer situação e/ou assunto. O povo brasileiro já deve estar acostumado com isso, apesar de eu ter a nítida impressão de que a cada dois anos se esquece do que sofreu durante o período entre eleições. Mas...
Mas vamos ver a questão por outro lado. Não pelos políticos aproveitadores como o Ibsen Pinheiro, que pretende marcar pontos no seu estado (RS) e pro seu partido (PMDB) às custas da legalidade, e muito perto das urnas. Tampouco pela (minha) crença de que a redistribuição de royalties é, acima de qualquer coisa, redistribuição de verbas pro bolso de muita gente. Roubalheira. Pilantragem. Mamata. Picaretagem. Como preferirem, não faltam palavras pra definir o que é isso.
Acontece que ninguém (pelo menos que eu tenha visto até agora) vê o assunto por outro ângulo importante que ele também representa. Essa guerra política mostra a dependência que temos, o Rio e todo o país, do petróleo. Uma dependência perigosa, que pode se transformar em um gordo e moribundo cavalo manco dentro de algum tempo. Sinto lembrar (na verdade, não sinto, não) que esta é uma energia não-renovável, e que muitos outros tipos estão sendo estudados e desenvolvidos. E, cedo ou tarde, tomarão seu lugar.
E tem um ponto ainda mais importante e triste nisso tudo. Como pode um país do tamanho do Brasil, com a quantidade de recursos e opções que tem o Brasil, lutar à morte pelo dinheiro do petróleo como se fosse a única fonte de renda? Como pode um Estado como o Rio dizer que não terá condições de cumprir com Mundial e Olimpíadas sem isso? E produtos industrializados? E serviços? E turismo? E tc?
Barcelona deu um giro de 180 graus (360 é voltar pro mesmo lugar, crianças, aprendam de uma vez por todas) para - e com - as Olimpíadas sem uma gota de petróleo. "Ah, mas você está falando da Espanha!". Sim, a prima pobre da Europa junto com Portugal. Vale citar também que os EUA poupam suas reservas de petróleo há décadas, e se desenvolveram em várias outras frentes. "Ah, mas você está falando da primeira potência mundial!". Sim, mas além de não ter nascido assim (na verdade, nasceu como privada da Inglatera), demonstra que existem opções. E ainda poderia citar tantos outros países europeus, Austrália, Japão...
Isso só reforça como não exploramos bem nossos inúmeros recursos. Como não utilizamos o dinheiro que ganhamos para corrigir problemas graves de moradia, educação, saúde e ao menos reduzir a desigualdade social. Como deixamos às moscas cidades com imenso potencial turístico, que acabam por receber muito menos gente - e menos divisas, conseqüentemente. Como nos baseamos em commodities, produtos de baixo valor no mercado. Investimos percentuais ridículos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, ficando pra trás nas disputas que realmente interessas. E por aí vai. A lista é enorme, mas vocês não precisam pensar muito pra completá-la por mim, não é mesmo?
Vamos linchar o Ibsen? Claro. Vamos queimar vivos os políticos malandros que jogam petróleo na fogueira às vésperas das eleições e teimam em se aproveitar que qualquer brecha na lei, mesmo que seja preciso criá-las, prejudicando uma vez mais e sempre a população? Lógico. Mas vamos discutir também essa nossa dependência absurda. Vamos pensar em alternativas para o dinheiro que entra, e em novas formas de fazer com que ele chegue. E não só para Rio de Janeiro, Espírito Santo ou Rio Grande do Sul, mas para os outros 2e estados da Federação também. Vamos deixar de ser hipócritas, e de fazer vista grossa para algo cada vez mais claro.
O petróleo é nosso. Mas, se continuarmos assim, não vamos ter muita coisa além dele.
Sim, considero uma emenda sem sentido e aproveitadora, que muda as regras do jogo após terem sido estipuladas. Tal qual as viradas de mesa que trouxeram o nensinho de volta à elite. Mas...
Bom, antes vale ressaltar que esta emenda tem toda a pinta (sendo gentil) de manobra política oportunista em ano de eleição. Além do mais, qual o sentido do Acre, por exemplo, receber dinheiro gerado no RJ ou ES? O que fez o Acre pra merecer esse dinheiro, forneceu mão-de-obra? Arriscou o meio-ambiente local? Atraiu empresas? Convenhamos, o Acre nem existe! Mas...
Outra coisa, ainda. Retirar dinheiro de onde ele foi gerado, e de forma relativamente ilegal (sendo gentil outra vez), abre precedentes para mudar as regras do jogo em qualquer situação e/ou assunto. O povo brasileiro já deve estar acostumado com isso, apesar de eu ter a nítida impressão de que a cada dois anos se esquece do que sofreu durante o período entre eleições. Mas...
Mas vamos ver a questão por outro lado. Não pelos políticos aproveitadores como o Ibsen Pinheiro, que pretende marcar pontos no seu estado (RS) e pro seu partido (PMDB) às custas da legalidade, e muito perto das urnas. Tampouco pela (minha) crença de que a redistribuição de royalties é, acima de qualquer coisa, redistribuição de verbas pro bolso de muita gente. Roubalheira. Pilantragem. Mamata. Picaretagem. Como preferirem, não faltam palavras pra definir o que é isso.
Acontece que ninguém (pelo menos que eu tenha visto até agora) vê o assunto por outro ângulo importante que ele também representa. Essa guerra política mostra a dependência que temos, o Rio e todo o país, do petróleo. Uma dependência perigosa, que pode se transformar em um gordo e moribundo cavalo manco dentro de algum tempo. Sinto lembrar (na verdade, não sinto, não) que esta é uma energia não-renovável, e que muitos outros tipos estão sendo estudados e desenvolvidos. E, cedo ou tarde, tomarão seu lugar.
E tem um ponto ainda mais importante e triste nisso tudo. Como pode um país do tamanho do Brasil, com a quantidade de recursos e opções que tem o Brasil, lutar à morte pelo dinheiro do petróleo como se fosse a única fonte de renda? Como pode um Estado como o Rio dizer que não terá condições de cumprir com Mundial e Olimpíadas sem isso? E produtos industrializados? E serviços? E turismo? E tc?
Barcelona deu um giro de 180 graus (360 é voltar pro mesmo lugar, crianças, aprendam de uma vez por todas) para - e com - as Olimpíadas sem uma gota de petróleo. "Ah, mas você está falando da Espanha!". Sim, a prima pobre da Europa junto com Portugal. Vale citar também que os EUA poupam suas reservas de petróleo há décadas, e se desenvolveram em várias outras frentes. "Ah, mas você está falando da primeira potência mundial!". Sim, mas além de não ter nascido assim (na verdade, nasceu como privada da Inglatera), demonstra que existem opções. E ainda poderia citar tantos outros países europeus, Austrália, Japão...
Isso só reforça como não exploramos bem nossos inúmeros recursos. Como não utilizamos o dinheiro que ganhamos para corrigir problemas graves de moradia, educação, saúde e ao menos reduzir a desigualdade social. Como deixamos às moscas cidades com imenso potencial turístico, que acabam por receber muito menos gente - e menos divisas, conseqüentemente. Como nos baseamos em commodities, produtos de baixo valor no mercado. Investimos percentuais ridículos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, ficando pra trás nas disputas que realmente interessas. E por aí vai. A lista é enorme, mas vocês não precisam pensar muito pra completá-la por mim, não é mesmo?
Vamos linchar o Ibsen? Claro. Vamos queimar vivos os políticos malandros que jogam petróleo na fogueira às vésperas das eleições e teimam em se aproveitar que qualquer brecha na lei, mesmo que seja preciso criá-las, prejudicando uma vez mais e sempre a população? Lógico. Mas vamos discutir também essa nossa dependência absurda. Vamos pensar em alternativas para o dinheiro que entra, e em novas formas de fazer com que ele chegue. E não só para Rio de Janeiro, Espírito Santo ou Rio Grande do Sul, mas para os outros 2e estados da Federação também. Vamos deixar de ser hipócritas, e de fazer vista grossa para algo cada vez mais claro.
O petróleo é nosso. Mas, se continuarmos assim, não vamos ter muita coisa além dele.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Que país é esse?
Estou pra contar isso há duas semanas, mas o blogger não me deixava. Pois aí vai a história do ano - até agora, e das que se podem contar.
Estava caminhando pelo centro de Barna num domingo, com meu amigo-companheiro de grupo do mestrado Javi, el sevillano. Daí vem um jovem, para do nosso lado e:
"Ei! Que país é esse?"
"Ahn?!"
"Em que país a gente tá?"
"Espanha."
"Não é Colômbia?"
"Não, cara, é Espanha."
"Estão seguros?"
"Seguro, cara."
"Ai! Aqui não é a Colômbia! Ah!!!"
E se vai repetindo essa última frase, enquanto olhamos pra ele um pouco espantados e rindo muito. Porque a figura pode não estar na Colômbia, mas seu nariz com certeza não está na Espanha.
Estava caminhando pelo centro de Barna num domingo, com meu amigo-companheiro de grupo do mestrado Javi, el sevillano. Daí vem um jovem, para do nosso lado e:
"Ei! Que país é esse?"
"Ahn?!"
"Em que país a gente tá?"
"Espanha."
"Não é Colômbia?"
"Não, cara, é Espanha."
"Estão seguros?"
"Seguro, cara."
"Ai! Aqui não é a Colômbia! Ah!!!"
E se vai repetindo essa última frase, enquanto olhamos pra ele um pouco espantados e rindo muito. Porque a figura pode não estar na Colômbia, mas seu nariz com certeza não está na Espanha.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Palamós, Girona, Catalunya, España (ou não)
Quer viajar barato? Pergunte-me como.
E a resposta será "com amigos legais que façam aniversário quando você tem disponibilidade de dias e horas e que resolvam passar um dia na casa de veraneio da família". Pois foi exatamente o que aconteceu nesse fim-de-semana. Por isso, no capítulo de hoje da Ponte Elétrica...
Palamós
Sorrio, eu estive em Palamós.
Pré-história
Alexandre acorda às 8h de sexta e vai pra classe de catalão. Está de volta 13h, almoça e vai pro mestrado às 15h30. Tem aula de 17h às 21h e vai pra casa do aniversariante, Alex (o mesmo da foto de umas postagens atrás). Sai às 5h30, vai dormir às 6h - na casa de um casal de amigos - e levanta às 8h para outro dia de mestrado. Tem aula de 9h às 14h, sai e pega a estrada direto para a casa dos pais do seu companheiro de piso, que fazem uma (outra) calçotada. O almoço pesa, mas ele sai de Premià del Mar - onde vivem - às 18h e pega a estrada outra vez, para Palamós.
Período contemporâneo
Alexandre chega às 20h, a tempo de ver o jogo do Barça. Que empata, e cede a liderança pro (maldito) Madrid pelo saldo de gols. Nesse meio tempo chega o dono da casa, sua namorada e mais um casal de amigos, e vamos jantar. E, a partir daqui, posso descrever tudo pra vocês.
Palamós é um povoado de praia lá pras bandas de Girona, cidade distante 1h40 de Barcelona, onde fica um dos aeroportos grandes da província. É pequenininho, tem cara de cidadezinha da costa nordestina com o turismo como única vocação. Mas não decepciona, porque sabe como explorá-lo.
As ruas são limpas e tudo é bem sinalizado. A praia é limpíssima (vi no dia seguinte, porque à noite é escuro - momento Cléber Machado). Os restaurantes são excelentes, tanto que vão ganhar um parágrafo ou dois à parte. Não tem muito o que fazer à noite, ao menos no inverno. Mas isso não importa quando seu plano é viajar pra casa de um amigo em vez de um hostel em Mikonos.
Coincidentemente, todos os (dois) restaurantes que fomos ficam na carrer Mauri Vilar. Sábado à noite, Can Camí (acho que esse é o nome), um "serve-serve-se" de tapas - que ficam em cima da barra do bar. Você pega, come e deixa os palitinhos que vêm cravados nela no seu prato. Na hora de pagar, contam os palitinhos e te cobram. Existem grandes chances de você topar ali com uma galera mais velha bailando flamenco de forma no mínimo esquisita (talvez por estarem meio borrachos). Além do mais, o local é tomado de desenhos pornográficos na parede. Charmosão.
Já o almoço de domingo foi num local todo bonitinho, com pratos regados e atendimento personalizado (meia hora depois de chegarmos, só tinha a gente) por 15 € o menú. Ô, 15 €! Se pensar que um Burger King te sai à uns 8 €, "tá delícia, tá gostoso". Há muito tempo um espaguete à bolonhesa e um peito de frango com molho alioli não descia tão bem.
Pra fechar o domingão com chave de ouro (apesar de ter vindo antes do almoço), fizemos uma trilha por Castell, que, tal qual a África do Sul, fica logo ali. Pena não ter levado a câmera, porque teria feito umas fotos lindas do lugar. Que é lindo. Uma água transparente estilo filme de 007 que você vê ainda melhor quando sobe o morrinho que fica do lado. Tipo o costão de Itacoatiara, só que menos costão e mais morrinho. Aprendi a encontrar aspárragos, vi um cachorro-vaca e a casa de Dalí - que não sei se era realmente dele, mas tem uma porta em diagonal pra entrar e se parece muito um estúdio, mas sem banheiro (talvez ele levasse a história de "cagar no mato" ao pé da letra). Ah, e também aprendi um pouco sobre a história do lugar, já que em cima do morro tem um sítio arqueológico e eles explicam muita coisa bacana numa daquelas placas turísticas gigantes. En català, cla. Espanhol, em segundo plano.
Pois fica a dica. Se você vier morar em Barcelona ou mochilar por mais do que aqueles três dias de turismo Gaudí-Ramblas-Raval-Gótico, comece a procurar uma pessoa legal que te convide pra um final de semana em Palamós, Girona, Catalunya. Ou, se eu não estiver mais aqui, me pague um bilhete de avião que te levo com o maior prazer.
Adendo: Palamós, o time da cidade, tomou de seis do time daqui de El Prat hoje. Visc al Prat! Visc a Catalunya!
E a resposta será "com amigos legais que façam aniversário quando você tem disponibilidade de dias e horas e que resolvam passar um dia na casa de veraneio da família". Pois foi exatamente o que aconteceu nesse fim-de-semana. Por isso, no capítulo de hoje da Ponte Elétrica...
Palamós
Sorrio, eu estive em Palamós.
Pré-história
Alexandre acorda às 8h de sexta e vai pra classe de catalão. Está de volta 13h, almoça e vai pro mestrado às 15h30. Tem aula de 17h às 21h e vai pra casa do aniversariante, Alex (o mesmo da foto de umas postagens atrás). Sai às 5h30, vai dormir às 6h - na casa de um casal de amigos - e levanta às 8h para outro dia de mestrado. Tem aula de 9h às 14h, sai e pega a estrada direto para a casa dos pais do seu companheiro de piso, que fazem uma (outra) calçotada. O almoço pesa, mas ele sai de Premià del Mar - onde vivem - às 18h e pega a estrada outra vez, para Palamós.
Período contemporâneo
Alexandre chega às 20h, a tempo de ver o jogo do Barça. Que empata, e cede a liderança pro (maldito) Madrid pelo saldo de gols. Nesse meio tempo chega o dono da casa, sua namorada e mais um casal de amigos, e vamos jantar. E, a partir daqui, posso descrever tudo pra vocês.
Palamós é um povoado de praia lá pras bandas de Girona, cidade distante 1h40 de Barcelona, onde fica um dos aeroportos grandes da província. É pequenininho, tem cara de cidadezinha da costa nordestina com o turismo como única vocação. Mas não decepciona, porque sabe como explorá-lo.
As ruas são limpas e tudo é bem sinalizado. A praia é limpíssima (vi no dia seguinte, porque à noite é escuro - momento Cléber Machado). Os restaurantes são excelentes, tanto que vão ganhar um parágrafo ou dois à parte. Não tem muito o que fazer à noite, ao menos no inverno. Mas isso não importa quando seu plano é viajar pra casa de um amigo em vez de um hostel em Mikonos.
Coincidentemente, todos os (dois) restaurantes que fomos ficam na carrer Mauri Vilar. Sábado à noite, Can Camí (acho que esse é o nome), um "serve-serve-se" de tapas - que ficam em cima da barra do bar. Você pega, come e deixa os palitinhos que vêm cravados nela no seu prato. Na hora de pagar, contam os palitinhos e te cobram. Existem grandes chances de você topar ali com uma galera mais velha bailando flamenco de forma no mínimo esquisita (talvez por estarem meio borrachos). Além do mais, o local é tomado de desenhos pornográficos na parede. Charmosão.
Já o almoço de domingo foi num local todo bonitinho, com pratos regados e atendimento personalizado (meia hora depois de chegarmos, só tinha a gente) por 15 € o menú. Ô, 15 €! Se pensar que um Burger King te sai à uns 8 €, "tá delícia, tá gostoso". Há muito tempo um espaguete à bolonhesa e um peito de frango com molho alioli não descia tão bem.
Pra fechar o domingão com chave de ouro (apesar de ter vindo antes do almoço), fizemos uma trilha por Castell, que, tal qual a África do Sul, fica logo ali. Pena não ter levado a câmera, porque teria feito umas fotos lindas do lugar. Que é lindo. Uma água transparente estilo filme de 007 que você vê ainda melhor quando sobe o morrinho que fica do lado. Tipo o costão de Itacoatiara, só que menos costão e mais morrinho. Aprendi a encontrar aspárragos, vi um cachorro-vaca e a casa de Dalí - que não sei se era realmente dele, mas tem uma porta em diagonal pra entrar e se parece muito um estúdio, mas sem banheiro (talvez ele levasse a história de "cagar no mato" ao pé da letra). Ah, e também aprendi um pouco sobre a história do lugar, já que em cima do morro tem um sítio arqueológico e eles explicam muita coisa bacana numa daquelas placas turísticas gigantes. En català, cla. Espanhol, em segundo plano.
Pois fica a dica. Se você vier morar em Barcelona ou mochilar por mais do que aqueles três dias de turismo Gaudí-Ramblas-Raval-Gótico, comece a procurar uma pessoa legal que te convide pra um final de semana em Palamós, Girona, Catalunya. Ou, se eu não estiver mais aqui, me pague um bilhete de avião que te levo com o maior prazer.
Adendo: Palamós, o time da cidade, tomou de seis do time daqui de El Prat hoje. Visc al Prat! Visc a Catalunya!
sexta-feira, 5 de março de 2010
quarta-feira, 3 de março de 2010
Fomentando o desemprego
Crise, postos de trabalho sumindo, grana curta. Não importa. Sou a favor de acabar com a "profissão" de crítico.
Profissão entre aspas, mesmo. Ó só: como o próprio nome diz, a função do crítico é criticar - coisa que todo mundo pode fazer, já que costumamos ter opinião sobre tudo. É só pensar que somos 190 milhões de técnicos em ano de Copa, 190 milhões de autores na última semana da novela e 190 milhões de analistas políticos em... bom, não é pra tanto. Mas o importante é que cada um tem a sua opinião, não faz falta que pensem por nós. Por mais que alguns prefiram.
Outro ponto importante: as críticas dos "profissionais" tendem a ser destrutivas. Dificilmente você vai ler "excelente obra, um poço de criatividade" ou "finalmente uma obra inspiradora e que desafia os paradigmas". A não ser que role o famoso jabá. Caso contrário, a chance de ser humilhado, trucidado e mijado - com uma alta dose de ironia - é grande. E, convenhamos, pra destruir o trabalho de um já bastam seus competidores e inimigos em geral.
Além disso, não é necessário que alguém diga o que devemos ou não gostar, o que vale a pena ser visto e o que (ou quem) deve ser queimado. Como deveria ter ficado subentendido há dois parágrafos, gosto é pessoal. Se eu gosto de uma coisa e você não, problema meu. Ou seu. E vice-versa. Mas "eles não têm aquela chispa, aquele quê de inovação e o frescor da nova geração que provoca inquietude"? Pois vá pro inferno, eu curti e ponto final. Vai cagar regra pros seus filhos - se alguém topar ter filhos com uma pessoa tão insuportável como você.
Meu consolo é que essa raça parece ser estéril, tipo cruzamento de cavalo e burro (uma das duas espécies sendo fêmea, claro). E, se não se reproduzem, mantenho a esperança de que um dia eles entrarão em extinção. Sem nenhuma ONG que mantenha um par em cativeiro.
No mais, por que alguém deveria ganhar dinheiro para fazer (mal, ou de má vontade) o que fazemos grátis todo santo dia? Receber para conhecer arte antes dos outros para falar mal e cortar a possibilidade de que as conheçamos? Isso me cheira a uma forma barata (para eles, que ganham pelo "trabalho") de disfarçar a ranzinzez de não ter talento para fazer arte. Aí, o que sobra é falar dela. Destruí-la, na verdade. "Se eu não faço, ninguém faz".
Por mim, iam todos ficar de flanelinha na porta do Caldeirão da Via Show. Ouvindo cover do Soweto a noite inteira.
Profissão entre aspas, mesmo. Ó só: como o próprio nome diz, a função do crítico é criticar - coisa que todo mundo pode fazer, já que costumamos ter opinião sobre tudo. É só pensar que somos 190 milhões de técnicos em ano de Copa, 190 milhões de autores na última semana da novela e 190 milhões de analistas políticos em... bom, não é pra tanto. Mas o importante é que cada um tem a sua opinião, não faz falta que pensem por nós. Por mais que alguns prefiram.
Outro ponto importante: as críticas dos "profissionais" tendem a ser destrutivas. Dificilmente você vai ler "excelente obra, um poço de criatividade" ou "finalmente uma obra inspiradora e que desafia os paradigmas". A não ser que role o famoso jabá. Caso contrário, a chance de ser humilhado, trucidado e mijado - com uma alta dose de ironia - é grande. E, convenhamos, pra destruir o trabalho de um já bastam seus competidores e inimigos em geral.
Além disso, não é necessário que alguém diga o que devemos ou não gostar, o que vale a pena ser visto e o que (ou quem) deve ser queimado. Como deveria ter ficado subentendido há dois parágrafos, gosto é pessoal. Se eu gosto de uma coisa e você não, problema meu. Ou seu. E vice-versa. Mas "eles não têm aquela chispa, aquele quê de inovação e o frescor da nova geração que provoca inquietude"? Pois vá pro inferno, eu curti e ponto final. Vai cagar regra pros seus filhos - se alguém topar ter filhos com uma pessoa tão insuportável como você.
Meu consolo é que essa raça parece ser estéril, tipo cruzamento de cavalo e burro (uma das duas espécies sendo fêmea, claro). E, se não se reproduzem, mantenho a esperança de que um dia eles entrarão em extinção. Sem nenhuma ONG que mantenha um par em cativeiro.
No mais, por que alguém deveria ganhar dinheiro para fazer (mal, ou de má vontade) o que fazemos grátis todo santo dia? Receber para conhecer arte antes dos outros para falar mal e cortar a possibilidade de que as conheçamos? Isso me cheira a uma forma barata (para eles, que ganham pelo "trabalho") de disfarçar a ranzinzez de não ter talento para fazer arte. Aí, o que sobra é falar dela. Destruí-la, na verdade. "Se eu não faço, ninguém faz".
Por mim, iam todos ficar de flanelinha na porta do Caldeirão da Via Show. Ouvindo cover do Soweto a noite inteira.
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