Com seu vermelho característico, ainda que raro para a espécie, lá estava a Jubarte olhando o mundo à sua volta. Muitas coisas com carinho, outras com saudosismo, uma com certa raiva. Sim, porque as jubartes, como qualquer mamífero, sentem raiva.
Ela sabia que estava ameaçada de extinção. Ainda assim, resolveu seguir na imensidão do oceano, acreditando que a época de migração logo chegaria ao fim e ela estaria de volta, sã e salva, ao seu amado habitat. Horas e dias e meses de viagem, muito plâncton comido, muito vivido pelos mares para contar aos seus filhotes. Uma existência só existe realmente se há histórias, pensava. Mas se esqueceu de que nem todas são boas.
Assim como as pessoas. O ser humano interessado na preservação da jubarte, por exemplo, era mau. Escondia seu lado desequilibrado sob um risonho rótulo ambientalista. E se aproveitou da crença mamífera da baleia para fazer o que quis enquanto ela estava fora. Protegeu outras espécies, militou por outros animais. Tão irracionais como este ser humano específico. E a pobre jubarte, após nadar aquela imensa massa de água até sua terra natal e se deparar com tamanha irresponsabilidade, sentiu um oceano inteiro pesando nas suas costas. Na sua vida.
Felizmente, como todo mamífero racional e emocional, a jubarte tem seus truques. Emergir, expelir a água salgada e seguir em frente, por exemplo. Ela sabe que, olhando aquele mundo à sua volta, um pequeno ser (ou seria um ser pequeno?) que um dia cruzou sua corrente marítima não fará a menor diferença em uma vida livre e feliz, e por isso plena. Coisa que aquele pobre peixe de aquário nunca vai entender ou alcançar.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
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Um comentário:
tinha que fazer comparação com baleia mesmo.
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