Ontem foi um dia histórico para cerca de 46 milhões de pessoas no velho continente e outras tantas espalhados pelo planeta. Após dezoito edições de um mundial, a Espanha finalmente chegou a uma final de Copa. Só a fila do SUS demora tanto - com a diferença que as pessoas têm muito mais esperança de levantarem uma taça que de serem atendidas.
Revendo pela milionésima vez os lances da partida contra a Alemanha, surpresa e sensação do campeonato pela equipe renovada e futebol bonito, responsável por despachar hooligans e argentinos (desculpem a palavra de baixo calão, não conheço outra menos pior), ficou ainda mais claro o domínio da Fúria. Sim, eles mereceram ganhar, assim como mereceram bater os mesmos alemães na final da Eurocopa dois anos antes. Como merecem deixar o estigma de segunda força pra trás, sendo considerados grandes, vitoriosos e tendo o nome gravado na história.
Mas não escrevo esse texto pra elogiar La Roja e a habilidade dos seus jogadores ou bater no Dunga (o Felipe Melo viria dar o troco, com certeza). Escrevo porque, vendo as imagens dos jogadores e dos espanhóis comemorando, gritando e chorando e perdendo a voz e se jogando em chafariz e buzinando e se abraçando e com olhar perdido em direção ao céu, me emocionei. Chorei, pra ser sincero.
Chorei pela dedicação, entrega e identificação dos jogadores - não apenas com a camisa vermelha ou o esporte, mas com toda uma nação. Algo que vai muito além da nossa pátria de chuteiras que "é brasileira com muito orgulho, com muito amor" durante um mês e caga o país nos outros 47. Uma nação que tem disputas internas inclusive sobre o conceito de nação, e que enxerga no futebol a possibilidade de fugir um pouco da disputa política sem sentido e, quem sabe?, da união entre as províncias.
Chorei por ver a comoção de um povo que espera isso desde sempre. Que já foi taxado de perdedor, amarelão e até botafoguense. Que viu sua equipe nadar forte tantas vezes e morrer na praia. Que vê no sucesso da seleção o início da virada pra sair de uma crise que parece eterna. Gente sentindo uma emoção que nunca experimentou na vida e, por isso mesmo, vive como um sonho que pode acabar a qualquer momento. Que tem medo de se beliscar e acordar.
Chorei porque gosto do esporte. Chorei como devem ter chorado os que (ou)viram o título de 1958, depois de chorarem pelo Maracanazo. Como devem ter chorado os que viram a eliminação de um dos melhores times da história do futebol, aqui na Espanha mesmo, contra uma equipe chulé que deu início ao futebol de resultados. Como se fosse o hexa do Flamengo, com um único amigo testemunhando meu sofrimento e êxtase numa sala semi-vazia em El Prat de Llobregat, Barcelona, Espanha.
Chorei por tudo que deixei no Brasil, coisas que preciso retomar e coisas que se encaminham para um fim. Ou recomeço, nunca se sabe.
Chorei por saber que os planos traçados há tanto tempo estão se cumprindo. E, depois de 10 meses, estarei ao lado do Alan vendo a Espanha jogar a final em algum lugar de Barcelona. Exatamente como deveria ser. "Saudade até que é bom" oscambau. Quero rever meu irmão, meu grande amigo. Quero a família junta outra vez.
Chorei porque, ainda que não seja de muitas lágrimas (quase nenhuma, pra ser sincero), homem chora, sim. E admite.
E, tão importante quanto tudo isso: chorei, sim. Mas não como um botafoguense.
Sigo acreditando no slogan dos espanhóis, que resume bem o sonho de uma vida. Seja qual for o sonho, e seja de quem for a vida: podemos!
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