domingo, 18 de julho de 2010

Lucky bastard!

Sábado, 10 de julho: Alan chega em Barna, e viro minha segunda noite seguida. Domingo, 11: vemos a Espanha ser campeã do mundo e comemoramos como (e com) locais. Segunda, 12: Londres. Um dos lugares mais legais do mundo.

Ah, lá vem o Alexandre falar que cidade tal é legal, que gostaria de morar lá blablabla. Não, ainda que um sim bata à porta. Com zilhões de motivos.

Londres é realmente cosmopolita - não estou falando de ver um par de turistas alemães no mercado ou escutar japonês em um restaurante, e sim de um sheik manda-chuva da Al-Jazeera sentar ao seu lado numa poltrona de loja de departamento e puxar assunto. De vietcongues, indianos e árabes com um inglês perfeito e trabalhando de verdade (não vendendo cerveja numa esquina suja e fugindo da polícia). De ver estrangeiros morando na cidade e não passando uns dias torrando grana em caipirinha e turismo sexual.

Londres tem absolutamente tudo - saindo do hostel em Kensington você tem restaurante árabe de verdade, mercado onde é possível comprar comida pra duas pessoas que dura a noite de quinta e sobra pro café de sexta a menos de 6 libras, uma livraria interessantíssima (pra não dizerem que tô mentindo, olha esse e esse livro que comprei por menos de 5 libras cada) etc. Você quer produtos naturais? Tem. Ah, prefere comprar coisas únicas e ajudar uma criancinha com remela do terceiro mundo? Beleza. E mais etc. A lista parece infinita, paro por aqui e ya está.

Londres dá milhões de opções de diversão - além de trombar com uma galera bebendo civilizadamente suas pintas de Guinness às 19h dentro de pubs e nas janelinhas do lado de fora deles, você encontra tantas opções pra se divertir que é capaz de rodar a cidade a noite inteira sem se decidir. Mas nos decidimos por um restaurante/pub com entrada a 4 libras e jam session de blues aberta ao público. Quando você entra, perguntam se quer tocar ou só assistir. Ainda bem que fiquei com o "só assistir", porque a galera era animal. O som saía lindo. A música era sempre de qualidade. E tudo era cantado com sotaque inglês, o que dá um charme especial. Ah, sim: o lugar era desses que se posiciona como "amigo do meio ambiente", até a cerveja era diferente. Orgânica. Freedom. Muito boa.

Fora Camden Town, que dispensa comentários. Um dos lugares mais ecléticos, divertidos e interessantes que já vi na minha vida.

Londres respira cultura - Dalíescultura Maorivan Eyck ao lado de Van Gogh - grátis? Peça de Shakespeare diariamente e custando míseras 5 libras? Discussões políticas que servem pra alguma coisa? Nem sei tudo que poderia escrever, mas isso e muito mais que vocês pensarem, encontram lá. Se um fica em casa, é por preguiça.

Lá, os aluguéis são caros. Mas, imagino que ganhando ao menos 5 mil libras (e se não meterem a mão no seu salário como na Espanha ou França), seja possível viver muito bem. Inclusive, com um apê num lugar legal. Como o metrô chega na porta da sua casa (às vezes, literalmente) e todos se respeitam no trânsito, o que permite andar de bici pra lá e pra cá, uma temporada na cidade deve permitir uma vida excelente. Inclusive quando sair de férias, já que a moeda deles vale mais que as outras. E, com todo meu respeito ao tio Frank, se você pode ser bem-sucedido , então você pode ser bem-sucedido em qualquer lugar do mundo.


"New Yokr, New York", oscambau! I want to be a part of it, London, London.

Mas outra coisa precisa ser dita. Os brasileiros têm um problema com vir pro exterior, um preconceito que só vai morrer o dia em que a maioria da população puder morar fora (ou seja, daqui a três eternidades). Quando só vêm de turismo, acham que toda a Europa é um grande parque de diversões, uma bagunça/pegação/festas infinitas - e não existe isso. Morar fora é como morar no Brasil: segurar a grana, passar por coisas chatas, conhecer gente interessante e gente escrota, e perceber - ao menos em teoria - que toda cidade funciona igual. A não ser que você seja barman em Ibiza ou Mikonos (e esse seja seu objetivo de vida), sua vida vai ser como aí. Inclusive, conhecendo mais brasileiros do que gostaria.

Nós somos uma praga; se o mundo for destruído por bombas atômicas, só as baratas e nós sairemos dos bueiros pra repovoar o mundo. Espero que não cruzando as espécies.

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Em todo caso, queridos amigos, relaxem suas cabecinhas que o Alê ainda não perdeu o juízo nem (toda) a memória. Disse que volto pro Brasil e mantenho minha palavra. É hora de resolver minha vida, montar minha casa, daqui a mais um pouco ter minha família, além de ajudar a quem precisa, o país a se desenvolver e tantas outras utopias que só eu acredito que sejam possíveis.

Mas que Londres é uma cidade tentadora, isso é...

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Ah, claro. Uma das vantagens de estar com a (e na) Espanha nesse mundial da África do Sul é que usar a camisa da seleção te habilita automaticamente a ser uma pessoa querida. No caso do tio que me chamou de lucky bastard na saída de uma loja qualquer, rolou uma pontinha de inveja, também. Mas nada que gritos de España e yo soy español, español, español em museus e pelas ruas não apaguem.

Por esses dias, a Espanha é o Brasil da Europa. Só que em crise.

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