quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Bom exemplo

Saio de casa às 5:30h, corro para o ponto de ônibus e ele passa direto quando eu estava chegando. Sei que o próximo deve demorar uns 15 minutos, mas não reclamo. Ao meu lado há um jovem de uns 13 anos, agasalhado e com cara de sono. Ele deve estar tão cansado e chateado quanto eu e nem se manifestou. Sou um homem solidário e falo uma besteira qualquer sobre o transporte, o motorista e sei lá mais que coisas. Ele nem se manifesta. Na verdade, nem olha para minha direção. Tudo bem, se não quer falar, não fala.

O ônibus demora a passar, sei que vou perder a hora para o trabalho. Não aguento o silêncio, tento puxar assunto outra vez. Dessa vez um pouco mais alto:

"Ainda bem que tenho todo o tempo do mundo pra ficar aqui no ponto, esperando a boa vontade deles..."

E mais uma vez, silêncio absoluto. "Você não fala, rapaz?", pergunto, já que não gosto de ser ignorado. Minha resposta é uma pergunta - "você tem cigarro?".

"Não". Seco assim. Era um absurdo um moleque de 13 anos me pedir cigarro. E antes das seis da manhã! Como pode isso, "cigarro a essa hora, garoto? Quantos anos você tem?". "Que diferença faz? Só quero um cigarro, se não tem deixa pra lá". "E desde quando você fuma, só por curiosidade?", "cigarro desde os 12, maconha a um mês. Por quê? É importante, você é milico, que que tem a ver comigo?"

Não consigo responder nada mais. Como pode alguém tão novo fumar cigarro e maconha, e ainda falar tão abertamente, como se fosse uma coisa normal? Talvez ele não saiba dos males que isso causa, talvez nem se importe. Mas quando vejo um moleque de 13 anos já fumando assim, creio cada vez menos que o mundo tenha jeito. Quando penso em como as pessoas estão permissivas, em como estão esquecendo o verdadeiro significado das coisas da vida, dos valores, da moral, sinto uma tristeza do tamanho do problema que todos fingem que não existe.

Resolvo ir para casa, mas antes dou uma lição no pequeno perdido. "Você devia se envergonhar disso, rapaz... Você e sua geração deveriam o futuro do nosso país, deveriam ditar as regras para que a gente evoluisse e chegasse a algum lugar. Mas pessoas como você são incapazes até de demonstrar um mínimo de respeito pelos mais velhos. Tenho pena de vocês." Pronto, está dado o bom exemplo, e viro às costas ao mesmo tempo em que escuto o seu "vai pro inferno!". Ignoro. Volto para casa, ligo para o trabalho e digo que não posso ir, que acordei doente. Desligo, enrolo meu baseado e dou um tapa para esquecer os problemas do mundo.

Essa nova geração está perdida mesmo.

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