Às: 4h de uma quinta-feira, 24 de dezembro
Porque: acabei de chegar de Barcelona
A: minha nova casa, do outro lado da rua
Escrevo pra situar minha postagem, meu estado geral e dar alguma pista - inclusive pra mim mesmo - de onde quero chegar com isso. E já aviso aos mais
Hoje é véspera de Natal e estou cagando pra data. Não sei se é a distância da família, Carol e amigos da terra, se percebi o valor comercial da data ou se é só porque tô sem vontade de comemorar, mesmo. Tenho pena por não ter comprado nada pro Alberto e os pais dele ou preparado meu "kit Brasil", e não deve dar tempo de fazer isso até o fim de semana. Mas a vida me fez não conseguir. A troco de pouca coisa, na verdade.
Comecei a trabalhar na quinta passada. Hoje, foi meu último dia. O dono da empresa queria um designer que trabalhasse de graça ou pelo menor salário possível, e estou numa situação completamente oposta. Cheguei cheio de idéias e saio uma semana depois, não triste mas decepcionado. Com muita coisa.
As pessoas tendem a confundir prioridades, ou não enxergar coisas óbvias. Neste caso, vem dele. O cara sabia que meu perfil era outro, mas resolveu tentar mesmo assim. Gostou do que fiz, ficou com o que estava pronto e fim de jogo. O que ele mais precisa vai continuar igual. Uma bosta. E o que tinha em mente, com certeza, não vai sair do papel. Mas me incluo nessa coisa de não enxergar coisas óbvias. Infelizmente, todos tendemos a dificultar a vida. Que é, por definição, bem mais simples do que aparenta.
Daí sou obrigado a repensar meus assuntos, que pensava estarem encaminhados. E lá vou eu, carro morrendo no meio da estrada, esperando uma alma caridosa que jogue uma luz no problema ou dê aquele empurrãozinho pra o motor pegar no tranco. No embalo, sempre vai. Mas por que não manter a mecânica funcionando, revisar periodicamente, limpar de vez em quando? Precisa deixar dar problema?
Não. Mas eu tenho por definição deixar isso acontecer. E acabo me atrasando pro que realmente importa na minha vida, assuntos das pessoas que amo. Desde pequenas vitórias do dia-a-dia, como fazer um desenho que ganha uma TV, a descobrir que uma das raras pessoas que admiro de verdade, e tenho como ídolo-exemplo-sei lá, escreve melhor que eu. Não estou ao lado de pessoas fundamentais no momento que mais gostaria.
Alivia um pouco o meu lado conviver-reviver-conhecer pessoas maravilhosas, que salvam minha cabeça de surtar. Pode não parecer, mas sou uma fábrica de pensamentos maus e absurdos. Se não fossem as amizades que reencontrei e as que fiz até agora, não sei como seria. Fico feliz de ver que existem pessoas boas nesse mundo a serem descobertas e que ainda serão valorizadas como merecem - hoje, amanhã, não sei. Mas serão.
Engraçado é ver que todos aqueles ensinamentos bonitos que você escuta e repete pra quem precisa, pensamentos trabalhados e horas de atenção dada aos outros não te servem de um mísero pelinho, quando você precisa. É nesse momento que você entende que "falar é fácil". Passa pela situação e vê como você se comporta. Depois, se ainda puder, fale algo para os outros. Ou dos outros. Julgar e criticar é fácil quando se está de fora mas, uma vez no meio do turbilhão, sair andando pro lado certo e de cabeça erguida é outra história. Que pode muito bem não ser a sua.
A verdade é que a vida pode mudar a qualquer momento, e é bom estar preparado. Não que você vá sair ileso, o que é pra ser vai ser e ponto. Mas dá pra evitar umas quantas coisas, e diminuir o impacto de outras tantas. Por isso é bom nunca se empolgar demais com algo. Nem se decepcionar, porque com disposição dá pra sair dessa. Bom, e um pouco de coragem nunca é demais.
Não vou reler este post pra corregir nada, mas tenho a sensação que ficou um pouco com cara de livro de auto-ajuda. Se o Paulo Coelho roubasse este texto e colocasse na coluna dele num desses jornais da vida (e acredito que ele seja capaz de algo assim), ia ter gente chorando e mandando cartas quilométricas de agradecimento. Algo conhecido como "poder da marca". Ou "poder da mídia", pra quem prefirir. Como eu.
Não importa. Depois de uma semana em que entrei e saí de uma empresa, me dei bem nas aulas de um lugar onde não me dou bem com as pessoas (sim, isso também acontece comigo - assim como, acreditem, existem pessoas de quem não gosto) e tive surpresas maravilhosas de pessoas que estão longe de mim, isso foi quase uma extensão desses dias. E, de quebra, ainda dou notícias a todos que vira e mexe me perguntam como está aqui, que tal tudo etc.
Pra completar o rollo auto-ajuda, coloco um vídeo excelente da Honda. Uma empresa que tenho mais vontade de trabalhar do que muita agência grande e exibicionista por aí. Mas a vida cisma em me levar pro lado negro da força.
De qualquer jeito, a gente nunca sabe o que espera do outro lado do calendário. É bom eu ir me preparando. Cagando ou não pro Natal, o novo ano já tá batendo na porta.
Ah, e mais uma coisa: Papai Noel não existe.