São 5h e ainda estou acordado. É verdade que hoje adiantamos o relógio em uma hora, mas só isso não justificaria eu estar escrevendo. Tampouco posso resumir a volta da minha insônia ao fuso horário - depois de mais de cinco meses em Barcelona, seria algo tão factível quanto o Barrichello dizer que perdeu (mais) uma corrida porque está se acostumando à forma de conduzir da F1.
Sinceramente, tenho sentido saudades do Brasil nas últimas semanas. Mais do que das fronteiras imaginárias que limitam nosso país e não acredito muito, mas sim de tudo o que está contido nelas. A milionésima crise mental que me assola me faz pensar em tudo o que tenho, ou creio que ainda tenho, na minha querida terra.
Nesse momento os vazios são mais vazios, o silêncio grita ainda mais alto, o skype que não toca me deixa mais mudo, o emprego que não tenho aponta o dedo com mais convicção. Aquela ligação besta de cinco minutos pra um amigo faz tanta falta quanto feijão com arroz, a pipoca do cinema me faz salivar, um chope com os que ficaram é um porre de tristeza. E até a felicidade que deveria sentir em pensar em espanhol antes do português na hora de escrever este text me parece uma enorme babaquice.
Pois calhou de eu entrar nos quilométricos túneis do metrô de Barna hoje à noite, indo ver o jogo do Barça, e sentir um pouco de nostalgia extra. No caminho para Joanic (linha 4, amarela) - também conhecido como corredor polonês - havia um cara com toda a pinta de gringo, tocando teclado. A música? Essa! Pra ser sincero, estava bem bosta. Mas foi engraçado ver duas mulheres passando pelo cara e rebolando de leve, brincando com ele - e ver como ele errava as notas depois, e demorava a se reencontrar.
Não dei dinheiro, tanto por estar estragando minhas belas memórias como porque, se fosse pra ajudar alguém, seria um brasileiro. Muy bien, eis que desço um par de escadas e escuto "hoje à tarde a Ponte engarrafou, e eu fiquei a pé...". O sotaque era inconfundível: brasileiro!
Passei, encontrei um euro na carteira e, mesmo correndo o risco de inflacionar o mercado, deixei a moeda no chapéu estilo quipá-baiano-da-vovó de um tiozinho com dread. Sem pedir troco. Ele pára, me olha e diz "muy amable". Achei legal e respondi "tá maneiro, brasileiro, você merece". Eis que ele abre um sorriso e, mal eu viro e volto ao meu caminho, ele manda "então, tá". E me sai com isso aqui. Com uma voz bem melhor que a do papai da Bossa Nova.
Admito que o dia não foi exatamente como esperava, depois de me levantar com boas sensações e um sorriso enorme no rosto. Mas isso me fez um bem como poucas coisas - inclusive as que esperava - teriam conseguido. Por alguns momentos, isso aqui (ô, ô) foi um pouquinho de Brasil (iá, iá).
Sim, com saudade e sentindo muito algumas coisas. Mas, sim, feliz.
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2 comentários:
Difícil ser brasileiro, mais difícil ser brasileiro fora do Brasil, não é mesmo?
Beijinhos
Maneiro! Lambada fazia um sucesso sinistro na Rússia tb. Se bobear faz até hj. Mas essa saudade é bem legal. Eu às vezes procuro também alguns lugares no Rio que me façam sentir mais perto de Moscou. Procuro porque ainda não encontrei um russo cantando no metrô daqui. :D
abs
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