quarta-feira, 7 de abril de 2010

Por favor, chuva ruim...

Tão longe, tão perto. Meu incompleto ano e meio na Europa não apaga da minha memória, por pior que ela seja, uma vida inteira passada no Rio de Janeiro, com suas incontáveis chuvas de verão que pararam a cidade. Como aquela de 1996, que acabou com a casa de amigos e desconhecidos em Jacacity, terra de ninguém, matou gente e transformou o bairro - e a cidade - num filme B de terror. De Bollywood.

Pois eis que vejo nos jornais uma outra chuva destruindo a cidade. Desta vez não foi no verão ou durou poucas horas, mas destruiu famílias, lares e o que mais estava no caminho. Certo, Alexandre, e...?

E não acredito que ainda tenha gente justificando que nunca havia chovido assim em abril, que caiu uma quantidade de água maior que o previsto para o mês etc. E se tivesse chovido assim em janeiro, a cidade estaria preparada? As galerias pluviais dariam conta? O esgoto não invadiria as casas? A defesa civil, CET-Rio, prefeitura e governo tomariam as providências devidas, evitariam estragos maiores e tragédias?

Não acredito que ainda existe gente que cai nessa. Ou melhor, infelizmente acredito. Porque nosso povo continua alienado, mal informado, à margem de decisões políticas importantes - e sem a menor preocupação com sua memória política. Continua marionete de qualquer um com um pouco mais de malandragem e menos caráter. Segue explorado, deixado de lado e tratado a pão e circo. E parece gostar.

Sim, é falta de educação. E cultura. Mas também não me parece muito preocupado. "Ah, choveu? Vamos surfar na rua!". Acho legal levar tudo numa boa, assim como relaxar diante do que não tem volta. Eu mesmo fiz, e faço, piadas com o assunto. Mas poderíamos fazer muito mais se déssemos um pingo de atenção para o que está por trás de mais uma catástrofe. Algo inaceitável para um país como o nosso, e ainda menos para a sede da final do Mundial de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Daqui a uns meses vamos às urnas. Por mais crédulo, esperançoso e bobo que seja, vejo pouco factível uma conscientização da população. Porque, se fizer sol, vai ter muita gente na praia. Porque as propostas dos políticos - dos que têm, claro - vão ficar pegando poeira virtual num cantinho escuro da Internet, com uns poucos cliques de vez em quando. Porque basta um pouco de cimento e tijolo pra o miserável escolher um candidato - e não dá pra culpar quem não tem nada, ou consegue o pouco que tem à base de sofrimento diário. Falo e culpo, mais que todos, nós que temos - em teoria - educação formal e discernimento para não cairmos nos mesmos erros outra vez.

A chance de vermos manchetes deste ano requentadas em 2011 é enorme. Mas fazer o quê, se essa chuva ruim cisma em cair forte na cidade maravilhosa?

ps: eu poderia resumir tudo isso citando essa matéria. Mas precisava desabafar. De novo.

2 comentários:

Al Mota disse...

"por favor chuva ruim" é de alguma música, certo?

e sim, é maneiro tirar uma onda numa prancha de surf quando é só mais uma enchentezinha que inunda o baixo gávea, mas se eu fosse um dos sujeitos que passou 12h esperando um ônibus e visse um pirralho de wakeboard passeando na lagoa, provavelmente teria varado alguma coisa na cabeça dele.

Cá disse...

Foi muito triste mesmo o que aconteceu... tantas pessoas sem casa, que não tinham nem noção do que estava acontecendo. E na hora que o candidato a vereador for fazer campanha, vai oferecer mais sacos de cimento e tijolos pros caras subirem suas casas nesses mesmos lugares... ai, ai.

Beijos!