domingo, 19 de setembro de 2010

Um domingo desses

Você olha no calendário e percebe que passou daquele dia que não se lembra mais. Já está na hora de levantar, e pra isso é preciso passar por debaixo da escada. Três passos à frente, um gato preto muda de roupa e tira os pêlos do bigode diante do espelho enquanto prepara um café com leite. Forte. Muito café.

No corredor há uma passagem que leva ao universo paralelo da sua mente, que está aberta a novas possibilidades mas cobra pedágio. Não custa tanto, mas você está com pouca grana. Resolve vender um pouco de tempo pra se capitalizar, mas tempo nem sempre é dinheiro. Às vezes, uma boa história toma tempo e vale muito mais. Ou menos. Isso, mais ou menos.

Olhando por trás das lentes do monóculo, existem oito pares de olhos vermelhos e famintos. Quem tem fome tem pressa, e você decide correr. Com, contra, para, ainda não sabe. Nem se importa. As portas passam muito rápido, e vão se fechando conforme janelas se abrem. Algumas oferecem uma nova brisa, outras tentam acertar sua cabeça enquanto acelera o passo. Tudo é muito nada nesse conjunto de possibilidades solitárias.

Você se sente sozinho. Você se senta sozinho. Logo começam a aparecer pessoas à sua volta, vozes distantes que fazem eco aos seus pensamentos. Quem traz é o vento, ou o garçom. Elas vêm do fundo do copo metade cheio ou metade vazio. Melhor ver sempre metade cheio.

Daí se enche e resolve começar tudo de novo. Olha no calendário e percebe que passou daquele dia que não se lembra mais. Mas você já está de pé.

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