Caminhando pelo galho da videira, a uva tropeça no cabo do arado encostado na árvore, deixado displicentemente por um dos empregados da fazenda, e cai em cima de uma erva-daninha. Rasga sua pele e abre a carne, deixando o caroço à mostra. Ela sangra, atraindo formigas. Mas, antes de que os sedentos insetos chegassem ao delicioso suco dos deuses beberrões, seu Toshiro - ou Takahiro, ou Matsushiro - encontra o pequeno corpo estendido no chão e o leva para a fazenda.
Lá, coloca o fruto do seu trabalho anual numa cesta, junto de outras que sofreram o mesmo corte (ou cortes devido ao mesmo tipo de acidente, ele nunca soube ao certo), e pisa em cima de todas. Parece um grande shiatsu frutal coletivo, mas é só ganância. Seu Japa, como é conhecido em Santa Bárbara do Oeste, está preparando o sumo para engarrafar e vender ao bar mais pé-sujo da cidade.
Assim é fabricado o famoso Sangue de Boi.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Toca Raul!
Quando eu tinha uns dez, onze anos, comecei a viajar mais com pais e irmão. De carro, sempre, porque pai gosta de dirigir e todo mundo curte ver paisagem. E também porque não rola aeroporto na região Serrana, ou Ubá, ou Brusque, ou etc.
Ao mesmo tempo, aquela foi a época em que o maravilhoso e inovador compact disc, vulgo CD, chegou aqui em casa. Veio num combo som estéreo-vizinhos-curiosos. E mais um monte de cantores e bandas, alguns de talento duvidoso.
Por algum motivo que não faço a menor idéia, com aquela idade eu comprei um CD do Raul Seixas. Por algum motivo ainda mais inexplicável, gravei numa fita cassete e levei numa das viagens que fizemos juntos, pra Friburgo. E os pais, que até então curtiam Trio Irakitan e Tina Turner, prestaram atenção na letra e passaram a pedir Raul sempre que pegávamos a estrada.
Corta para 16 anos depois. Eu e Alan crescidos, já tendo saído e voltado do país umas quantas vezes, pai e mãe já sabendo que em breve saio de casa de novo, voltamos a pegar a estrada. Sim, fomos pra Petrópolis, que é ainda mais logo ali que a África do Sul. Mas foi um belo passeio de dia e meio, com direito a susto familiar, ataque epiléptico de terceiros como pré-espetáculo no Palácio Imperial, fotos com uma Olympus EES-2 recém-encontrada num canto qualquer das coisas do pai e, acima de tudo, a querida união familiar revivida. Com um bônus:
Eu também prefiro ser essa metamorfose ambulante.
Mais e mais coisas boas estão de volta. Toca Raul!
nota: CD, som estéreo, K7, câmera fotográfica analógica; estou ficando velho.
Ao mesmo tempo, aquela foi a época em que o maravilhoso e inovador compact disc, vulgo CD, chegou aqui em casa. Veio num combo som estéreo-vizinhos-curiosos. E mais um monte de cantores e bandas, alguns de talento duvidoso.
Por algum motivo que não faço a menor idéia, com aquela idade eu comprei um CD do Raul Seixas. Por algum motivo ainda mais inexplicável, gravei numa fita cassete e levei numa das viagens que fizemos juntos, pra Friburgo. E os pais, que até então curtiam Trio Irakitan e Tina Turner, prestaram atenção na letra e passaram a pedir Raul sempre que pegávamos a estrada.
Corta para 16 anos depois. Eu e Alan crescidos, já tendo saído e voltado do país umas quantas vezes, pai e mãe já sabendo que em breve saio de casa de novo, voltamos a pegar a estrada. Sim, fomos pra Petrópolis, que é ainda mais logo ali que a África do Sul. Mas foi um belo passeio de dia e meio, com direito a susto familiar, ataque epiléptico de terceiros como pré-espetáculo no Palácio Imperial, fotos com uma Olympus EES-2 recém-encontrada num canto qualquer das coisas do pai e, acima de tudo, a querida união familiar revivida. Com um bônus:
Eu também prefiro ser essa metamorfose ambulante.
Mais e mais coisas boas estão de volta. Toca Raul!
nota: CD, som estéreo, K7, câmera fotográfica analógica; estou ficando velho.
sábado, 20 de novembro de 2010
Fui indo, fui indo, fui indo...
"Onde quer que vá, vá com todo o coração."
Confúncio
(anotem aí: a frase saiu desse (excelente) blog com sotaque lusitano)
Nos últimos oito anos eu mudei muitas vezes. Duas de país, com duas viagens extras. Deixei o trabalho por três oportunidades, quase larguei propaganda em pelo menos dois momentos da minha vida. Resumindo, um sobe-e-desce bizarro.
Daqui a pouco rola aquele combo fim-de-ano-planos-aniversário. Vou completar 28 verões boladões, com tantas e tantas coisas a comemorar. E muitas outras por fazer. Engraçado que, uns anos atrás, meus projetos eram todos carinhosamente pensados pra uma vida a dois planejada e desejada. Isso não existe mais. Ela não existe mais. Mas finalmente eu posso falar sobre o assunto. Sinal de que a vida está voltando ao normal.
Pode descansar em paz, seu Confúncio, porque eu não sei onde vou mas vou com todo o coração. Até o final.
Confúncio
(anotem aí: a frase saiu desse (excelente) blog com sotaque lusitano)
Nos últimos oito anos eu mudei muitas vezes. Duas de país, com duas viagens extras. Deixei o trabalho por três oportunidades, quase larguei propaganda em pelo menos dois momentos da minha vida. Resumindo, um sobe-e-desce bizarro.
Daqui a pouco rola aquele combo fim-de-ano-planos-aniversário. Vou completar 28 verões boladões, com tantas e tantas coisas a comemorar. E muitas outras por fazer. Engraçado que, uns anos atrás, meus projetos eram todos carinhosamente pensados pra uma vida a dois planejada e desejada. Isso não existe mais. Ela não existe mais. Mas finalmente eu posso falar sobre o assunto. Sinal de que a vida está voltando ao normal.
Pode descansar em paz, seu Confúncio, porque eu não sei onde vou mas vou com todo o coração. Até o final.
domingo, 14 de novembro de 2010
- Sonny Rollins
- Fiuk.
- George Benson.
- Mara Maravilha.
- Elke Maravilha.
- Isso é uma clara demostração de que sua teoria das chapinhas estelares possui uma grande falha tectônica quanto à argumentação da realidade aumentada por Tadalafil, meu amigo.
- Sua retórica transversa retomada de acordo com a claridade xenófoba do microcosmos não condiz com seu pós-doutorado virtual em macroenergia freudiana medieval, e você sabe muito bem disso!
- Gente, calma, assim vocês vão provocar um desequilíbrio universal desenfreado que, em justaposição e contrapartida, será prejudicial ao carinho dos bebês de proveta. Será que nada mais importa pra vocês?
- Não. (rá tá tá tá tá tá tá tá tá tá tá tá)
- Com todo o respeito, meu caro, mas balas de tamarindo chacoalhadas neste recipiente metálico não matam ideais de doce de leite com clima de montanha.
- Então vou embora, que amanhã eu trabalho.
- George Benson.
- Mara Maravilha.
- Elke Maravilha.
- Isso é uma clara demostração de que sua teoria das chapinhas estelares possui uma grande falha tectônica quanto à argumentação da realidade aumentada por Tadalafil, meu amigo.
- Sua retórica transversa retomada de acordo com a claridade xenófoba do microcosmos não condiz com seu pós-doutorado virtual em macroenergia freudiana medieval, e você sabe muito bem disso!
- Gente, calma, assim vocês vão provocar um desequilíbrio universal desenfreado que, em justaposição e contrapartida, será prejudicial ao carinho dos bebês de proveta. Será que nada mais importa pra vocês?
- Não. (rá tá tá tá tá tá tá tá tá tá tá tá)
- Com todo o respeito, meu caro, mas balas de tamarindo chacoalhadas neste recipiente metálico não matam ideais de doce de leite com clima de montanha.
- Então vou embora, que amanhã eu trabalho.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Castelos de areia...
...às vezes se desfazem no mar.
And it really didn't have to stop, it just kept on going.
Clássico é clássico (e vice-versa).
And it really didn't have to stop, it just kept on going.
Clássico é clássico (e vice-versa).
sábado, 6 de novembro de 2010
Vingança
Tem vezes que vale muito a pena.
Foi pênalti, Arnaldo? Eu perguntei ao Caio e ele tem dúvidas.
Foi pênalti, Arnaldo? Eu perguntei ao Caio e ele tem dúvidas.
Hope you guess my name
...aí o Alexandre entra no blogger cheio de idéias e dá de cara com "666 postagens" na página inicial. Analisando a coincidência e possíveis sinais, decide deixar o texto pra depois e prestar homenagem a uma de suas bandas preferidas.
Melhor fazer isso que bancar o sabido e fazer cagada. "Malandro que é malandro, não é malandro."
"Been around for a long, long year". Queria ter voltado pra casa em 1972.
Melhor fazer isso que bancar o sabido e fazer cagada. "Malandro que é malandro, não é malandro."
"Been around for a long, long year". Queria ter voltado pra casa em 1972.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
O sexy e plagiado selo Procel
Com a casa em obras, o pai resolveu mexer em coisas até então intocáveis. Algo que não faz o menor sentido, já que tudo numa casa pode ser mudado. Mas a tradição (também conhecida como cisma) impera em vários aspectos da família. A zebra ficou por conta do ar-condicionado.
Os antigos eram realmente antigos. Um, inclusive, deve ter chegado com a Telefunken que, até um tempo atrás, só sintonizava bem a Globo, e o SBT com mais fantasmas que Poltergeist. A mesma TV que era usada com o Atari que eu tinha quando pequeno. O caso é: já que era pra mudar, que fosse mudar ou... mudar de vez. De uma tacada só, três aparelhos chegaram pela entrega da (péssima) Americanas.com.
Como o pai não pode pegar peso, coube a mim e ao Alan subir com eles e pôr no lugar dos antigos. Foi então que percebi o quanto a humanidade evoluiu. Porque trazer os eletros novos foi fácil, me senti o Huck Hogan. Mas descer com os outros... Sinceramente, quem diz que pra baixo todo santo ajuda nunca teve que carregar um ar-condicionado antigo. Eles pesam mais que a Preta Gil, certeza que eram projetados como método moderno de tortura. Porque ninguém consegue levar o trambolho no braço numa boa. Às vezes, pra ser sincero, parecia que eu e meu irmão éramos pouco. As peças de plástico dos novos, que pai e mãe tanto reclamam que "são vagabundas, vão fazer o troço durar pouco" etc têm exatamente a mesma serventia das feitas de metal, perfeitas pra quem sente aquela incontrolável necessidade de uma vacina antitetânica.
Ou seja, o homem precisou de décadas pra perceber que não é a maldita parte externa que faz dos eletrodomésticos bons aparelhos, mas sim a interna. Gastamos recursos à toa. E ainda damos trabalhos pra filhos legais que pretendem poupar a saúde dos pais, ainda que isso signifique um projeto de hérnia de disco antes dos 40 anos.
---
Ahan. O "sexy e plagiado selo Procel". Faltou dizer que, das três novidades papáticas (palavra que significa "do pai" - sim, sou um natoneologista), a única que não tomou lugar foi a do meu quarto. Como sempre. Um, porque é o único que fica no alto e isso dificulta a troca. Dois, porque qualquer coisa que dificulte o que quer que seja vira assunto pra depois, aqui em casa. Vulgo rodei.
Enquanto o ar fica no chão do cafofo me olhando com um irritante ar de deboche, sou obrigado a encarar o selo do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Um smiley dividido ao meio, o que responde à parte do plágio. Com a metade esquerda dormindo sorridente, como se estivesse no meio de um sonho erótico.
Pelo menos esse ar-condicionado vai poupar energia. Afinal, eu sei que ele não vai ser trocado tão cedo.
Os antigos eram realmente antigos. Um, inclusive, deve ter chegado com a Telefunken que, até um tempo atrás, só sintonizava bem a Globo, e o SBT com mais fantasmas que Poltergeist. A mesma TV que era usada com o Atari que eu tinha quando pequeno. O caso é: já que era pra mudar, que fosse mudar ou... mudar de vez. De uma tacada só, três aparelhos chegaram pela entrega da (péssima) Americanas.com.
Como o pai não pode pegar peso, coube a mim e ao Alan subir com eles e pôr no lugar dos antigos. Foi então que percebi o quanto a humanidade evoluiu. Porque trazer os eletros novos foi fácil, me senti o Huck Hogan. Mas descer com os outros... Sinceramente, quem diz que pra baixo todo santo ajuda nunca teve que carregar um ar-condicionado antigo. Eles pesam mais que a Preta Gil, certeza que eram projetados como método moderno de tortura. Porque ninguém consegue levar o trambolho no braço numa boa. Às vezes, pra ser sincero, parecia que eu e meu irmão éramos pouco. As peças de plástico dos novos, que pai e mãe tanto reclamam que "são vagabundas, vão fazer o troço durar pouco" etc têm exatamente a mesma serventia das feitas de metal, perfeitas pra quem sente aquela incontrolável necessidade de uma vacina antitetânica.
Ou seja, o homem precisou de décadas pra perceber que não é a maldita parte externa que faz dos eletrodomésticos bons aparelhos, mas sim a interna. Gastamos recursos à toa. E ainda damos trabalhos pra filhos legais que pretendem poupar a saúde dos pais, ainda que isso signifique um projeto de hérnia de disco antes dos 40 anos.
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Ahan. O "sexy e plagiado selo Procel". Faltou dizer que, das três novidades papáticas (palavra que significa "do pai" - sim, sou um natoneologista), a única que não tomou lugar foi a do meu quarto. Como sempre. Um, porque é o único que fica no alto e isso dificulta a troca. Dois, porque qualquer coisa que dificulte o que quer que seja vira assunto pra depois, aqui em casa. Vulgo rodei.
Enquanto o ar fica no chão do cafofo me olhando com um irritante ar de deboche, sou obrigado a encarar o selo do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Um smiley dividido ao meio, o que responde à parte do plágio. Com a metade esquerda dormindo sorridente, como se estivesse no meio de um sonho erótico.
Pelo menos esse ar-condicionado vai poupar energia. Afinal, eu sei que ele não vai ser trocado tão cedo.
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