Depois do BBB, não se fala em outra coisa nos jornais brasileiros - ou cariocas, pelo menos. A famigerada "emenda Ibsen", que causa revolta, indignação, pânico e até um chororô bem suspeito e botafoguense (esse me pareceu um pleonasmo legal) no Cabralzinho.
Sim, considero uma emenda sem sentido e aproveitadora, que muda as regras do jogo após terem sido estipuladas. Tal qual as viradas de mesa que trouxeram o nensinho de volta à elite. Mas...
Bom, antes vale ressaltar que esta emenda tem toda a pinta (sendo gentil) de manobra política oportunista em ano de eleição. Além do mais, qual o sentido do Acre, por exemplo, receber dinheiro gerado no RJ ou ES? O que fez o Acre pra merecer esse dinheiro, forneceu mão-de-obra? Arriscou o meio-ambiente local? Atraiu empresas? Convenhamos, o Acre nem existe! Mas...
Outra coisa, ainda. Retirar dinheiro de onde ele foi gerado, e de forma relativamente ilegal (sendo gentil outra vez), abre precedentes para mudar as regras do jogo em qualquer situação e/ou assunto. O povo brasileiro já deve estar acostumado com isso, apesar de eu ter a nítida impressão de que a cada dois anos se esquece do que sofreu durante o período entre eleições. Mas...
Mas vamos ver a questão por outro lado. Não pelos políticos aproveitadores como o Ibsen Pinheiro, que pretende marcar pontos no seu estado (RS) e pro seu partido (PMDB) às custas da legalidade, e muito perto das urnas. Tampouco pela (minha) crença de que a redistribuição de royalties é, acima de qualquer coisa, redistribuição de verbas pro bolso de muita gente. Roubalheira. Pilantragem. Mamata. Picaretagem. Como preferirem, não faltam palavras pra definir o que é isso.
Acontece que ninguém (pelo menos que eu tenha visto até agora) vê o assunto por outro ângulo importante que ele também representa. Essa guerra política mostra a dependência que temos, o Rio e todo o país, do petróleo. Uma dependência perigosa, que pode se transformar em um gordo e moribundo cavalo manco dentro de algum tempo. Sinto lembrar (na verdade, não sinto, não) que esta é uma energia não-renovável, e que muitos outros tipos estão sendo estudados e desenvolvidos. E, cedo ou tarde, tomarão seu lugar.
E tem um ponto ainda mais importante e triste nisso tudo. Como pode um país do tamanho do Brasil, com a quantidade de recursos e opções que tem o Brasil, lutar à morte pelo dinheiro do petróleo como se fosse a única fonte de renda? Como pode um Estado como o Rio dizer que não terá condições de cumprir com Mundial e Olimpíadas sem isso? E produtos industrializados? E serviços? E turismo? E tc?
Barcelona deu um giro de 180 graus (360 é voltar pro mesmo lugar, crianças, aprendam de uma vez por todas) para - e com - as Olimpíadas sem uma gota de petróleo. "Ah, mas você está falando da Espanha!". Sim, a prima pobre da Europa junto com Portugal. Vale citar também que os EUA poupam suas reservas de petróleo há décadas, e se desenvolveram em várias outras frentes. "Ah, mas você está falando da primeira potência mundial!". Sim, mas além de não ter nascido assim (na verdade, nasceu como privada da Inglatera), demonstra que existem opções. E ainda poderia citar tantos outros países europeus, Austrália, Japão...
Isso só reforça como não exploramos bem nossos inúmeros recursos. Como não utilizamos o dinheiro que ganhamos para corrigir problemas graves de moradia, educação, saúde e ao menos reduzir a desigualdade social. Como deixamos às moscas cidades com imenso potencial turístico, que acabam por receber muito menos gente - e menos divisas, conseqüentemente. Como nos baseamos em commodities, produtos de baixo valor no mercado. Investimos percentuais ridículos em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, ficando pra trás nas disputas que realmente interessas. E por aí vai. A lista é enorme, mas vocês não precisam pensar muito pra completá-la por mim, não é mesmo?
Vamos linchar o Ibsen? Claro. Vamos queimar vivos os políticos malandros que jogam petróleo na fogueira às vésperas das eleições e teimam em se aproveitar que qualquer brecha na lei, mesmo que seja preciso criá-las, prejudicando uma vez mais e sempre a população? Lógico. Mas vamos discutir também essa nossa dependência absurda. Vamos pensar em alternativas para o dinheiro que entra, e em novas formas de fazer com que ele chegue. E não só para Rio de Janeiro, Espírito Santo ou Rio Grande do Sul, mas para os outros 2e estados da Federação também. Vamos deixar de ser hipócritas, e de fazer vista grossa para algo cada vez mais claro.
O petróleo é nosso. Mas, se continuarmos assim, não vamos ter muita coisa além dele.
quinta-feira, 18 de março de 2010
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Um comentário:
Alguns comentários: sim, a mobilização por aqui está enorme, com vários abaixo assinados, outdoors, banners em toda a cidade...
Por outro lado, a passeata de manifestação foi encerrada com show de Sorriso Maroto, Belo e Os Hawaianos. Dá pra levar a sério?
Por último, gostei do cunho ambiental do comentário, hein? rs.
Beijos!
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