sábado, 21 de maio de 2005

Escape

Acordou. Sentia na boca o sabor do dissabor. Aquele meio-amargo-meio-azedo-meio-podre que dá o tom das noites precoces, que anuncia a chegada daquilo que ele tanto luta para fugir. Andou até o espelho, lavou os olhos como querendo enxergar a saída. Mas o que via ali era por onde entrava o indesejável. Mais uma vez resistiu. Enxugou-se dos pensamentos torturantes. Subiu os degraus que o levavam ao último andar. Sozinho, queria entender tudo aquilo. “Por que isso de novo?”, ele perguntava para dentro. A resposta vinha de fora, o eco do absurdo, a voz do inevitável. De repente, toda a vida voltava ao estado inicial do choro infantil perante o desconhecido, o desejo súbito de respirar e se livrar d aquilo que liga ao anterior. Sentiu o chamado, um grito que o levava para a liberdade. Do alto daqueles 11 metros, fugiu.

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