A não ser que vocês leiam meus textos em voz alta, o que seria um pouco estranho, a Ponte é um exemplo de silêncio. Como sua professora deve ter ensinado no primário, um blog é pra se fazer leitura silenciosa.
Silêncio, às vezes, é bom. Acalma e ajuda a escutar as vozes dentro da sua cabeça. Nada a ver com esquizofrenia, mas com consciência. Momentos sem ouvir gente tagarelando no seu ouvido também são bons pra perceber que nem sempre outras pessoas opiniões são bem-vindas.
Infelizmente, o silêncio tem seu lado ruim. Aquela história de que "quem cala, consente". Ou a impressão de descaso, desprezo, ignorância. Silêncios desse tipo são muito prejudiciais. Fazem você notar coisas sopradas dentro da sua orelha que passariam despercebidas caso algumas pessoas marcassem presença ao seu lado.
Acabo de ver Carne trêmula, que por algum motivo me lembrou Lua de fel. Não sei o que me levou a escrever esse texto. Talvez, o tesão dos seus personagens em dizer/ouvir coisas que machucam, ou experimentar o sofrimento para se redimir de possíveis culpas. Exatamente o oposto do que acredito e quero pra mim. Por todas essas coisas, renuncio oficialmente à pressão mental que cedo ou tarde me levaria a um derrame sentimental. Vou tentar, pelo menos. Mas com vontade real de mudar.
Se é pra ser assim, assim será.
Outras músicas também serviriam, mas me duele que no estés y tú te vas. Sendo que não espero nada.
Ainda em viagem e ainda viajando, vejo quanta coisa está mudando. Ou já mudada. Ou ainda por mudar. Boas memórias por um lado, sentimentos tristes por outro. Chato ver que gente que eu gostava tanto está contribuindo pra isso.
Às vezes, compensa deixar certas coisas de lado. Enfim, vida que segue.
Sábado, 10 de julho: Alan chega em Barna, e viro minha segunda noite seguida. Domingo, 11: vemos a Espanha ser campeã do mundo e comemoramos como (e com) locais. Segunda, 12: Londres. Um dos lugares mais legais do mundo.
Ah, lá vem o Alexandre falar que cidade tal é legal, que gostaria de morar lá blablabla. Não, ainda que um sim bata à porta. Com zilhões de motivos.
Londres é realmente cosmopolita - não estou falando de ver um par de turistas alemães no mercado ou escutar japonês em um restaurante, e sim de um sheik manda-chuva da Al-Jazeera sentar ao seu lado numa poltrona de loja de departamento e puxar assunto. De vietcongues, indianos e árabes com um inglês perfeito e trabalhando de verdade (não vendendo cerveja numa esquina suja e fugindo da polícia). De ver estrangeiros morando na cidade e não passando uns dias torrando grana em caipirinha e turismo sexual.
Londres tem absolutamente tudo - saindo do hostel em Kensington você tem restaurante árabe de verdade, mercado onde é possível comprar comida pra duas pessoas que dura a noite de quinta e sobra pro café de sexta a menos de 6 libras, uma livraria interessantíssima (pra não dizerem que tô mentindo, olha esse e esse livro que comprei por menos de 5 libras cada) etc. Você quer produtos naturais? Tem. Ah, prefere comprar coisas únicas e ajudar uma criancinha com remela do terceiro mundo? Beleza. E mais etc. A lista parece infinita, paro por aqui e ya está.
Londres dá milhões de opções de diversão - além de trombar com uma galera bebendo civilizadamente suas pintas de Guinness às 19h dentro de pubs e nas janelinhas do lado de fora deles, você encontra tantas opções pra se divertir que é capaz de rodar a cidade a noite inteira sem se decidir. Mas nos decidimos por um restaurante/pub com entrada a 4 libras e jam session de blues aberta ao público. Quando você entra, perguntam se quer tocar ou só assistir. Ainda bem que fiquei com o "só assistir", porque a galera era animal. O som saía lindo. A música era sempre de qualidade. E tudo era cantado com sotaque inglês, o que dá um charme especial. Ah, sim: o lugar era desses que se posiciona como "amigo do meio ambiente", até a cerveja era diferente. Orgânica. Freedom. Muito boa.
Fora Camden Town, que dispensa comentários. Um dos lugares mais ecléticos, divertidos e interessantes que já vi na minha vida.
Lá, os aluguéis são caros. Mas, imagino que ganhando ao menos 5 mil libras (e se não meterem a mão no seu salário como na Espanha ou França), seja possível viver muito bem. Inclusive, com um apê num lugar legal. Como o metrô chega na porta da sua casa (às vezes, literalmente) e todos se respeitam no trânsito, o que permite andar de bici pra lá e pra cá, uma temporada na cidade deve permitir uma vida excelente. Inclusive quando sair de férias, já que a moeda deles vale mais que as outras. E, com todo meu respeito ao tio Frank, se você pode ser bem-sucedido aí, então você pode ser bem-sucedido em qualquer lugar do mundo.
"New Yokr, New York", oscambau! I want to be a part of it, London, London.
Mas outra coisa precisa ser dita. Os brasileiros têm um problema com vir pro exterior, um preconceito que só vai morrer o dia em que a maioria da população puder morar fora (ou seja, daqui a três eternidades). Quando só vêm de turismo, acham que toda a Europa é um grande parque de diversões, uma bagunça/pegação/festas infinitas - e não existe isso. Morar fora é como morar no Brasil: segurar a grana, passar por coisas chatas, conhecer gente interessante e gente escrota, e perceber - ao menos em teoria - que toda cidade funciona igual. A não ser que você seja barman em Ibiza ou Mikonos (e esse seja seu objetivo de vida), sua vida vai ser como aí. Inclusive, conhecendo mais brasileiros do que gostaria.
Nós somos uma praga; se o mundo for destruído por bombas atômicas, só as baratas e nós sairemos dos bueiros pra repovoar o mundo. Espero que não cruzando as espécies.
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Em todo caso, queridos amigos, relaxem suas cabecinhas que o Alê ainda não perdeu o juízo nem (toda) a memória. Disse que volto pro Brasil e mantenho minha palavra. É hora de resolver minha vida, montar minha casa, daqui a mais um pouco ter minha família, além de ajudar a quem precisa, o país a se desenvolver e tantas outras utopias que só eu acredito que sejam possíveis.
Mas que Londres é uma cidade tentadora, isso é...
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Ah, claro. Uma das vantagens de estar com a (e na) Espanha nesse mundial da África do Sul é que usar a camisa da seleção te habilita automaticamente a ser uma pessoa querida. No caso do tio que me chamou de lucky bastard na saída de uma loja qualquer, rolou uma pontinha de inveja, também. Mas nada que gritos de España e yo soy español, español, español em museus e pelas ruas não apaguem.
Por esses dias, a Espanha é o Brasil da Europa. Só que em crise.
Ontem foi um dia histórico para cerca de 46 milhões de pessoas no velho continente e outras tantas espalhados pelo planeta. Após dezoito edições de um mundial, a Espanha finalmente chegou a uma final de Copa. Só a fila do SUS demora tanto - com a diferença que as pessoas têm muito mais esperança de levantarem uma taça que de serem atendidas.
Revendo pela milionésima vez os lances da partida contra a Alemanha, surpresa e sensação do campeonato pela equipe renovada e futebol bonito, responsável por despachar hooligans e argentinos (desculpem a palavra de baixo calão, não conheço outra menos pior), ficou ainda mais claro o domínio da Fúria. Sim, eles mereceram ganhar, assim como mereceram bater os mesmos alemães na final da Eurocopa dois anos antes. Como merecem deixar o estigma de segunda força pra trás, sendo considerados grandes, vitoriosos e tendo o nome gravado na história.
Mas não escrevo esse texto pra elogiar La Roja e a habilidade dos seus jogadores ou bater no Dunga (o Felipe Melo viria dar o troco, com certeza). Escrevo porque, vendo as imagens dos jogadores e dos espanhóis comemorando, gritando e chorando e perdendo a voz e se jogando em chafariz e buzinando e se abraçando e com olhar perdido em direção ao céu, me emocionei. Chorei, pra ser sincero.
Chorei pela dedicação, entrega e identificação dos jogadores - não apenas com a camisa vermelha ou o esporte, mas com toda uma nação. Algo que vai muito além da nossa pátria de chuteiras que "é brasileira com muito orgulho, com muito amor" durante um mês e caga o país nos outros 47. Uma nação que tem disputas internas inclusive sobre o conceito de nação, e que enxerga no futebol a possibilidade de fugir um pouco da disputa política sem sentido e, quem sabe?, da união entre as províncias.
Chorei por ver a comoção de um povo que espera isso desde sempre. Que já foi taxado de perdedor, amarelão e até botafoguense. Que viu sua equipe nadar forte tantas vezes e morrer na praia. Que vê no sucesso da seleção o início da virada pra sair de uma crise que parece eterna. Gente sentindo uma emoção que nunca experimentou na vida e, por isso mesmo, vive como um sonho que pode acabar a qualquer momento. Que tem medo de se beliscar e acordar.
Chorei porque gosto do esporte. Chorei como devem ter chorado os que (ou)viram o título de 1958, depois de chorarem pelo Maracanazo. Como devem ter chorado os que viram a eliminação de um dos melhores times da história do futebol, aqui na Espanha mesmo, contra uma equipe chulé que deu início ao futebol de resultados. Como se fosse o hexa do Flamengo, com um único amigo testemunhando meu sofrimento e êxtase numa sala semi-vazia em El Prat de Llobregat, Barcelona, Espanha.
Chorei por tudo que deixei no Brasil, coisas que preciso retomar e coisas que se encaminham para um fim. Ou recomeço, nunca se sabe.
Chorei por saber que os planos traçados há tanto tempo estão se cumprindo. E, depois de 10 meses, estarei ao lado do Alan vendo a Espanha jogar a final em algum lugar de Barcelona. Exatamente como deveria ser. "Saudade até que é bom" oscambau. Quero rever meu irmão, meu grande amigo. Quero a família junta outra vez.
Chorei porque, ainda que não seja de muitas lágrimas (quase nenhuma, pra ser sincero), homem chora, sim. E admite.
E, tão importante quanto tudo isso: chorei, sim. Mas não como um botafoguense.
Sigo acreditando no slogan dos espanhóis, que resume bem o sonho de uma vida. Seja qual for o sonho, e seja de quem for a vida: podemos!
Pela segunda vez, a cabeça censura o estado emocional. Não sei até quando isso vai durar. Sei que, se postar os textos, provavelmente vou reler e ficar contente com o que escrevi. E triste de ver que eles ainda farão sentido.
Se alguém puder me explicar como pessoas que jogam um esporte que mistura futivôlei, balé e caratê não vai bem no futebol, por favor deixe um comentário e esclareça minha limitada mente.
Pra ajudar (ou não), deixo uma amostra de como funciona o negócio:
Depois de escutar esse som, saído de um post do Alan (obrigado), resolvi deixar a música passear pela Ponte outra vez. Infelizmente, com poucas referências - estavam com preguiça de escrever no Wikipedia, assim como estou de procurar mais informações. Mas com altíssima qualidade.
Talvez pela contagem regressiva seguir forte, levando meus pensamentos rumo aos risonhos lindos campos (que) têm mais flores, a nostalgia começou a marcar presença. Dessa vez, juntando as lembranças de Sevilla, talvez bem vivas pelo reencontro em Madrid com dois grandes amigos, com as de Barcelona. Minha casa de temperatura desregulada por longos-curtos-longos nove meses. E o niño que nasceu dessa espera tem 36 anos.
Niño Josele é um guitarrista flamenco nascido em Almeria, e tão caveira que já tocou com nomes como Paco de Lucía e Elton John. Tem 7 discos em 14 anos de carreira, o que não é pouco. Ainda mais pensando que sua criação é instrumental, não essa história de "vou te levar daqui/te amo, meu amor/eu quero vocêêêêêêê" de qualquer desses cretinos de hoje em dia, daí ou do exterior. O cara é boladón.
Descobri pelo Alberto num programa da Rádio 3. Pus no Spotify e não consigo parar de escutar. Quer dizer, neste exato momento eu não escuto, mas só porque meu computador está incrivelmente lento e não consegue fazer duas ações ao mesmo tempo, como um surfista tentando amarrar o cadarço e falar.
Ao toque de quatro já vai:
Ei, fala de mim também!
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Falando em niño, el niño Torres, Fernandinho no Brasil, Seaside Freddy pros gringos, segue jogando bichado e sem render. Mas Villa Maravilla assumiu a responsabilidade e está compensando a falta que o outro faz resolvendo praticamente todas as partidas para a Espanha no Mundial. Com isso, la Roja já está nas quartas, sendo a única que acredito ter alguma chance de estragar a Copa América africana. Basta chutar o Paraguai.
Só pra constar.
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Só pra constar, também: esse foi, provavelmente, o texto com o maior número de links que já escrevi. Alguns são interessantes, poucos realmente engraçados, muitos totalmente sem sentido. Ainda assim, tive o trabalho de selecionar cada um deles.
Favor clicar em todos e gerar tráfego para outros sites, a ver se vêem que vocês chegaram lá atravessando a Ponte, vêm aqui e aumentam meu número de visitas, permitindo a inserção de banners e links patrocinados e me dando dinheiro.
Sigo com insônia. Não sei até que ponto isso é ruim, já que meus sonhos têm sido inquietantes e/ou semi-tristes. A culpa não é minha, claro. Um não manda no que seu subconsciente joga no ventilador enquanto a cabeça escuta o travesseiro.
Não tem chá, comida leve ou tentativa de limpeza mental que me tire desse círculo vicioso. Já pensei até em remédios, mas como não sei o que comprar sigo acordado. Como uma máquina. De café, por que não?
Taí. Se eu fosse um herói moderno, seria uma espécie de Iron Man Nespresso. Um Gambit cafeinado, atirando potes de Ristretto e Volluto em qualquer um que ousasse me desafiar e ir pra cama antes das quatro da manhã.