sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Hoje é dia de Brasil

Nada de Espanha hoje. Ao menos em teoria, já que minha memória equivale a um 286 com defeito de fabricaçao. Tudo que quero falar diz respeito ao nosso querido e confuso país.

Primeiro que ontem, depois de meses e meses aqui, consegui enfim falar com amigos do Brasil. Foi aniversário do fiote goiano (André, para quem nao saiba), e sabia que estaria todo mundo lá. Passei perto, mas falei com ele, fiote cineasta, fiote cafético e seu irmao gêmeo de voz. Faltou o fiote flamenguista, mas pelo que soube seu ritmo anda frenético, o que o tira de casa por muito tempo. Só falta eu voltar e encontrar fiotinhos seus pela cidade...

O caso é que matei mais um pouco da saudade do país. Além deles já falei com Rê (duas vezes!), a mae do Márcio e Dioguinho. Ainda falta muita gente, mas nao me critiquem. Pensem que ligo sempre de madrugada, num frio do cao, de orelhoes espalhados pela cidade - que estao sempre longe da minha casa graças à maldita Telefónica - e em moedas. De euros. O que dificulta um pouco mais ainda muito a açao.

Sim, e como nao podia deixar de ser falo com minha pequena e seus pais e meus pais e Alan e minha família como um todo. A freqüência vareia, mas o importante é poder me sentir um pouco mais próximo dos que amo e estao longe de mim, e que devem sentir menos do que eu por estarem juntos. É dose estar separado. Ainda bem que fiz amizades boas aqui, senao teria surtado.

Aliás, ontem falei com Carol. E meus pais. E fiquei com pena de nao falar com meu irmao, posto que soube que ele gabaritou português na UFF e está na segunda fase, ficou em segundo no colégio (segundo... perdendo pra menina... No Xou da Xuxa isso valeria um ponto a mais para elas) e foi homenageado pelo Khaled, que molhou os bigodes de emoçao. O que, aliás, deve ser punido pelos muçulmanos, porque homens nao choram. Ele (árabe, nao meu irmao) vai ficar sem quibes neste fim de ano.

E Alan, como nao podia deixar de ser, parabéns. Mais uma vez. Quando chegar aí chutarei longa e demoradamente o seu saco.
***
Mas nem tudo sao flores no país. Ontem li uma estatística sobre os índios do país, que estao se multiplicando em áreas urbanas. Hoje leio que os índios estavam sendo retirados de uma terra que haviam invadido quando os fazendeiros queimaram as casas que ainda estavam deixando, como provocaçao.

Por que, entao, nao pagamos uma indenizaçao aos índios por termos expulsado todos de suas terras? Imagino que eles nunca tenham pensado em colocar uma açao na justiça por nos metermos na Amazônia, por desmatar e destruir onde viviam há séculos, por incorporar doenças desconhecidas a eles em suas vidas - e matá-los com gripe, por exemplo -, por pegarmos tudo de precioso em troca de espelhinhos e álcool. Nao me lembro de ter estudado, ou de ter visto alguma vez, que quando chegaram aqui os portugueses troxeram um advogado e assinaram um contrato pela compra dos hectares onde estavam. Nao me acordo de ter visto nenhuma documentaçao de cessao de terras. Nao me lembro de ter escutado nenhum índio pedindo, na língua deles ou na "nossa", pelamordonossodeus para que pudessem vir para as cidades, trabalhar de peao-de-obra e empregada e morar em favelas. Isso quando trabalham e tem favelas para morar.

Entao onde está a justiça? Onde é que fica os direitos do homem, da criaça e do adolescente, direitos iguais para todos os cidadaos brasileiros, direito de acesso à terra, saúde e todos os blablablas que a gente escuta em época de eleiçao? Onde entram os direitos humanos, as ONGs, a compaixao, a preocupaçao com os problemas contemporâneos e o que mais que seja que escutamos todo final de ano na Globo e dos artistas, quando vao falar sobre seus novos projetos, ou de empresários depois de serem sequestrados? Vao para o inferno, só acredito que há alguém preocupado quando alguém realmente fizer alguma coisa para mudar o quadro.

E minha revolta pode até ser pela ligaçao que tenho com meu passado recente desconhecido, mas pouco me importa. Sou neto de índio e sinto por eles, que sinto como se fosse comigo. E, na realidade, é.
***
Leio também sobre a greve dos professores das federais, e leio que o seu Fulano do MEC reclamou que a culpa é da galera do Andes que é do psol e do pstu. Nao duvido nada, esses imbecis (excluindo Chico Alencar) só atrapalham tudo. E, se pudesse resumir tudo em um nome, seria Heloísa Helena. Ah, é, posso. A culpa é da gralha vermelha histérica e aproveitadora da Heloísa Helena. Morte a ela.

Nao, nao prego que ela morra e nem pretendo fazer nada, antes que alguém me acuse de fazer alguma coisa. Isso é força de expressao. Mas que a culpa é dela, isso é.

E leio também (sim, leio muito) que o PSDB e o PFL estao atrasando a votaçao para a criaçao da lei para as florestas sustentáveis. Mas é claro que o nome dos partidos apareceu uma mísera vez, e muito rápido, no Globo. Eles estavam muito preocupados em queimar o filme do Lula enquanto a eleiçao se aproxima. Mas que fique registrado que o desenvolvimento do país atrasa mais e mais graças à falta de vontade real em fazer o que se deve. E a direita tem grande culpa nisso. Mas isso nao importa para o Globo.

Dica: leiam outros jornais também. Ou pensem mais, pelo menos.
***
Para fechar a Hora do Brasil de hoje, leio que César Maia havia vetado a lei que permitia o município de processar por "dano à imagem da cidade, perturbação da ordem pública e perda de arrecadação, qualquer pessoa que for detida e autuada fazendo tumulto, praticando ou incitando a violência em casas noturnas", e que o veto foi derrubado. Bad, bad mayor, no votes for you.
***
Ah, e nada de "til" na postagem de hoje, porque estou usando Linux e ele nao aceita o atalho para tal acento. E é óbvio que nao ia ficar procurando na net como se faz. Mas sei que vocês entenderam.

E a todos que tiveram a paciência de ler até o final e se maravilharam com inúmeros três ou quatro textos sobre nossa pátria amada, Brasil, bom final de semana. Beijos e abraços em seus coraçoezinhos quentes de sol, enquanto pego 4 graus aqui.

Nenhum comentário: