quarta-feira, 18 de agosto de 2010

As voltas que o mundo dá

A cabeça dele não parava de girar. Estar dentro da montanha russa mais espiralada do mundo - a Space Ultra Marvellous Supernatural Kinky Adventure, Dona Morte para os íntimos - ajudava consideravelmente. Sua mente era um catavento excitado dentro de um ciclone tropical no cio. Ou algo do tipo.

Duas horas depois de deixar a Space Ultra Etc, sua cabeça ainda rodava. Ficar nervoso não tinha nenhum efeito positivo, mas e daí? As pessoas ao seu redor giravam, e isso não substituía Maracugina. Era como se elas brincassem de ciranda. As crianças realmente brincavam, mas os adultos?

Começou a suspeitar de que tudo era um complô contra sua sanidade. Ele era inteligente, sabia de muita coisa e tudo estava guardado a sete sinapses, já que não confiava em blocos de notas - muito menos o do sistema operacional do seu computador, que vivia ameaçando reportar falhas ao fabricante. Um disfarce bem amador pra enviar qualquer anotação armazenada no disco duro. Pro inferno, essas multinacionais capitalistas curiosas e conspiradoras!

Complô ou não, pronto os carros começaram a girar incessantemente, e não estava seguro se em uma rotatória ou no sinal vermelho. As bolas rolavam redonda nos jogos da segunda divisão alemã. Os políticos davam voltas no mesmo tema, ainda que isso o surpreendesse menos. As músicas tocavam em looping. O cachorro à pilhas da sua sobrinha, fabricado na China como tudo que seu irmão tinha em casa (incluindo sua esposa), seguia dando cambalhotas. Mulheres na esquina da sua casa rodavam bolsas.

Estava ficando enjoado. Pela situação, e por seu cérebro haver completado o equivalente a oito voltas ao redor da Terra. Talvez mais. Ele não sabia ao certo porque evitava contar a Itália. Correu para o banheiro de casa - depois de um mês e meio nesse estado, não tinha muito ânimo pra sair a dar uma voltinha - a ponto de vomitar. A água da privada girava, e em sentido anti-horário. Era demais pra qualquer ser humano em processo avançado de degeneração mental.

Ao se virar para se olhar no espelho, e se dar conta de mais essa volta, perdeu totalmente a razão e tomou meio frasco de desentupidor de ralos. Meio, porque estava de dieta. O chão de ladrilho não estava muito limpo, mas ele nem se importou, caiu de boca e quebrou dois dentes. Além de morrer, infelizmente.

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