segunda-feira, 19 de abril de 2010

Há dias

O verbo haver é engraçado, apesar de eu nunca rir muito dele. Ou com ele, pra não ser irônico com um grande auxiliar da nossa língua. Caso você fale como eu, claro. Sendo que eu relevo sotaques, gírias e palavras diferentes em geral. Tudo em prol de Camões, Fernando Pessoa e Beto Jamaica.

Há dias eu penso em escrever algo além do que tenho feito. Mais do que problemas de caráter pessoal. Até que, de repente, a gente percebe que "problema" é uma palavra mal utilizada. Problema é tão relativo quanto a teoria de Eistein, só que envolve semântica - aquela palavra que ninguém entende muito bem onde entra ou como funciona no dia-a-dia.

Há dias em que a gente espera A e acontece B. Há dias em que estamos assim e passa assado. Há dias tenho uma sensação estranha que defino como saudade. Há dias eu espero que algo aconteça, que algo venha e me mostre porque há dias em que um simples telefonema muda tudo.

Pois aí está. Aqui, no caso. Hoje. Uma perda que dói como se fosse minha, que mexe comigo como se estivesse batendo no meu ombro enquanto penso no que não gosto de imaginar. Como aquele conhecido distante que, vez ou outra, chama baixinho pra avisar que ainda existe, que nunca esquece de ninguém e que estará sempre ali, à espreita, esperando uma oportunidade para se fazer maior que você.

Há dias em que a gente entende porque é tão pequeno, se comparado ao universo que nunca vamos conhecer mas que nos espera a todos.

sábado, 17 de abril de 2010

Palhaço!

A natureza não foi sábia o suficiente para fazer dos cretinos uma raça estéril (notícia de 2008, cretino atual). Mas o que li no outro dia vai além de qualquer babaquice imaginável, até mesmo pelo mestre. Porque vem de um pai. Ou mãe, não importa. As últimas pessoas nesse mundo que um filho imaginaria que fariam uma brincadeira desse nível (se, depois de lerem meu texto, vocês ainda duvidarem da história, é só voltar no link pra comprovar).






















Tu tá na mão do palhaço, moleque!

É isso mesmo que você (provavelmente não) entendeu. A moda agora são pais que contratam uma figura como essa aí de cima - um Freddy Krueger confeiteiro com a peruca da Duquesa de Alba tingida com marca-texto - pra seguir os filhos pela rua, ligar e mandar mensagens psicopatas por uma semana. Ou seja, sete dias de medo pra que está pra fazer aniversário. Porque isso é uma espécie de presente. Sério.

Ah, só pra constar: a criança só ganha o bolo - muito mixuruca, diga-se de passagem - se fugir da torta na cara. Ou seja, além de sofrer todo esse terror psicológico a criança ainda volta cagada pra casa. Engraçadão, hein, papai e mamãe?

"Pai, me dá um Wii?"
"Quê?! Pedindo presente?! Ahhhhhhhhhhh, muleque!"

Sério. Nem se a criança fosse filha do irmão bastardo do limpador de piscinas Meplastic do vizinho mereceria essa surpresa. E ainda tem gente que não entende porque os menores têm medo de palhaço. Até eu teria!

Mas o mundo dá voltas, e o imbecil que armou essa surpresa vai pagar caro por isso. Ou vocês já viram algum psicólogo cobrar barato pela hora da consulta?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Saudade?

Talvez, se isso for aquela coisa que faz tudo recordar o que deixamos pra trás - ou momentaneamente de lado. Desde um dia que começa com o sol batendo forte na sua janela até um mísero meio pacote de feijão guardado no fundo do armário, e que você encontra sem querer.

Talvez, se isso for aquela palavra que só existe em português e que precisamos de um dia inteiro para explicar. Ou um telefonema para justificar.

Talvez, se isso for aquela história de "tá tudo certo", "não vou pensar nisso agora", "tudo se ajeita, sem problema" ou outras frases entre aspas.

Talvez, se isso for aquela vontade de saber de quem é importante para você.



Notícias de todos, quero saber.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A culpa é da chuva!

Como a chuva no Rio não pára, sinto a obrigação de voltar ao assunto. Pensava em fazer um resumão antes de dizer o que quero, mas como sairia daqui, mesmo, fica o link pra quem se interessar.

Caso você não queira ler e tampouco se lembre das aulas de história: desde o início, o processo de favelização está ligado à política. Ex-escravos que não possuíam terra, desocupação forçada promovida por Pereira Passos no início do século XX, ocupação de áreas menos valorizadas e sem infraestrutura (que costumam ser os morros dentro ou ao redor dos centros urbanos).

O tempo passou, as favelas se multiplicaram em número e tamanho e os problemas pioraram consideravelmente, com a grande quantidade de pessoas sem acesso a serviços básicos e o domínio do tráfico. O descaso se manteve, e o processo não só não foi estancado como os sucessivos governos foram permissivos, oferecendo uns poucos e insuficientes serviços. Tudo para manter os votos. Como extra, seus moradores foram taxados de favelados.

O acúmulo de cagadas ao longo das décadas e de gente em condições precárias de vida cedo ou tarde acabaria em tragédia. Ensaiamos ao longo de umas quantas chuvas de verão, expandimos o projeto genocídio de pobres para outras cidades, mas nos mantivemos firmes e fortes no Rio, esperando o dia em que mataríamos muita gente de uma vez só. Muito bem, conseguimos.

Adendo rápido: vale citar a incrível força de vontade de umas quantas famílias, que em várias comunidades resolveram manter seu barraco em vez de agarrar com os dois braços, pernas e boca a sorte de receber uma casa popular. Podem dizer que tinham feito a vida onde estavam, que era melhor para ir ao trabalho, que ficariam marcadas por viverem nesse tipo de construção. Mas apostar com a morte pra ver se o vizinho seria soterrado antes não me soa uma alternativa muito inteligente.

http://www.excelencias.org.br

Pelo amor de Deus, vamos parar de culpar o volume de chuvas que caiu num dia, São Pedro etc. Poderia cair o mundo que, se não houvesse gente nos morros, hoje não haveria tragédia. Tragédia de verdade são os nossos governantes.

Já que temos alguns meses até as eleições, vamos nos informar um pouco sobre quem está no poder. Ver o que fizeram, se têm algum processo. Coisas simples que podem evitar a reeleição de uns quantos cretinos. Melhor que apertar uma combinação qualquer na urna eletrônica e ver quem sai. Ver o site e votar com consciência é o mínimo que podemos fazer agora. E o que deveríamos estar fazendo há muito tempo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Por favor, chuva ruim...

Tão longe, tão perto. Meu incompleto ano e meio na Europa não apaga da minha memória, por pior que ela seja, uma vida inteira passada no Rio de Janeiro, com suas incontáveis chuvas de verão que pararam a cidade. Como aquela de 1996, que acabou com a casa de amigos e desconhecidos em Jacacity, terra de ninguém, matou gente e transformou o bairro - e a cidade - num filme B de terror. De Bollywood.

Pois eis que vejo nos jornais uma outra chuva destruindo a cidade. Desta vez não foi no verão ou durou poucas horas, mas destruiu famílias, lares e o que mais estava no caminho. Certo, Alexandre, e...?

E não acredito que ainda tenha gente justificando que nunca havia chovido assim em abril, que caiu uma quantidade de água maior que o previsto para o mês etc. E se tivesse chovido assim em janeiro, a cidade estaria preparada? As galerias pluviais dariam conta? O esgoto não invadiria as casas? A defesa civil, CET-Rio, prefeitura e governo tomariam as providências devidas, evitariam estragos maiores e tragédias?

Não acredito que ainda existe gente que cai nessa. Ou melhor, infelizmente acredito. Porque nosso povo continua alienado, mal informado, à margem de decisões políticas importantes - e sem a menor preocupação com sua memória política. Continua marionete de qualquer um com um pouco mais de malandragem e menos caráter. Segue explorado, deixado de lado e tratado a pão e circo. E parece gostar.

Sim, é falta de educação. E cultura. Mas também não me parece muito preocupado. "Ah, choveu? Vamos surfar na rua!". Acho legal levar tudo numa boa, assim como relaxar diante do que não tem volta. Eu mesmo fiz, e faço, piadas com o assunto. Mas poderíamos fazer muito mais se déssemos um pingo de atenção para o que está por trás de mais uma catástrofe. Algo inaceitável para um país como o nosso, e ainda menos para a sede da final do Mundial de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Daqui a uns meses vamos às urnas. Por mais crédulo, esperançoso e bobo que seja, vejo pouco factível uma conscientização da população. Porque, se fizer sol, vai ter muita gente na praia. Porque as propostas dos políticos - dos que têm, claro - vão ficar pegando poeira virtual num cantinho escuro da Internet, com uns poucos cliques de vez em quando. Porque basta um pouco de cimento e tijolo pra o miserável escolher um candidato - e não dá pra culpar quem não tem nada, ou consegue o pouco que tem à base de sofrimento diário. Falo e culpo, mais que todos, nós que temos - em teoria - educação formal e discernimento para não cairmos nos mesmos erros outra vez.

A chance de vermos manchetes deste ano requentadas em 2011 é enorme. Mas fazer o quê, se essa chuva ruim cisma em cair forte na cidade maravilhosa?

ps: eu poderia resumir tudo isso citando essa matéria. Mas precisava desabafar. De novo.

Messi

Justiça seja feita, meu irmão já tinha falado dele. E admito que é complicado ser imparcial depois de uma partida como a de hoje entre Barça e Arsenal, ainda mais para um fã de futebol. Mas, por mais difícil que seja buscar palavras para definir o que vi, seria injusto não escrever sobre ele.

Lionel Andrés Messi. Ou Messi, tão simples como as entrevistas depois das partidas - quando o repórter pergunta como é jogar nesse nível e ele responde que fica feliz de ajudar a equipe a ganhar. Ajudar? Na semi-final do torneio mais importante da Europa, contra um dos times mais fortes, bem armados e interessantes do continente, ele marcou todos os quatro gols da sua equipe. Sim, quatro. Um, dois, três, quatro. Imaginem quando ele resolver uma partida para a equipe.

E os quatro gols de hoje não foram sorte, ou casualidade. Messi marcou três em três ou quatro das últimas seis partidas do Barça, se não me engano. Assim como praticamente todos os últimos gols da sua equipe nos últimos oito ou dez jogos. É o artilheiro da Champions (e igualou um antigo recorde de gols marcados numa só partida da competição), da Liga Espanhola, da temporada e um dos maiores da história do clube. Aos 22 anos, pra deixar bem claro.

Acompanho futebol desde muito novo. Jogo, vejo, discuto. Sou apaixonado pelo esporte, e um belo exemplo da "pátria de chuteiras" de que tanto falam. Vi um pouquinho do Zico, algo mais do Maradona, Romário, Ronaldo gordo e Ronaldo bonitão, van Basten, Weah, Zidane e vários outros que deram nome aos meus jogadores de botão. Mas nenhum, absolutamente nenhum, conseguiu me encantar como Messi.

Eu poderia ficar com a definição de alguns narradores das rádios catalães, como "gênio maravilhoso" ou "é de fazer chorar". Mas a melhor é do técnico do Arsenal, Arsène Wenger: "jogador de Playstation". Ou posso fazer o mais natural, e não defini-lo. Porque é impossível. Passei todo o jogo tentando encontrar o que dizer (e vale lembrar que sou redator), mas sinceramente não soube. Não sei. Porque sua forma de jogar, como faz tudo parecer fácil e curte cada jogada que faz, e busca sempre mais, é impressionante. Encantadora. Mágica. _________________ (sua vez de adjetivar).

Acreditem, me dói dizer isso. Mas um jogador como Messi merece ganhar uma Copa do Mundo. Merece ser decisivo pra seleção do seu país - Argentina, infelizmente. Merece ser coroado melhor do mundo outra vez. E, mantendo esse nível por mais alguns anos, merece ser o atleta do século XXI.

Sei que ainda é cedo, estamos em 2010. Mas ninguém chegará aos 1200 e tantos gols do Pelé, mesmo. Nem a mil, na verdade, por mais que o Romário force a barra na contagem. E, se o futebol é outro, influencia no estilo dos profissionais e blablabla, Messi é o símbolo do que pode ser o jogador desta época. E das que vieram algum tempo atrás, e das que estão por vir. Messi é completo, joga para o time e dá show ao mesmo tempo, tudo isso enquanto resolve partida após partida.

Messi é único, craque e já faz parte da história do futebol. E me sinto honrado em ter o privilégio de estar em Barcelona vendo o que não vai se repetir tão cedo.

domingo, 4 de abril de 2010

Chocolate metafórico

Essa semana é santa na Espanha. Literalmente - são sete dias festivos, em que muita gente não trabalha. Pelo menos em publicidade, o que me surpreendeu consideravelmente. E, se contarmos com a segunda-feira algo santa catalã (não sei como eles chamam, sei que aqui ninguém trabalha), são oito dias seguidos de descanso.

A não ser que você não tenha um trabalho. Aí, sua Semana Santa é como outra qualquer: pensando em formas de arrumar emprego, dando conta - ou não - dos seus afazeres domésticos e ficando mais tempo em casa do que gostaria, pra não gastar uma grana inexistente e bagunçar suas contas.

Longe da família, namorada, amigos, praia e troca de tiros em Copacabana, tinha a forte sensação de que a Páscoa passaria em branco. Até que...

















"Se essa bola foi na direção do gol e ninguém evitou que ela entrasse, então foi gol. A não ser que o juiz tenha anulado. Ou não.", diria nosso querido narrador-filósofo.

O pai de um amigo é sócio do Barça e tem carnê pra ir aos jogos. Mas não poderia ver o jogo contra o Athletic ontem. Seu filho (meu amigo) poderia ir no seu lugar, mas resolveu ir ao cine com a namorada. Na cadeia alimentar futebolística do ingresso que sobraria, eu era o predador da terceira escala.

Resultado um: fui ao Camp Nou de graça (outra vez). E o Barça, talvez prevendo que eu não ganharia nem um mísero ovinho, também resolveu me dar um presente. Resultado dois: chocolate. 4 x 1 com dois belos gols do Bojan e um do menino Messi, retorno blaugrana à liderança e pressão nas meninas de branco.

Valeu o sábado. E compensou meu domingo em casa, mais sozinho que botafoguense no Engenhão. Se me serve de consolo, não tem retardado na TV. Bom, talvez tenha. Mas eu não vou procurar saber.

E, agora, tô com a maior vontade de comer chocolate...

ps: se o botafogo nunca lota o Engenhão, por que não mudar o nome do estádio pra Fazendinha? Ou então, transferir todos os jogos oficiais do "time" pra um campo de grama sintética na Barra? Sempre rola churrasco nesses lugares, pelo menos daria mais público.