quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Heresia temporal

17 de junho, 23h59. Você está acordado. Olha o relógio no exato momento em que os ponteiros se juntam lá em cima. Qual a diferença pro dia anterior, além de uma folhinha a menos no calendário?

Nenhuma.

Assim como de 31 de dezembro pra 1 de janeiro.

Esperançosos de plantão - ou desesperados de carteirinha, mudar o ano não altera em nada a ordem do universo, a boa vontade divina com sua vida ou a cor da água da pororoca. Traçar planos não faz diferença se você não corre pra realizar o que quer. Os próximos 365 dias não vão ser lindos e perfeitos se você não fizer por onde. O que pode acontecer daqui a alguns dias ou meses já poderia ter acontecido se você tivesse tentado no ano que acaba de ficar pra trás.

Se por um acaso você se esforçou, ótimo. Continue. É assim que as coisas vêm. A única coisa que cai do céu é chuva (às vezes um avião, sapo pra quem acredita nos contos da Bíblia).

Hoje eu encontrei um amigo que compartilha da minha opinião. Me senti menos herege. Mas continuo na expectativa de ser alvejado com bolinhos de bacalhau e rabanadas na festa de fim de ano lá em casa, ou xingado por hordas de molestadores de santos nas ruas.

Não importa. Eu comecei 2011 em março de 2009.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Amigo oculto

Os caras eram reis, magos e empreendedores. Caminharam um tempão no deserto, seguindo uma estrela, pra dar mirra, ouro e incenso a um menino que nem conheciam. O investimento deu certo, e hoje eles fazem parte da história da humanidade - ainda que poucas pessoas se lembrem do nome dos três.

Assim surgiu o amigo oculto. As regras mudaram. Hoje, nem mesmo o filho do chefe leva todos os presentes. A não ser que ele seja filho do Chefe, mas há mais de 2000 anos que isso não acontece. A intenção, porém, é a mesma: dar um presente a alguém que talvez você nunca tenha visto na vida. Ou não tem intimidade. Ou não se importa, mesmo.

Isso faz qualquer ser com telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor pensar no valor de suas amizades. Outro dia, abri a carteira e pude contar quanto me custaram algumas. Guardei na gaveta da memória, tranquei a chave e joguei na cápsula que estão mandando pro espaço. Obrigado, Nasa.

Conhecidos, são inúmeros. Colegas, quem tem é a garota da laje de Mesquita. Bons colegas, o pai dela. Amigos - no sentido strictu/latu/ponderadu sensu da palavra, são poucos. E, pela primeira vez na minha vida, percebi que posso contar nos dedos. Mãos e pés, mas bem menos do que imaginava.

Obrigado a todos os envolvidos no processo. Vou começar 2011 muito mais feliz. E gastando menos dinheiro com amigo oculto.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O corte da uva

Caminhando pelo galho da videira, a uva tropeça no cabo do arado encostado na árvore, deixado displicentemente por um dos empregados da fazenda, e cai em cima de uma erva-daninha. Rasga sua pele e abre a carne, deixando o caroço à mostra. Ela sangra, atraindo formigas. Mas, antes de que os sedentos insetos chegassem ao delicioso suco dos deuses beberrões, seu Toshiro - ou Takahiro, ou Matsushiro - encontra o pequeno corpo estendido no chão e o leva para a fazenda.

Lá, coloca o fruto do seu trabalho anual numa cesta, junto de outras que sofreram o mesmo corte (ou cortes devido ao mesmo tipo de acidente, ele nunca soube ao certo), e pisa em cima de todas. Parece um grande shiatsu frutal coletivo, mas é só ganância. Seu Japa, como é conhecido em Santa Bárbara do Oeste, está preparando o sumo para engarrafar e vender ao bar mais pé-sujo da cidade.

Assim é fabricado o famoso Sangue de Boi.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Toca Raul!

Quando eu tinha uns dez, onze anos, comecei a viajar mais com pais e irmão. De carro, sempre, porque pai gosta de dirigir e todo mundo curte ver paisagem. E também porque não rola aeroporto na região Serrana, ou Ubá, ou Brusque, ou etc.

Ao mesmo tempo, aquela foi a época em que o maravilhoso e inovador compact disc, vulgo CD, chegou aqui em casa. Veio num combo som estéreo-vizinhos-curiosos. E mais um monte de cantores e bandas, alguns de talento duvidoso.

Por algum motivo que não faço a menor idéia, com aquela idade eu comprei um CD do Raul Seixas. Por algum motivo ainda mais inexplicável, gravei numa fita cassete e levei numa das viagens que fizemos juntos, pra Friburgo. E os pais, que até então curtiam Trio Irakitan e Tina Turner, prestaram atenção na letra e passaram a pedir Raul sempre que pegávamos a estrada.

Corta para 16 anos depois. Eu e Alan crescidos, já tendo saído e voltado do país umas quantas vezes, pai e mãe já sabendo que em breve saio de casa de novo, voltamos a pegar a estrada. Sim, fomos pra Petrópolis, que é ainda mais logo ali que a África do Sul. Mas foi um belo passeio de dia e meio, com direito a susto familiar, ataque epiléptico de terceiros como pré-espetáculo no Palácio Imperial, fotos com uma Olympus EES-2 recém-encontrada num canto qualquer das coisas do pai e, acima de tudo, a querida união familiar revivida. Com um bônus:


Eu também prefiro ser essa metamorfose ambulante.

Mais e mais coisas boas estão de volta. Toca Raul!

nota: CD, som estéreo, K7, câmera fotográfica analógica; estou ficando velho.

sábado, 20 de novembro de 2010

Fui indo, fui indo, fui indo...

"Onde quer que vá, vá com todo o coração."
Confúncio

(anotem aí: a frase saiu desse (excelente) blog com sotaque lusitano)

Nos últimos oito anos eu mudei muitas vezes. Duas de país, com duas viagens extras. Deixei o trabalho por três oportunidades, quase larguei propaganda em pelo menos dois momentos da minha vida. Resumindo, um sobe-e-desce bizarro.

Daqui a pouco rola aquele combo fim-de-ano-planos-aniversário. Vou completar 28 verões boladões, com tantas e tantas coisas a comemorar. E muitas outras por fazer. Engraçado que, uns anos atrás, meus projetos eram todos carinhosamente pensados pra uma vida a dois planejada e desejada. Isso não existe mais. Ela não existe mais. Mas finalmente eu posso falar sobre o assunto. Sinal de que a vida está voltando ao normal.

Pode descansar em paz, seu Confúncio, porque eu não sei onde vou mas vou com todo o coração. Até o final.

domingo, 14 de novembro de 2010

- Sonny Rollins

- Fiuk.
- George Benson.
- Mara Maravilha.
- Elke Maravilha.
- Isso é uma clara demostração de que sua teoria das chapinhas estelares possui uma grande falha tectônica quanto à argumentação da realidade aumentada por Tadalafil, meu amigo.
- Sua retórica transversa retomada de acordo com a claridade xenófoba do microcosmos não condiz com seu pós-doutorado virtual em macroenergia freudiana medieval, e você sabe muito bem disso!
- Gente, calma, assim vocês vão provocar um desequilíbrio universal desenfreado que, em justaposição e contrapartida, será prejudicial ao carinho dos bebês de proveta. Será que nada mais importa pra vocês?
- Não. (rá tá tá tá tá tá tá tá tá tá tá tá)
- Com todo o respeito, meu caro, mas balas de tamarindo chacoalhadas neste recipiente metálico não matam ideais de doce de leite com clima de montanha.
- Então vou embora, que amanhã eu trabalho.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Castelos de areia...

...às vezes se desfazem no mar.


And it really didn't have to stop, it just kept on going.

Clássico é clássico (e vice-versa).

sábado, 6 de novembro de 2010

Vingança

Tem vezes que vale muito a pena.


Foi pênalti, Arnaldo? Eu perguntei ao Caio e ele tem dúvidas.

Hope you guess my name

...aí o Alexandre entra no blogger cheio de idéias e dá de cara com "666 postagens" na página inicial. Analisando a coincidência e possíveis sinais, decide deixar o texto pra depois e prestar homenagem a uma de suas bandas preferidas.

Melhor fazer isso que bancar o sabido e fazer cagada. "Malandro que é malandro, não é malandro."


"Been around for a long, long year". Queria ter voltado pra casa em 1972.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O sexy e plagiado selo Procel

Com a casa em obras, o pai resolveu mexer em coisas até então intocáveis. Algo que não faz o menor sentido, já que tudo numa casa pode ser mudado. Mas a tradição (também conhecida como cisma) impera em vários aspectos da família. A zebra ficou por conta do ar-condicionado.

Os antigos eram realmente antigos. Um, inclusive, deve ter chegado com a Telefunken que, até um tempo atrás, só sintonizava bem a Globo, e o SBT com mais fantasmas que Poltergeist. A mesma TV que era usada com o Atari que eu tinha quando pequeno. O caso é: já que era pra mudar, que fosse mudar ou... mudar de vez. De uma tacada só, três aparelhos chegaram pela entrega da (péssima) Americanas.com.

Como o pai não pode pegar peso, coube a mim e ao Alan subir com eles e pôr no lugar dos antigos. Foi então que percebi o quanto a humanidade evoluiu. Porque trazer os eletros novos foi fácil, me senti o Huck Hogan. Mas descer com os outros... Sinceramente, quem diz que pra baixo todo santo ajuda nunca teve que carregar um ar-condicionado antigo. Eles pesam mais que a Preta Gil, certeza que eram projetados como método moderno de tortura. Porque ninguém consegue levar o trambolho no braço numa boa. Às vezes, pra ser sincero, parecia que eu e meu irmão éramos pouco. As peças de plástico dos novos, que pai e mãe tanto reclamam que "são vagabundas, vão fazer o troço durar pouco" etc têm exatamente a mesma serventia das feitas de metal, perfeitas pra quem sente aquela incontrolável necessidade de uma vacina antitetânica.

Ou seja, o homem precisou de décadas pra perceber que não é a maldita parte externa que faz dos eletrodomésticos bons aparelhos, mas sim a interna. Gastamos recursos à toa. E ainda damos trabalhos pra filhos legais que pretendem poupar a saúde dos pais, ainda que isso signifique um projeto de hérnia de disco antes dos 40 anos.
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Ahan. O "sexy e plagiado selo Procel". Faltou dizer que, das três novidades papáticas (palavra que significa "do pai" - sim, sou um natoneologista), a única que não tomou lugar foi a do meu quarto. Como sempre. Um, porque é o único que fica no alto e isso dificulta a troca. Dois, porque qualquer coisa que dificulte o que quer que seja vira assunto pra depois, aqui em casa. Vulgo rodei.

Enquanto o ar fica no chão do cafofo me olhando com um irritante ar de deboche, sou obrigado a encarar o selo do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Um smiley dividido ao meio, o que responde à parte do plágio. Com a metade esquerda dormindo sorridente, como se estivesse no meio de um sonho erótico.

Pelo menos esse ar-condicionado vai poupar energia. Afinal, eu sei que ele não vai ser trocado tão cedo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ritmo de festa

Voltar ao trabalho depois de apenas um mês no Brasil é excelente. Entrar de cara numa agência multinacional é exatamente o que eu queria, pelos planos que tenho pra minha vida - refeitos nos últimos meses e já bem assimilados. Mas o melhor é que tenho saído cedo diariamente.

NOT!

Em uma semana e meia, um sábado inteiro e uma manhã inteira de sábado trabalhando. Uma reunião até às 23h de uma sexta, outra até 0h de uma segunda, mais duas reuniões no cliente e duas sextas assassinadas sem piedade. Tudo com meu velho conhecido, o tal empreendimento imobiliário.

Não estou reclamando, longe disso. Mas não vejo a hora de voltar aos meus queridos conceitos, ações e demais malemolências extra-construtoras que me trouxeram até aqui. Ainda que, no momento, o aqui seja o sofá da sala dos meus pais, vendo Eagles 17 x 10 49ers.

***

Mas calma, isso ainda não acabou! Preciso comentar duas coisas:

Um, gostei muito de visitar o apê de um casal de amigos. Todo bonitinho, arrumadinho, deu até vontade de casar. E ainda vi o vídeo com meu discurso de "padrinho de honra" e a festa. Maneiríssimo. Uma noite de sábado feliz demais.

Dois, vi Tropa de Elite 2. Admito, não tenho a menor pena dessa galera que mete bala pelas costas e taca fogo em gente tomando tiro - seja bandido, policial ou miliciano. Como diz meu pai, "direitos humanos, só pra seres humanos". Infelizmente, ao mesmo tempo perco as esperanças quando penso que as mudanças do nosso país estão nas mãos de políticos em sua maioria tão criminosos quanto bandidos, policiais e milicianos.

Pra completar a crueldade, as opções pra 31 de outubro (aliás, data tão cruel quanto, no meio do feriadão) são Dilma e Serra. Pela primeira vez na minha vida, estou pensando em justificar o voto.

***

Pra não fechar o texto de forma triste, uma música pra alegrar a segunda-feira de vocês. Um ícone. Um mito. Uma poesia magistralmente representada:


Vai! Vai! Vai! Vai!

domingo, 3 de outubro de 2010

Zico

A primeira e única vez que vi o maior ídolo da história do clube mais querido do mundo jogar foi na sua despedida. Como torcedor grato por suas façanhas e amante de futebol, acompanhei seu sucesso no Japão (onde ganhou uma estátua por tudo o que fez), a criação de um clube com o seu nome (que só não foi mais longe pela politicagem e roubalheira que imperam no país), sua tentativa de auxiliar o Zagallo quando este já estava gagá e queria que as pessoas o engulissem e outros tantos fatos que cito na categoria etc.

Como outros 35 milhões de rubro-negros eu rezei, desejei, esperei e sonhei com o dia em que ele voltaria para o clube que o criou, onde escreveu algumas das páginas mais bonitas da sua vida - e de muita gente. O esperado retorno para excomungar os vermes que proliferam no clube e consomem livremente seus recursos e nossas esperanças. Não seria mais Zico, o craque. Seria Zico, o herói.

Há quatro meses, o sonho se tornou realidade.

Nessa sexta, o sonho morreu.

No dia primeiro de outubro de dois mil e dez, uma nação inteira acordou dentro de um pesadelo. O clima pesado, as acusações absurdas e a artilharia na direção do ídolo surtiu efeito. Zico se desligou do departamento de futebol com palavras que doem tanto nele quanto nos que são flamenguistas de verdade: "morreu no meu coração esse Flamengo de hoje que está representado por essas pessoas".

Falo de coração - doído como o dele - que sinto vergonha do Flamengo. Não do manto sagrado, mas da corja que destrói o clube há décadas. Dos bandidos fantasiados de dirigentes que desrespeitam a instituição. Das torcidas organizadas repletas de marginais que apóiam um cretino aproveitador como esse tal de Capitão Leo, um ser desprezível que deveria estar longe da Gávea. Dos torcedores que têm a audácia de concordar com essa palhaçada e acusam o Zico de pipocar - quando a presidenta (entre milhões de aspas) prefere dar suporte ao seu cabo eleitoral. O tal do Leo. O tal que conseguiu a proeza de ter mais voz que o Galinho de Quintino. Além da vergonha, claro, do bando que veste a camisa sem a menor condição de aguentar seu peso e honrar sua tradição.

Fiquei sinceramente emocionado com a carta de demissão do Zico. Tive a nítida sensação de estar lendo uma carta de suicídio. Que, sem querer, mata outras 34.999.999 de pessoas.

Torço porque o amor é um sentimento irracional. Mas seria mentira se dissesse que amo esse Flamengo.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pescado no Twitter

Champions aren't made in gyms. Champions are made from something they have deep inside them. A desire, a dream, a vision. Muhammad Ali


Voltamos à programação normal.

domingo, 26 de setembro de 2010

Futebol

Eu jogo, vejo, acompanho, discuto, torço, compareço. Mas esse time do Flamengo me dá um desânimo impressionante, a ponto de escrever esse texto antes mesmo de acabar a partida no Parque das Águas, também conhecido como Lagrimão, oficialmente chamado de Engenhão. A casa de bonecas do Botafogo.

Não esperava o hepta em 2010, confesso. Mas uma vaga na Libertadores era sonhável. Na copinha, aceitável. Brigar com o Patético Mineiro pra não descer, inaceitável.

E, enquanto falava com o Alan, as Felipetes fizeram o terceiro. Fim de jogo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Pílulas de ódio

Meu lado calmo e pacifista costuma ser substituído por um Alexandre rancoroso e vingativo quando me sinto injustiçado ou traído. Nos últimos seis meses, um punhado de pessoas entrou na minha lista negra. Coisas da vida.

Mas hoje surgiu um novo elemento de ódio extremo. Não sei o que é pior, se a raiva de pessoas próximas ou a que sinto por conhecidos recentes. Mas o fulano desta quinta-feira terá seu revide. Faço questão.

Depois da minha dose diária de ódio, já posso dormir tranqüilo.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Respire


All you touch and all you see is all your life will ever be.

Não me lembro dia, ano ou hora. Sei que foi na Apoteose e que eu estava lá, cantando de olhos fechados, correndo o risco de perder minha carteira. Mas, naquele momento, só pensava em Breathe. Música, porque a respiração é comandada por movimentos involuntários dos músculos.

Os anos passaram, as pessoas passaram, outros eu passaram. E "breathe/breathe in the air/don't be afraid to care" faz ainda mais sentido agora do que no dia em que minha voz fez coro com milhares de outras tão emocionadas quanto a minha.

Tudo o que fiz desde então foi olhar em volta e escolher meu lugar. É verdade que ele vive se mexendo, e às vezes fico mais perdido que gringo no samba ao tentar me equilibrar e encontrar meu espaço calmo e feliz. Bom, não necessariamente calmo. Mas, sem dúvida alguma, feliz.

Não sei aonde vou chegar, nem quem vai estar comigo quando eu estiver lá. Certo é que estarei. E darei a vida mais maravilhosa pra quem tiver sido paciente e presente em todos os momentos. Para essas pessoas, eu devo tudo. Por essas pessoas, eu faço tudo.

E também cheguei à conclusão que preciso ir a outro show tão bom quanto o do Roger Waters. O que vai ser muito, mas muito difícil.

domingo, 19 de setembro de 2010

Um domingo desses

Você olha no calendário e percebe que passou daquele dia que não se lembra mais. Já está na hora de levantar, e pra isso é preciso passar por debaixo da escada. Três passos à frente, um gato preto muda de roupa e tira os pêlos do bigode diante do espelho enquanto prepara um café com leite. Forte. Muito café.

No corredor há uma passagem que leva ao universo paralelo da sua mente, que está aberta a novas possibilidades mas cobra pedágio. Não custa tanto, mas você está com pouca grana. Resolve vender um pouco de tempo pra se capitalizar, mas tempo nem sempre é dinheiro. Às vezes, uma boa história toma tempo e vale muito mais. Ou menos. Isso, mais ou menos.

Olhando por trás das lentes do monóculo, existem oito pares de olhos vermelhos e famintos. Quem tem fome tem pressa, e você decide correr. Com, contra, para, ainda não sabe. Nem se importa. As portas passam muito rápido, e vão se fechando conforme janelas se abrem. Algumas oferecem uma nova brisa, outras tentam acertar sua cabeça enquanto acelera o passo. Tudo é muito nada nesse conjunto de possibilidades solitárias.

Você se sente sozinho. Você se senta sozinho. Logo começam a aparecer pessoas à sua volta, vozes distantes que fazem eco aos seus pensamentos. Quem traz é o vento, ou o garçom. Elas vêm do fundo do copo metade cheio ou metade vazio. Melhor ver sempre metade cheio.

Daí se enche e resolve começar tudo de novo. Olha no calendário e percebe que passou daquele dia que não se lembra mais. Mas você já está de pé.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

13 de setembro

Um dia que já passou. Como as coisas mudam.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pecado capital número 5

Dante disse, algum tempo atrás (bem antes de eu nascer), que a ira é o "amor pela justiça pervertido a vingança e ressentimento". Concordo. Assim me sinto uma pessoa mais justa enquanto odeio outras.

Eu odeio amigos. Ou melhor, atuais semi-futuros ex-amigos. Quem mente, esconde, toma partido e ajuda você a se afundar na má fase não pode ser considerado amigo(a).

Eu odeio políticos. Com a sempre exclusão do Chico Alencar desse grupo, por gosto e confiança. Eles mentem, compram votos e fingem que não se importam com a meleca que a criança colou na camisa deles.

Eu odeio juízes de futebol. Esse tópico entrou porque escrevo o texto enquanto vejo o Flamengo ser prejudicado por um saco de batata vestido de preto. Jogador expulso, pênalti não marcado etc. Até quando o cretino do Ricardo Teixeira vai fazer isso? Tá de birrinha porque o Flamengo não votou na sua eleição ou é retaliação pela discussão da taça das bolinhas? Porque eu tenho uma sugestão do que você pode fazer com ela, e só não sugiro ao São Paulo porque eles aceitariam. Se é que já não pensaram nisso.

Eu odeio o time do Flamengo. E tenho pena do Zico, que está arriscando anos de história pelo amor a um clube que parece não querer ser ajudado. De quebra, também tenho pena do Silas, que não podia recusar a batata quente que caiu na sua vida tática.

Eu odeio despedidas. Cada vez que vou embora de algum lugar, fico triste e sofro como se fosse a um show do Jorge Vacilo. Sozinho. Em Inhaúma. Numa terça-feira chuvosa. De ônibus. Mas, como nesse caso eu deveria me odiar - já que a culpa das despedidas é minha - eu relevo um pouco e penso no lado positivo da saudade e boas recordações.

Eu sei, a ira não resolve minha vida. Mas não acredito em pecado, céu e inferno, essas coisas de quem tinha tabela de preços pra pedaços de madeira e tem um nazista anti-camisinha como líder. Além do mais, como vivo de escrever e gosto de valorizar cada reação apaixonada que sinto, até que uma raiva contida sempre prestes a explodir no momento inoportuno é legal.

E ainda tem aquele lance que gosto muito, a tal da vingança. Se você estiver na minha lista, cuidado.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Re(rerererere)começo

Quem disse que eu tô rindo? Isso é uma forma onomatopeica de representar outro combo de mudanças na minha vida, que começou no dia em que decidi ir pra Barna. Um ciclo que ainda não tem data pra fechar, e segue dando voltas interessantes.

As próximas semanas prometem fortes emoções. Além de uns quantos recomeços. E a verdade é que eu tô curtindo muito isso.

O que pede um Bajofondo.


Tiempo mejor, cielo de miel, ahora que sale el sol...y empieza a calentar la piel.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Até logo, Mário Filho

Mário Filho era filho do Mário. Não aquele da piada, ou pelo menos eu acho que não. Na vida passada, jornalista. Nessa, estádio. O maior do mundo até algum tempo atrás. O mais charmoso. O com mais histórias, algumas tristes e muitas felizes. Casa do todo-poderoso Mengão, dono do recorde de público do Campeonato Brasileiro com mais de 155 mil pagantes em um Flamengo e Santos, final, taça nossa, grito de tricampeão.

Quem já foi ao Maraca alguma vez na vida sabe o sufoco que é (era) comprar ingresso, com uma horda de cambistas passando a frente e oferecendo o lugar 247 vezes mais caro no dia do jogo. Assim como é (era) horrível entrar numa fila que parecia o delta do Nilo até chegar perto da roleta, pra então virar um buraco de agulha na hora de entrar na área do estádio.

Quem já foi ao Maraca alguma vez na vida também comprou cerveja cara lá dentro, e depois passou a não poder comprar cerveja nem nos arredores. Legalmente, porque o amigo isopor sempre chamava na espreita. Com certeza, passou pelo perrengue de ficar num lugar ruim, sentar na escada, ter que vigiar o bolso enquanto xingava o juiz, viu a menininha tomar um copão de xixi na nuca, saltou degraus com mais técnica que o João do Pulo - só que pra fugir de confusão.

E quem foi ao Maraca sabe-se lá quantas vezes, como eu, entende que a emoção de cantar com a torcida (no meu caso, com a Raça e a Fla-Manguaça, desde a época do Marcelo Tijolo ou antes, nem me lembro mais) é maior e mais forte que qualquer um desses contratempos.

Vi o Flamengo vencer inúmeras vezes, ser eliminado de forma dolorosa, jogar com raça e ser vaiado pela falta dela. Não importa. Poucas coisas nesse mundo são tão emocionantes quanto ver o manto sagrado saindo do túnel, os jogadores pisando no gramado e acenando pra torcida enlouquecida. Independentemente do resultado. O Maracanã é lindo, místico, insubstituível.

Mas não irretocável. Hoje foi o último jogo no templo, que será fechado por mais de dois anos pra obras. E eu não pude me despedir. Tudo bem, o Flamengo empatou com o Santos - mesmo jogando melhor. Não foi o até breve que os milhares de presentes esperavam. Mas tenho certeza que foi emocionante, principalmente pra quem ama o time e o esporte. Como eu. Que estava na frente da TV com cabeça, coração e cordas vocais no anel superior, atrás do gol do lado esquerdo da tribuna de honra. Triste por não estar fisicamente. Mas feliz de ver a galera incentivando até o final, numa clara história de amor eterno.

Não conheci o jornalista, mas tenho certeza de que é muito feliz como o estádio. E por fazer parte dessa história.

Até logo, Mário Filho.


Acima de tudo, rubro-negro!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A baleia jubarte

Com seu vermelho característico, ainda que raro para a espécie, lá estava a Jubarte olhando o mundo à sua volta. Muitas coisas com carinho, outras com saudosismo, uma com certa raiva. Sim, porque as jubartes, como qualquer mamífero, sentem raiva.

Ela sabia que estava ameaçada de extinção. Ainda assim, resolveu seguir na imensidão do oceano, acreditando que a época de migração logo chegaria ao fim e ela estaria de volta, sã e salva, ao seu amado habitat. Horas e dias e meses de viagem, muito plâncton comido, muito vivido pelos mares para contar aos seus filhotes. Uma existência só existe realmente se há histórias, pensava. Mas se esqueceu de que nem todas são boas.

Assim como as pessoas. O ser humano interessado na preservação da jubarte, por exemplo, era mau. Escondia seu lado desequilibrado sob um risonho rótulo ambientalista. E se aproveitou da crença mamífera da baleia para fazer o que quis enquanto ela estava fora. Protegeu outras espécies, militou por outros animais. Tão irracionais como este ser humano específico. E a pobre jubarte, após nadar aquela imensa massa de água até sua terra natal e se deparar com tamanha irresponsabilidade, sentiu um oceano inteiro pesando nas suas costas. Na sua vida.

Felizmente, como todo mamífero racional e emocional, a jubarte tem seus truques. Emergir, expelir a água salgada e seguir em frente, por exemplo. Ela sabe que, olhando aquele mundo à sua volta, um pequeno ser (ou seria um ser pequeno?) que um dia cruzou sua corrente marítima não fará a menor diferença em uma vida livre e feliz, e por isso plena. Coisa que aquele pobre peixe de aquário nunca vai entender ou alcançar.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Não dá pra levar o Brasil a sério

atenção: texto com alto índice de ódio, ira, rancor, raiva e resmungo - mas razoavelmente irônico, pra aliviar a leitura

Eu voltei pra casa no momento errado. Além de tudo - principalmente, pessoas especiais - que deixei em Barcelona, cheguei no país justo na época das eleições. E o que tenho visto está conseguindo minar até minha fé inabalável de que o Brasil tem jeito.


O que é que faz um deputado federal?

Mas a culpa não é do abestado aí de cima. É minha. Infelizmente, resolvi deixar no horário eleitoral agora à noite. Promessa vazia vai, candidato reconhecidamente corrupto vem, aparece o Sérgio Cabral. Tenho pena do meu pai, que tem o mesmo nome dele. Porque é uma desonra ser homônimo de alguém como ele.












Puxa meu dedo pra você ver uma coisa!

Eu não vou entrar no discurso completo dele antes que comece a espumar em cima do teclado, perca minha saúde e uma grana na assistência técnica do Crush, meu laptop. Mas o que me deixou mais revoltado foi escutar a história do bilhete único.

Calculadora na mão, crianças. Você paga R$ 4,40 por dois transportes públicos. Mas a passagem simples custa R$ 2,20 num ônibus urbano e R$ 2,35 num intermunicipal (se estiver errado me avisem) - ou seja, você está economizando no máximo 30 centavos. O cartão do bilhete único não substitui o Riocard. Você só pode pegar dois transportes, então se vai de São Gonçalo a Seropédica eu não faço a menor idéia de como resolver o quebra-cabeça. E, conhecendo o trânsito carioca como eu, 2h35 pra fazer baldeação não significa muita coisa se a pessoa pega a Brasil, Lagoa-Barra ou outras mil avenidas movimentadas da cidade.

Resumindo a enganação: o bilhete único não é único, nem mesmo bilhete. É um cartão a mais pra você colocar na carteira e rezar pra conseguir usar a cada dia.

E é uma das plataformas do Sérgio Cabral. Que está uns 30 pontos à frente do Gabeira, e deve ser eleito no primeiro turno.

É bom o Brasil me dar algum motivo extraordinário pra acreditar nele, senão vou repensar seriamente a história de que aqui é meu lugar.


Por isso que eu me mandei daqui! Povo ignorante! Ahhhhhhhhrrrrrrrghhh!

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

hocus pocus focus

Where's my head at, Basement Jaxx?


we can't evolve alone without you

domingo, 29 de agosto de 2010

De lua

A alteração do nível das águas do mar, ou maré, é diretamente influenciada pela interferência gravitacional lua no campo de gravidade terrestre. Talvez venha daí a expressão "de lua". Ou talvez, das quatro fases que o satélite possui. Quem souber me explicar, agradeço.

O Brasil é um país ensolarado. Milhares de quilômetros de praias. Milhões de pessoas espalhadas pelas areias do litoral. Eu sentia falta disso. Por outro lado, sempre fui da noite, de insônia por dias seguidos, de fazer qualquer coisa em vez de deitar pra tentar dormir. A lua marca presença forte na minha vida desde jovem. E ganhei um grande aliado pra manter esse ritmo noturno: o fuso horário.

Ir embora de Barna na quarta-feira passada foi como abandonar a própria casa às vésperas de um ataque nuclear. Saí com a sensação de que ficou muita coisa na cidade. E ficou. Ou melhor, ficaram. Pessoas. Maravilhosas, únicas e importantíssimas na minha vida. Não faz diferença se já conhecia antes de chegar ou se conheci um par de semanas antes de voltar. Todas têm um lugar eterno na minha história, que tem tudo pra seguir cada vez mais nossa. Que tem tudo pra ser construída em parceria.

Ontem eu recebi um fundo de tela o horário espanhol ao lado do daqui. Outro presente tão simples quanto importante. Porque eu sempre fui inconstante, de lua. Mas estou seguro de que o vivido nesses 11 meses, de El Prat a Gran Via de Les Corts Catalanes, veio pra ficar. Pra sempre. Com a ajuda da minha querida lua.

Ah!, meu Brasil...

Pela segunda vez na minha vida, participei de uma maratona. Não por acaso, promovida pela mesma empresa da anterior - só que um caminho inverso. De quarta para quinta, a Alitalia me fez percorrer milhares de quilômetros entre Barcelona, Roma, São Paulo e Rio de Janeiro.

Antes de dar minhas impressões da reentrância no planeta tupiniquim, duas dicas pra meus queridos leitores:

Um, sempre peçam para viajar na saída de emergência dos aviões. As poltronas daí oferecem ainda mais espaço que as da primeira classe. Você só precisa saber falar inglês e não ter um problema como ser cadeirante ou estar grávida (sim, por lei estar grávida é um problema e impede você de viajar ali). E, convenhamos: se a aeronave cair, você não vai poder fazer nada - como abrir a porta de emergência. Você morre. Mas a chance de ele cair é tão grande quanto a do Botafogo ser campeão brasileiro com o Natalino.

Ou seja, você viaja com um latifúndio de espaço a troco de uma hipotética oportunidade de salvar a galera caso algo aconteça. Nada mal.

Dois, nunca deixe de tentar trocar seu vôo só porque a empresa X disse que não tem vaga. Se for uma como a Alitalia, provavelmente eles estarão errados. Eu troquei 10 horas de espera no aeroporto de Guarulhos por 30 minutos de correria para chegar oito horas antes. Com uma bela ajuda do pessoal da TAM. Ponto pra eles.

E foi assim que pisei em território ensolarado de sotaque bonito na hora do almoço. Um sinal do que estaria por vir (comida de mamãe, quatro pratos fundos que me deixaram esparramado no chão da sala por algum tempo). Mas confesso que essa pequena orgia gastronômica, e a óbvia felicidade de estar junto aos que amo tanto, não apagou a péssima sensação que tive do país ou a saudade que o outro lado dessa poça gigante chamada Atlântico deixou em mim. Vou falar disso no próximo texto, porque esse é exclusivamente para resmungar (agora, resmunga você).

Ruas esburacadas. Carros da PM com fuzis pra fora da janela. Favelas em todo o caminho. Trânsito caótico. Cartaz do Eurico com o irônico "ficha limpa" escrito ao lado da cara (de pau) e isso de propaganda eleitoral. Noite cara. Dia caro. Bukowski mal freqüentado. Café no Starbucks a 10 reais.

Eu amo o Rio, amo o Brasil, mas o tempo passa e parece que a gente não aprende nada. Assim é difícil de defender o país. Né não, mestre?


Isso é coisa do satanás!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Dentro de mais uns minutos estaremos no Galeão

Esse samba é só porque eu estou com um pé no Rio de sol, de céu, de mar. Após 11 meses catalães, emoções fortes e uma seqüência de até breves, chegou a hora de empurrar a muamba goela abaixo da mala e deixar um rastro de lágrimas até o aeroporto. Não estranhem se surgir um novo afluente do Llobregat.

Todo império tem sua ascensão, apogeu e queda. A vida funciona da mesma forma. Pensar nisso é o que me faz relevar o que/quem tanto quero bem e deixo na Europa. Afinal, eu não só vou ver, ter e viver tudo isso de novo como deixo Barna no momento em que mais coisas boas me passavam.

É chato? Sim, pensando no que vai ficar em estado de espera. Mas é feliz e bonito saber que deixo a cidade no auge das minhas experiências. O que for pra ser, será. E confio totalmente no futuro.


Rio de Janeiro, Rio de Janeiro...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Surpresa!

Pouco antes de ir embora, a Espanha me dá de presente uma surpresa mais. Daquelas que você só acredita vendo. Vivendo. Sentindo. Inclusive ao pensar que a vida dá voltas, e será preciso esperar mais algumas para estar no mesmo lugar. Não necessariamente físico, mas certamente espiritual.

Barcelona vai deixar saudades.

sábado, 21 de agosto de 2010

Cuidao!

Schweinsteiger é um jogador alemão. Diga seu nome em voz alta e irá soar a xingamento seguido de ameaça de morte lenta e dolorosa ouvindo Justin Bieber num bar de Bangu sem ventilador. No entanto, Schweinsteiger quer dizer "gestor de porcos".

Antes de dizer alguma coisa, esteja seguro do que fala.
















Botafoguense, não!

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Há tempos nenhuma alma deixa registrada sua passagem pela Ponte, ainda que veja a freqüência de visitas pelo Google Analytics. Assim que não sei se vão escrever alguma mensagem de apoio, piada ou votos pra que fique por aqui. Mas não custa nada lembrar que faltam cinco dias.



M'en vaig ja.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Você é chato

Toda regra tem sua exceção. Mas gente chata é gente chata e ponto final, ainda que tenha um bom coração ou saiba jogar Resta 1. Assim, lanço um guia rápido pra ajudar a reconhecer - e, com isso, ter a chance de evitar - aquela mala que se aproveita da Lei de Murphy pra colar em você nos momentos mais inoportunos:

Ah, é? Uma vez, eu...
Você fez uma coisa muito legal. Ele fez uma ainda mais legal. Você tem um amigo xis. Ele tem um amigo dois xis. Você tem uma namorada. Ele tem cinco, e ainda mais bonitas.

Todo mundo conhece aquela pessoa que sempre se lembra de alguma coisa melhor que a sua. Normalmente, logo depois de você contar sua coisa. Seja por necessidade de auto-afirmação, espírito competitivo ou orgulho, gente que quer provar ser melhor que todos em tudo o tempo inteiro é um saco. Ainda que algo seja verdade, se ela fosse melhor que o resto do mundo não precisaria dizer, seria conhecida assim. O que prova o exagero ou mentira. E que ela é uma pessoa chata.

Barcelona acabou com minha paciência pra gente assim.


Aumentei minha série na academia de novo essa semana
E daí? Eu não gosto de malhar. E, mesmo que gostasse, não seria pra competir com ninguém. Isso prova a teoria de que a maioria dos caras faz musculação tentando superar o fulano do lado que ele nem conhece. Vai lá, garotão, rala aê! Mas daí a encher o saco dos outros com histórias de voador, supino e tríceps alternado é demais pra um ser humano normal.

Vai malhar o cérebro. E larga de ser chato.


Não acredito que você vai ver esse filme!
Nem precisa acreditar. Não te convidei, não espero te ver no cinema e, se possível, não quero mais te ver. Porque se você reclama do filme que os outros vão assistir, não deve ser uma pessoa muito agradável de se manter uma conversação. É o tipo de gente que vai no McDonald's e reclama que o sanduíche é gorduroso. Por que foi, então?

Porque é chato.

Um parêntese: vale fazer piada com filmes. Com qualquer coisa, na verdade. Mas existe uma diferença enorme entre piada crítica e critica pura, desnecessária e fora de hora. Além do abismo entre palavra e ação, como contar uma piada de judeu e jogar o cara no microondas. Nunca ria com gente assim, você legitima o ato. Ser chato já é ruim o bastante, não precisa ser cretino também.


Segunda foi bizarro, terça tive reunião, quarta...
Não é à toa que o espaço de tempo compreendido entre sexta à noite e domingo pós-Fantástico é conhecido como fim de semana. A semana laboral acabou. E, junto com ela, toda essa história de meu chefe disse, fulano acabou com a água do bebedouro, a secretária não me deu bom dia.

Sim, algumas histórias são interessantes. Pois se concentre nelas e faça as pessoas se divertirem. Ninguém quer ter a sensação de estar no silvisso quando está com seu chope, jogando cantadas pra mesa ao lado/curtindo aquele clima de romance com sua companhia sentimental.

Por favor, trabalhe sua chatice.


Então, eu sou a Maria
Então é uma palavra-chave pra se entender o paulista. Está para eles como tchê está para os gaúchos, sendo que é usada no início de cada frase e não ao final. Alivio um pouco a barra dos manos porque tenho amigos de lá, mas tudo tem limites. Sendo mais claro:

Alguém: Que horas são?
Paulista: Então, são quatro e meia.

Começar frases com então é um vício de linguagem. Um que deveria ser tratado pela OMS. E, por mais que possamos relevar certos vícios de amigos, como emitir gases poluentes em salas fechadas durante partidas de futebol ou tomar cerveja se babando, não dá pra escutar um então a cada dez segundos.

Você começa todas as suas frases com então? Então, você é chato.


Você viu que Fulana e Beltrano se separaram?
Não, não vi. Nem queria saber, porque não me interessa. Mas você me contou, e isso não altera em absolutamente nada minha vida, não muda a trajetória do planeta nem acaba com a pedofilia na igreja. Então, que diferença faz?

Nenhuma. Mas você adora se informar sobre a vida alheia. Ama fofoca. Queria viver na ilha de Caras. Mas como não tem câmera e/ou coragem pra se tornar um paparazzo, grana pra viver como um rico ou bunda/abdome/rosto (nessa ordem) pra se tornar uma subcelebridade, retira seus assuntos da bíblia.

Se é nesse tipo de gente que você se espelha e deles tira o que falar numa mesa de bar, na verdade você não tem o que falar. Mas eu, sim. Você é chato.

Quem quiser colaborar nos comentários com outros tipos de chato pode escrever à vontade. Aumente a lista, melhore o serviço de utilidade pública, ajude o processo de seleção natural. Darwin ficaria orgulhoso de você.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

As voltas que o mundo dá

A cabeça dele não parava de girar. Estar dentro da montanha russa mais espiralada do mundo - a Space Ultra Marvellous Supernatural Kinky Adventure, Dona Morte para os íntimos - ajudava consideravelmente. Sua mente era um catavento excitado dentro de um ciclone tropical no cio. Ou algo do tipo.

Duas horas depois de deixar a Space Ultra Etc, sua cabeça ainda rodava. Ficar nervoso não tinha nenhum efeito positivo, mas e daí? As pessoas ao seu redor giravam, e isso não substituía Maracugina. Era como se elas brincassem de ciranda. As crianças realmente brincavam, mas os adultos?

Começou a suspeitar de que tudo era um complô contra sua sanidade. Ele era inteligente, sabia de muita coisa e tudo estava guardado a sete sinapses, já que não confiava em blocos de notas - muito menos o do sistema operacional do seu computador, que vivia ameaçando reportar falhas ao fabricante. Um disfarce bem amador pra enviar qualquer anotação armazenada no disco duro. Pro inferno, essas multinacionais capitalistas curiosas e conspiradoras!

Complô ou não, pronto os carros começaram a girar incessantemente, e não estava seguro se em uma rotatória ou no sinal vermelho. As bolas rolavam redonda nos jogos da segunda divisão alemã. Os políticos davam voltas no mesmo tema, ainda que isso o surpreendesse menos. As músicas tocavam em looping. O cachorro à pilhas da sua sobrinha, fabricado na China como tudo que seu irmão tinha em casa (incluindo sua esposa), seguia dando cambalhotas. Mulheres na esquina da sua casa rodavam bolsas.

Estava ficando enjoado. Pela situação, e por seu cérebro haver completado o equivalente a oito voltas ao redor da Terra. Talvez mais. Ele não sabia ao certo porque evitava contar a Itália. Correu para o banheiro de casa - depois de um mês e meio nesse estado, não tinha muito ânimo pra sair a dar uma voltinha - a ponto de vomitar. A água da privada girava, e em sentido anti-horário. Era demais pra qualquer ser humano em processo avançado de degeneração mental.

Ao se virar para se olhar no espelho, e se dar conta de mais essa volta, perdeu totalmente a razão e tomou meio frasco de desentupidor de ralos. Meio, porque estava de dieta. O chão de ladrilho não estava muito limpo, mas ele nem se importou, caiu de boca e quebrou dois dentes. Além de morrer, infelizmente.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Muricy

Ele é um cretino mal-humorado e mal-educado e fiquei feliz de que não tenha assumido a seleção, mas admito que é extremamente competente e está fazendo um trabalho tão bom no Fluminense que até o Diguinho, o Guti brasileiro, está jogando futebol. Se o pó-de-mico for campeão esse ano, minha alegria de ver os paulistas tendo que engolir outro carioca levantando a taça vai se mesclar à apurrinhação de ouvir os tricotadores enchendo o saco, e o seu Ramalho cuspindo ácido sulfúrico nas entrevistas.

Só escrevi isso pra mostrar que continuo atento ao futebol brasileiro. Mas o importante é que já vejo sinais de uma arrancada espetacular como a do ano passado rumo ao hepta rubro-negro. Vamos, Flamengo!

sábado, 14 de agosto de 2010

Añoranza

Dizem que a palavra saudade só existe em português. Em galego também, mas não importa. Certo é que os espanhóis têm uma palavra equivalente: añoranza. Exatamente o que sinto agora, relembrando que acabo de me despedir do Alan e só vou vê-lo daqui a 12 dias. Junto com meus pais, o Corcovado, o Redentor, que lindo, e tudo aquilo que deixei há quase 11 meses.

Mas minha añoranza também já se manifesta para as coisas que vou deixar na Europa: amigos, cidade, apartamento, ruas, restaurantes, discotecas, Spotify, catalão e castellano, jogos do Barça, metrô que funciona, Bicing, vôos baratos e tantas outras coisas que poderia passar o dia listando mas me fariam mais triste que outra coisa. Porque, por mais que eu aproveite, sempre acho que daria pra ter feito mais. E não é hora de olhar pra trás.

Nunca foi, na verdade. Mas chegou o momento de construir minha vida, montar minha família, ajudar a quem precisa, tocar projetos paralelos. Ser e ter o que sempre busquei. E, pra isso, é preciso tirar pa' lante.

Sei que a vida não é uma linha reta; minha trajetória vive me mostrando isso caso a memória falhe. Mas todos temos um ponto de chegada (além do cemitério, ou no meu caso doação de órgãos e crematório pro que sobrar), e fazendo nossa parte chegamos lá. Ou ali, pois quero estar o quanto antes.

Discordei de várias pessoas pra vir, discordo de várias pessoas pra voltar. Perdi ou me tiraram certezas intocáveis, sofri porque quis ou porque quiseram, tenho que recomeçar - de novo. Mas podem ter certeza: faria tudo outra vez.

As coisas são como têm que ser. Inclusive a añoranza.


Who says I can't restart?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Peça pelo número

Viajando durante minha última viagem, esperando minha tradutora pedir meu McAlgo no drive-thru de Lille, pensei meu Deus, que bosta é o McDonald's, será que eles nunca vão inventar algo realmente novo?

Como sou um cara legal e desprendido de bens materiais - além de não ter a menor vontade de trabalhar no McMarketing, resolvi deixar umas dicas pra eles. Quem tiver um contato lá dentro que repasse, à vontade.

McChicano
Um sanduíche para agradar a todos os amantes da gastronomia mexicana, além da enorme comunidade que tenta a sorte pulando o muro - no bom sentido, do México para os EUA. Inclusive, poderiam pôr um posto avançado na fronteira entre os dois países. Assim, eles teriam contato com a cultura (sic) estadounidense sem sair da sua terra. Que, provavelmente, é muito mais divertida.

Fora que isso faria a imensa comunidade mexicana no exterior feliz da vida. Só aqui em Barcelona, a rede faturaria milhões a mais por ano. E ainda seria politicamente correta. Afinal, já que os mexicanos cozinham, ao menos que seja uma comida conhecida.

Número: 70
Cardápio: pão moreno, carne moída, quesadilla, feijão, guacamole, mexixiquilitl, milho e chilli.










Isso, isso, isso, isso, isso!


McChino
A China é o país mais populoso do mundo, o que mais cresce, o que vive desbancando antigas economias e se consolidando como nova potência mundial... e não tem um mísero McMenu? Além de injusto, isso é uma grande burrice marqueteira. A rede poderia ganhar rios amarelos de dinheiro, e se posicionar como um grupo aberto a todo tipo de cultura. Seguro que aqueles olhinhos puxados ficariam tão grandes quanto os dos mangás japos ao ver McCoisas em sua terra.

Número: 49
Cardápio: pão pequeno, carne de cachorro, arroz, amendoim, shoyo, gengibre e açúcar.












E eu comendo perereca!

McGyver
Mais que um sanduíche, um estilo de vida. Mais que uma homenagem, uma forma de incentivar o DIY way of life - o clássico se vira, neguiam! Mais que MacGyver ou McDonald's, McGyver.

Número: x
Cardápio: canivete suíço.
Menu light: clip, chiclete e caneta.












Isso que eu tô enrolando? É... um sanduíche... em forma de charuto... receita da vovó.


Quando você estiver comendo algum desses menus, não se esqueça de comentar em voz alta que conhece o inventor dos quitutes.

domingo, 8 de agosto de 2010

Cabeça

A minha é rara, eu sei. Lembranças vêm às vezes, a armazenagem de dados mal funciona e, ainda assim, sempre tem alguma coisa que volta à tona em horas inoportunas. A de hoje, pelo menos, trouxe junto um som legal. Triste, mas lindo. Verdadeiro. De um filmaço.


Everybody's gotta learn sometimes. Ou não.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Silêncio, ou "um daqueles textos auto-censurados"

A não ser que vocês leiam meus textos em voz alta, o que seria um pouco estranho, a Ponte é um exemplo de silêncio. Como sua professora deve ter ensinado no primário, um blog é pra se fazer leitura silenciosa.

Silêncio, às vezes, é bom. Acalma e ajuda a escutar as vozes dentro da sua cabeça. Nada a ver com esquizofrenia, mas com consciência. Momentos sem ouvir gente tagarelando no seu ouvido também são bons pra perceber que nem sempre outras pessoas opiniões são bem-vindas.

Infelizmente, o silêncio tem seu lado ruim. Aquela história de que "quem cala, consente". Ou a impressão de descaso, desprezo, ignorância. Silêncios desse tipo são muito prejudiciais. Fazem você notar coisas sopradas dentro da sua orelha que passariam despercebidas caso algumas pessoas marcassem presença ao seu lado.

Acabo de ver Carne trêmula, que por algum motivo me lembrou Lua de fel. Não sei o que me levou a escrever esse texto. Talvez, o tesão dos seus personagens em dizer/ouvir coisas que machucam, ou experimentar o sofrimento para se redimir de possíveis culpas. Exatamente o oposto do que acredito e quero pra mim. Por todas essas coisas, renuncio oficialmente à pressão mental que cedo ou tarde me levaria a um derrame sentimental. Vou tentar, pelo menos. Mas com vontade real de mudar.

Se é pra ser assim, assim será.


Outras músicas também serviriam, mas me duele que no estés y tú te vas. Sendo que não espero nada.

domingo, 25 de julho de 2010

Vida que segue

Ainda em viagem e ainda viajando, vejo quanta coisa está mudando. Ou já mudada. Ou ainda por mudar. Boas memórias por um lado, sentimentos tristes por outro. Chato ver que gente que eu gostava tanto está contribuindo pra isso.

Às vezes, compensa deixar certas coisas de lado. Enfim, vida que segue.

domingo, 18 de julho de 2010

Lucky bastard!

Sábado, 10 de julho: Alan chega em Barna, e viro minha segunda noite seguida. Domingo, 11: vemos a Espanha ser campeã do mundo e comemoramos como (e com) locais. Segunda, 12: Londres. Um dos lugares mais legais do mundo.

Ah, lá vem o Alexandre falar que cidade tal é legal, que gostaria de morar lá blablabla. Não, ainda que um sim bata à porta. Com zilhões de motivos.

Londres é realmente cosmopolita - não estou falando de ver um par de turistas alemães no mercado ou escutar japonês em um restaurante, e sim de um sheik manda-chuva da Al-Jazeera sentar ao seu lado numa poltrona de loja de departamento e puxar assunto. De vietcongues, indianos e árabes com um inglês perfeito e trabalhando de verdade (não vendendo cerveja numa esquina suja e fugindo da polícia). De ver estrangeiros morando na cidade e não passando uns dias torrando grana em caipirinha e turismo sexual.

Londres tem absolutamente tudo - saindo do hostel em Kensington você tem restaurante árabe de verdade, mercado onde é possível comprar comida pra duas pessoas que dura a noite de quinta e sobra pro café de sexta a menos de 6 libras, uma livraria interessantíssima (pra não dizerem que tô mentindo, olha esse e esse livro que comprei por menos de 5 libras cada) etc. Você quer produtos naturais? Tem. Ah, prefere comprar coisas únicas e ajudar uma criancinha com remela do terceiro mundo? Beleza. E mais etc. A lista parece infinita, paro por aqui e ya está.

Londres dá milhões de opções de diversão - além de trombar com uma galera bebendo civilizadamente suas pintas de Guinness às 19h dentro de pubs e nas janelinhas do lado de fora deles, você encontra tantas opções pra se divertir que é capaz de rodar a cidade a noite inteira sem se decidir. Mas nos decidimos por um restaurante/pub com entrada a 4 libras e jam session de blues aberta ao público. Quando você entra, perguntam se quer tocar ou só assistir. Ainda bem que fiquei com o "só assistir", porque a galera era animal. O som saía lindo. A música era sempre de qualidade. E tudo era cantado com sotaque inglês, o que dá um charme especial. Ah, sim: o lugar era desses que se posiciona como "amigo do meio ambiente", até a cerveja era diferente. Orgânica. Freedom. Muito boa.

Fora Camden Town, que dispensa comentários. Um dos lugares mais ecléticos, divertidos e interessantes que já vi na minha vida.

Londres respira cultura - Dalíescultura Maorivan Eyck ao lado de Van Gogh - grátis? Peça de Shakespeare diariamente e custando míseras 5 libras? Discussões políticas que servem pra alguma coisa? Nem sei tudo que poderia escrever, mas isso e muito mais que vocês pensarem, encontram lá. Se um fica em casa, é por preguiça.

Lá, os aluguéis são caros. Mas, imagino que ganhando ao menos 5 mil libras (e se não meterem a mão no seu salário como na Espanha ou França), seja possível viver muito bem. Inclusive, com um apê num lugar legal. Como o metrô chega na porta da sua casa (às vezes, literalmente) e todos se respeitam no trânsito, o que permite andar de bici pra lá e pra cá, uma temporada na cidade deve permitir uma vida excelente. Inclusive quando sair de férias, já que a moeda deles vale mais que as outras. E, com todo meu respeito ao tio Frank, se você pode ser bem-sucedido , então você pode ser bem-sucedido em qualquer lugar do mundo.


"New Yokr, New York", oscambau! I want to be a part of it, London, London.

Mas outra coisa precisa ser dita. Os brasileiros têm um problema com vir pro exterior, um preconceito que só vai morrer o dia em que a maioria da população puder morar fora (ou seja, daqui a três eternidades). Quando só vêm de turismo, acham que toda a Europa é um grande parque de diversões, uma bagunça/pegação/festas infinitas - e não existe isso. Morar fora é como morar no Brasil: segurar a grana, passar por coisas chatas, conhecer gente interessante e gente escrota, e perceber - ao menos em teoria - que toda cidade funciona igual. A não ser que você seja barman em Ibiza ou Mikonos (e esse seja seu objetivo de vida), sua vida vai ser como aí. Inclusive, conhecendo mais brasileiros do que gostaria.

Nós somos uma praga; se o mundo for destruído por bombas atômicas, só as baratas e nós sairemos dos bueiros pra repovoar o mundo. Espero que não cruzando as espécies.

***
Em todo caso, queridos amigos, relaxem suas cabecinhas que o Alê ainda não perdeu o juízo nem (toda) a memória. Disse que volto pro Brasil e mantenho minha palavra. É hora de resolver minha vida, montar minha casa, daqui a mais um pouco ter minha família, além de ajudar a quem precisa, o país a se desenvolver e tantas outras utopias que só eu acredito que sejam possíveis.

Mas que Londres é uma cidade tentadora, isso é...

***
Ah, claro. Uma das vantagens de estar com a (e na) Espanha nesse mundial da África do Sul é que usar a camisa da seleção te habilita automaticamente a ser uma pessoa querida. No caso do tio que me chamou de lucky bastard na saída de uma loja qualquer, rolou uma pontinha de inveja, também. Mas nada que gritos de España e yo soy español, español, español em museus e pelas ruas não apaguem.

Por esses dias, a Espanha é o Brasil da Europa. Só que em crise.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Deus...

Vaya finde! (já voltaremos com a programação normal)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Podemos!

Ontem foi um dia histórico para cerca de 46 milhões de pessoas no velho continente e outras tantas espalhados pelo planeta. Após dezoito edições de um mundial, a Espanha finalmente chegou a uma final de Copa. Só a fila do SUS demora tanto - com a diferença que as pessoas têm muito mais esperança de levantarem uma taça que de serem atendidas.

Revendo pela milionésima vez os lances da partida contra a Alemanha, surpresa e sensação do campeonato pela equipe renovada e futebol bonito, responsável por despachar hooligans e argentinos (desculpem a palavra de baixo calão, não conheço outra menos pior), ficou ainda mais claro o domínio da Fúria. Sim, eles mereceram ganhar, assim como mereceram bater os mesmos alemães na final da Eurocopa dois anos antes. Como merecem deixar o estigma de segunda força pra trás, sendo considerados grandes, vitoriosos e tendo o nome gravado na história.

Mas não escrevo esse texto pra elogiar La Roja e a habilidade dos seus jogadores ou bater no Dunga (o Felipe Melo viria dar o troco, com certeza). Escrevo porque, vendo as imagens dos jogadores e dos espanhóis comemorando, gritando e chorando e perdendo a voz e se jogando em chafariz e buzinando e se abraçando e com olhar perdido em direção ao céu, me emocionei. Chorei, pra ser sincero.

Chorei pela dedicação, entrega e identificação dos jogadores - não apenas com a camisa vermelha ou o esporte, mas com toda uma nação. Algo que vai muito além da nossa pátria de chuteiras que "é brasileira com muito orgulho, com muito amor" durante um mês e caga o país nos outros 47. Uma nação que tem disputas internas inclusive sobre o conceito de nação, e que enxerga no futebol a possibilidade de fugir um pouco da disputa política sem sentido e, quem sabe?, da união entre as províncias.

Chorei por ver a comoção de um povo que espera isso desde sempre. Que já foi taxado de perdedor, amarelão e até botafoguense. Que viu sua equipe nadar forte tantas vezes e morrer na praia. Que vê no sucesso da seleção o início da virada pra sair de uma crise que parece eterna. Gente sentindo uma emoção que nunca experimentou na vida e, por isso mesmo, vive como um sonho que pode acabar a qualquer momento. Que tem medo de se beliscar e acordar.

Chorei porque gosto do esporte. Chorei como devem ter chorado os que (ou)viram o título de 1958, depois de chorarem pelo Maracanazo. Como devem ter chorado os que viram a eliminação de um dos melhores times da história do futebol, aqui na Espanha mesmo, contra uma equipe chulé que deu início ao futebol de resultados. Como se fosse o hexa do Flamengo, com um único amigo testemunhando meu sofrimento e êxtase numa sala semi-vazia em El Prat de Llobregat, Barcelona, Espanha.

Chorei por tudo que deixei no Brasil, coisas que preciso retomar e coisas que se encaminham para um fim. Ou recomeço, nunca se sabe.

Chorei por saber que os planos traçados há tanto tempo estão se cumprindo. E, depois de 10 meses, estarei ao lado do Alan vendo a Espanha jogar a final em algum lugar de Barcelona. Exatamente como deveria ser. "Saudade até que é bom" oscambau. Quero rever meu irmão, meu grande amigo. Quero a família junta outra vez.

Chorei porque, ainda que não seja de muitas lágrimas (quase nenhuma, pra ser sincero), homem chora, sim. E admite.

E, tão importante quanto tudo isso: chorei, sim. Mas não como um botafoguense.

Sigo acreditando no slogan dos espanhóis, que resume bem o sonho de uma vida. Seja qual for o sonho, e seja de quem for a vida: podemos!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ditadura da razão

Pela segunda vez, a cabeça censura o estado emocional. Não sei até quando isso vai durar. Sei que, se postar os textos, provavelmente vou reler e ficar contente com o que escrevi. E triste de ver que eles ainda farão sentido.

Mas "assim que quer, assim será".

domingo, 4 de julho de 2010

Sepakta quê?

Se alguém puder me explicar como pessoas que jogam um esporte que mistura futivôlei, balé e caratê não vai bem no futebol, por favor deixe um comentário e esclareça minha limitada mente.

Pra ajudar (ou não), deixo uma amostra de como funciona o negócio:


ชาย, บ้า!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

El Niño

Depois de escutar esse som, saído de um post do Alan (obrigado), resolvi deixar a música passear pela Ponte outra vez. Infelizmente, com poucas referências - estavam com preguiça de escrever no Wikipedia, assim como estou de procurar mais informações. Mas com altíssima qualidade.

Talvez pela contagem regressiva seguir forte, levando meus pensamentos rumo aos risonhos lindos campos (que) têm mais flores, a nostalgia começou a marcar presença. Dessa vez, juntando as lembranças de Sevilla, talvez bem vivas pelo reencontro em Madrid com dois grandes amigos, com as de Barcelona. Minha casa de temperatura desregulada por longos-curtos-longos nove meses. E o niño que nasceu dessa espera tem 36 anos.

Niño Josele é um guitarrista flamenco nascido em Almeria, e tão caveira que já tocou com nomes como Paco de Lucía e Elton John. Tem 7 discos em 14 anos de carreira, o que não é pouco. Ainda mais pensando que sua criação é instrumental, não essa história de "vou te levar daqui/te amo, meu amor/eu quero vocêêêêêêê" de qualquer desses cretinos de hoje em dia, daí ou do exterior. O cara é boladón.

Descobri pelo Alberto num programa da Rádio 3. Pus no Spotify e não consigo parar de escutar. Quer dizer, neste exato momento eu não escuto, mas só porque meu computador está incrivelmente lento e não consegue fazer duas ações ao mesmo tempo, como um surfista tentando amarrar o cadarço e falar.

Ao toque de quatro já vai:


Ei, fala de mim também!
***
Falando em niño, el niño Torres, Fernandinho no Brasil, Seaside Freddy pros gringos, segue jogando bichado e sem render. Mas Villa Maravilla assumiu a responsabilidade e está compensando a falta que o outro faz resolvendo praticamente todas as partidas para a Espanha no Mundial. Com isso, la Roja já está nas quartas, sendo a única que acredito ter alguma chance de estragar a Copa América africana. Basta chutar o Paraguai.

Só pra constar.
***
Só pra constar, também: esse foi, provavelmente, o texto com o maior número de links que já escrevi. Alguns são interessantes, poucos realmente engraçados, muitos totalmente sem sentido. Ainda assim, tive o trabalho de selecionar cada um deles.

Favor clicar em todos e gerar tráfego para outros sites, a ver se vêem que vocês chegaram lá atravessando a Ponte, vêm aqui e aumentam meu número de visitas, permitindo a inserção de banners e links patrocinados e me dando dinheiro.

Obrigado.

Metade homem, metade máquina

Sigo com insônia. Não sei até que ponto isso é ruim, já que meus sonhos têm sido inquietantes e/ou semi-tristes. A culpa não é minha, claro. Um não manda no que seu subconsciente joga no ventilador enquanto a cabeça escuta o travesseiro.

Não tem chá, comida leve ou tentativa de limpeza mental que me tire desse círculo vicioso. Já pensei até em remédios, mas como não sei o que comprar sigo acordado. Como uma máquina. De café, por que não?

Taí. Se eu fosse um herói moderno, seria uma espécie de Iron Man Nespresso. Um Gambit cafeinado, atirando potes de Ristretto e Volluto em qualquer um que ousasse me desafiar e ir pra cama antes das quatro da manhã.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Brasil 2x0 Espanha

Quarta passada rolou o São João catalão. Noite de festa, em que todos aproveitam o feriado do dia seguinte para passar horas na praia. Muitas, já que é o dia mais largo do ano - de sol, digo - e muita gente vai ficando até começarem as festividades.

Pauda para explicação científica: eixo de inclinação da Terra, rotação/translação, hemisfério norte... Busquem coisas sobre o tema se quiserem comprovar que existe realmente um dia mais largo no ano. Assim como o mais curto, se não me engano 25 de dezembro.

Voltando: que festividades? Quer dizer que em Barcelona rola quadrilha, bigodinho pintado, pula fogueira ia-iá, canjica e namorinho atrás da igreja (pra quem é caipira de verdade; não imagino ninguém de pegação atrás da Catedral do Niemeyer)?

Honestamente, um lugar onde se comemora o carnaval com uma fila enorme de gente com roupas típicas (também conhecidas como esquisitas) e dois carros de som disputando a atenção de gente sacudindo os braços na beira da rua não poderia ter muita vocação pra fazer uma festa de São João da boa. Nem mesmo da boa. O esquema de São João deles é fácil de explicar, ainda que impossível de entender: a galera se arruma, vai pra praia e leva (muito) álcool e fogos. Enche a cara, atira fogos em todas as direções - inclusive na sua - e volta pra casa bêbada.

As fogueiras, caso você encontre uma, são feitas com móveis usados. Música, só em quiosques específicos nas praias mais afastadas. Nas de Barceloneta, a mais próxima da galera, é só bebedeira-morteiro na cara, mesmo. Os grupos se fecham entre eles, não são de interagir com outras pessoas. A não ser que estejam bêbados, mas aí só conversam enquanto não sentam na areia ou enchem o saco do papo. O que tarda pouco, porque ele não costuma ser dos mais interessantes.

As horas passam, quem está no quiosque com música se sacode sem muitas pretensões, quem está sem som procura paquis pra comprar ainda mais cerveja (aqui é proibido beber na rua, daí quando a polícia chega eles escondem as latas, normalmente dentro dos bueiros - só pra constar), e quando você percebe que a festa é basicamente isso, caso esteja em condições de perceber alguma coisa, enjoa e vai pra casa. Fim.

Acho que o dia seguinte é feriado pra todo mundo curar a ressaca, porque nenhuma cidade funciona com 85% da população economicamente ativa sem agüentar claridade por mais de 5 minutos. Mas, pelo visto, caso fossem trabalhar os gringos também não teriam muitas histórias pra contar, de qualquer jeito.
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A nota triste da noite ficou por conta de um acidente em Castelldefels, uma cidade cerca de Barcelona, em que 13 pessoas (se não me falha a memória) morreram e mais umas quantas ficaram feridas ao serem atropeladas por um trem a 140km/h. Acontece que essa gente estava cruzando a via da estação. À noite. Passando por trás do trem que estava parado na plataforma.

Sigo com minha teoria de que, se burrice fosse crime inafiançável, evitaríamos muitos problemas no mundo.
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Voltando pra pátria amada, Brasil, essa é a segunda festa da qual não sentirei falta nenhuma. Assim como do carnaval, apesar de isso ser tão óbvio quanto o problema do Dunga com seres humanos. Brasil dois a zero na Espanha.

Se as duas se cruzarem nas oitavas, é melhor eles se cuidarem. Até porque, se minha torcida segue sendo pra Roja levantar o caneco, meu coração ainda é flamenguista, carioca e brasileiro. Acima de tudo, rubro-negro.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Parabéns per tothom

No aniversário do amigo, quem ganha o presente é... bem, ninguém. Em todo o caso, parabéns, sinhô Serpa-chefe-de-seção. Parabéns também Dioguinho, que tenho certeza absoluta que não lê a Ponte mas merece a homenagem de qualquer forma.

E nessa mistura de português com catalão, lembro que minha contagem regressiva acaba de chegar aos supimpas 64 dias.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dunga e a seleção dele

Desde bem antes da Copa, eu dizia que não gostava do Dunga nem da seleção que ele convocava. Avisei que estaria torcendo pra Espanha levar a taça, e mantenho (apesar de estar difícil; a verdade é que eles parecem sentir a pressão de um Mundial e do oba-oba que a imprensa faz por aqui, culminando no cada vez menos confiante - e confiável - slogan "podemos"). Admito que é impossível torcer contra o Brasil, e a cada jogo eu estou na frente de um telão, gritando e pulando e esperando algo mais do que tem sido feito em campo. O que não deve acontecer, pela falta de qualidade técnica do time.

Mas o que mais me surpreendeu até agora não foram as vitórias sofridas em cima da poderosa Coréia do Norte ou da organizada Costa do Marfim, nem mesmo a cara de peidei mas foi você do "treinador" na beira do campo. O que me surpreendeu foi a ignorância excessiva - até mesmo pros seus padrões - com os repórteres da coletiva pós-partida (escolhendo logo o Alex Escobar, repórter inteligente, competente e tranqüilo). Xingamentos que começaram ainda em campo, com um juiz que expulsou o Kaká (que não é assim, um santo) por um cotovelo suspeito (lembrando que ele levou amarelo, normal pra jogada; só que era o segundo) e validou o golaço do Luis Fabiano em jogada digna de Tande. O novo dupla do Henry na praia.

A gente sempre fala que nossa seleção tem 190 milhões de técnicos, que o time é patrimônio nacional. Assim como a imagem que construímos ao longo da história das Copas, com cinco títulos (o mais feio e indigno deles, não coincidentemente, com o Dunga em campo) e times que não ganharam mas encantaram (como o Brasil de 1982).

O Dunga simplesmente não está preparado para o cargo. Nunca esteve. Ganhar é fácil, até mesmo pra ele. Um, pelos jogadores que temos. Dois, porque ainda que não chame os melhores, o futebol mundial está nivelado por baixo, tão por baixo que daqui a pouco vamos começar a construir campos em estações de metrô abandonadas.

Ele não agüenta críticas, não suporta pressões, não admite ser contestado. Ainda que eu não confie 100% na imprensa (50%, talvez), ela é uma espécie de porta-voz da população. Quando pergunta algo, em teoria, está perguntando o que você, eu ou sua avó gostaríamos de saber.

Alguém que não admite ser contestado não pode ocupar o posto mais sujeito à críticas do país. O Lula pode cagar uma lei ou não dar aumento de salário a ninguém, mas se o Brasil perde pra Argentina ele vai ser nota de rodapé da página 15. E um argentino pulando na frente do Lúcio será capa. Erro de valores, sim. Mas não justifica uma pessoa estressadinha com alguém que fale algo que não gosta. Ou que tenha a audácia de balançar a cabeça.

Justificar as atitudes do Dunga é aceitar uma parte péssima do nosso povo. Concordar com os ataques de "masculinidade" dele é admitir que somos mulher de malandro, uma gente que gosta de apanhar. Que abaixa a cabeça pra qualquer imbecil considerado vitorioso no nosso país - inclusive pela mesma imprensa que ele agora bate, merecendo ou não. No caso dele, sinceramente, não.

É por essas e outras que sigo afirmando que a seleção é do Dunga, não minha. E que, ainda que vista a camisa e incentive o time até o último segundo, torço pela Espanha. Entre o sofrimento de uma nação e a consagração de brutamontes como Dunga ou Felipe Melo, fico com o sacrifício.

É isso ou transformar a animalidade em modelo para o país que eu amo. Enquanto a isso, não tem gol que me faça mudar de idéia.

domingo, 20 de junho de 2010

Auto-censura

Poucas coisas me irritam tanto quanto ter um filho do qual me orgulho e ser obrigado a deixá-lo trancado num quartinho escuro no quintal - o tal do "rascunhos", do blogger. Também não posso mandá-lo pra mãe, que talvez batesse com a porta na cara do pobre coitado e nem me avisasse da desnecessária rebeldia seletiva.

O jeito é me consolar com o fato de estar fazendo sol e ter jogo do Brasil daqui a algumas horas. Supondo que uma partida do time do Dunga seja capaz de animar alguém.

Aliás, falando em sol, vou voltar menos branco e mais em forma que da outra vez, quando desembarquei no Galeão parecendo um refugiado checheno.

E falando em auto-censura, eu me vi na obrigação de voltar a não divulgar meus planos, atuando nos bastidores e deixando no máximo a família mais próxima a par do que pretendo que aconteça na minha volta. Sim, estou assumindo que vou voltar. Ainda não foi dessa vez que vocês se viram livres de mim.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Toca aqui

Uma das minhas 148 tristezas nessa vida é não ter formação musical. Ainda há tempo pra aprender, eu sei. Mas começar aos 27 anos não é das coisas mais promissoras que podem passar a alguém. Além do mais, meu talento pra artes gráficas é risível - outra das minhas decepções. E não quero ficar só com essa coisa de embaralhar letrinhas.

Se eu tivesse escolhido de moleque, teria optado por estudos clássicos pra saber tocar desde meu violão (que sofre com minha oscilação entre períodos mais inspirados e épocas bizarras) a sax, bateria e baixo. Violino também, pra tirar onda de esnobe misterioso e ter cara de assassino naquelas festas chiques e chatas onde garçom serve canapé com gosto de ações da Vale.

Mas se começasse hoje, ficaria entre essas duas opções:

Oboé sempre foi um instrumento divertido, ao menos pra mim. O nome parece saído de música baiana, o som é meio anasalado e sempre tem mais vagas que candidatos no vestibular. Ou seja, eu poderia ser formado em oboé pela UFRJ sem estudar nada. Além do mais, quantos oboístas você conhece? Fora que é um instrumento surgido provavelmente na Mesopotâmia e com mais de 3000 anos. Dizem que Maria ninou Jesus com um oboé. Está em algum lugar na Bíblia, confere lá e me conta depois.


Theremin, que só poderia ter saído da cabeça de um russo. Patenteado em 1928, parece um receptor de TV a cabo e se toca sem encostar em nada - o thereminista, ou seja lá como se chama quem sabe mexer nessa geringonça, controla a freqüência com uma das mãos e o volume com a outra. Claro, você encontra desde um nerd fã de jogos eletrônicos até um louco pop ensinando como é que se faz ("coloque as duas mãozinhas pra frente, vai, vai, vai, vaaaai..."). Mas a graça seria usar o brinquedinho como o Jimmy Page, em algumas performances de Whole Lotta Love e No Quarter. Psicodelia, aí iria eu.

Bom, enquanto não posso entrar no maravilhoso mundo de formas, sonatas e crescendos, me contento com uma aula grátis de tuba:



Grátis, não. "São 60 dólares."

terça-feira, 15 de junho de 2010

Mudanças

Os últimos dias foram de longas conversas com pessoas fundamentais e cada vez mais presentes na minha vida. Assim vejo quem realmente importa - e se importa. Gente que (re)aparece na hora certa, que dedica tempo a escutar e falar quando mais preciso, e que não precisa perguntar nada ou ouvir um pedido de atenção.

Minha contagem regressiva bateu 71 dias, e se chocou contra a saudade crescente (ou decrescente, depende de que e a quem me refiro) de tantas coisas que voltam à cabeça. São oito anos de mudanças contínuas com forte tendência a dar espaço a coisas mais certas. Minha mãe disse que me vê mais maduro. Poucas vezes fiquei tão feliz com um elogio.

Nessa busca por mim mesmo e o que será daqui pra frente, pesquisando e vendo referências que me dêem base pra tomar decisões importantes, topei com um vídeo do Playing for Change. A música tem uma levada triste (blues, né?), mas a mensagem é tão bonita quanto verdadeira. Grandpa Elliott e os outros integrantes da banda/projeto são a prova de que mudanças, cedo ou tarde, chegam para todos.

As minhas não param de vir. Por mim, tudo bem.


segunda-feira, 14 de junho de 2010

A nova colonização

Não faz muito tempo, a África estava dividida entre as potências imperialistas mundiais. Havia colônias francesas, inglesas e até portuguesas. Para repartirem petróleo, metais, pedras preciosas e outros recursos, repartiram também a região. Linhas pontilhadas num mapa-mundi delimitavam os novos países, sem a menor preocupação com tribos ou costumes locais. Daí as constantes guerras étnicas que seguem acontecendo. Antes de sair do Brasil, estava lendo esse livro. Quem se interessa pelo assunto deveria procurar por ele por aí. Ou aqui.

Não muito tempo antes, os países latino-americanos se independentizavam de muitas dessas nações. A colonização do outro lado do oceano começou mais cedo e, se não causou tantos problemas entre povos próximos, foi igualmente prejudicial em termos de desenvolvimento econômico e social. Não serve de desculpa para a nossa insistência em não evoluir, mas é um fato histórico incontestável.

Claro, como pessoas inteligentes, estudiosas, cultas e malandrinhas que são, vocês sabem de tudo isso. Mas foi só um repasso pro texto. Sobre um novo tipo de colonização que não vemos ou nos damos conta, mas vai se alastrando pelos mesmos lugares. Legalizada e, muitas vezes, idolatrada. O assunto?

Futebol.

Estão rolando as eleições pra presidente do Barça. Foram cinco debates durante essa semana, com a presença dos quatro candidatos se acusando mutuamente e fazendo promessas de dias (ainda) melhores para o clube. Eles realmente levam a sério o negócio, talvez incentivados pelo sucesso do agora predecessor Joan Laporta - o melhor presidente da história do clube, e que certamente se lançará na política catalã. Ou seja, o clube é uma espécie de trampolim para o poder local. O que não é pouco.

Vendo um dos debates, rolou a pergunta que gerou a postagem: qual seria a política para a masia (local onde se desenvolvem as divisões de base do clube, de onde saíram nomes como Xavi, Iniesta, Pedro, Busquets, Puyol, Piqué e Messi). Ao menos um dos candidatos (talvez todos, não me lembro) defendeu a idéia de levar as masias para "onde surgem os futuros craques, como América do Sul e África, e tê-los desde jovens, já que o futebol hoje é globalizado".

Sim, o futebol hoje em dia é globalizado - como tudo. A não ser que você faça compras em Friburgo, sua cueca (ou calcinha) tem tecido chinês e foi costurada no Vietnã. A preço de banana d'água e podre. Isso não é novidade. O que surpreende é a que ponto chegamos, defendendo a questão em campanha ao vivo na TV. Chegamos a um ponto onde o "próximo futuro craque" de oito anos tem contrato firmado com um time grande - ou não - do exterior, garantias de uma fabricante de material esportivo e passa a ter cada passo vigiado constantemente por um agente Fifa. Afinal, é um investimento e, como tal, deve ser preservado.

Isso gera, entre tantas outras coisas, a enxurrada de jogadores naturalizados jogando nas seleções de outros países, como Cacau ou o braso-japa que tentou matar o Drogba. Algo que fica ainda mais claro em época de Copa do Mundo. E, no embalo, vemos assuntos como xenofobia, identificação com o país de origem, fim das fronteiras futebolísticas ou uso de indivíduos decepcionados com a falta de chance em seu país pra ganhar um título qualquer e gerar patrocínio e riquezas pra federação responsável pelo esporte etc.

Se não desenhamos linhas num mapa, hoje determinamos traços igualmente imaginários que fincam ponto A e B; onde Fulaninho está e onde estará daqui a alguns anos, sem possibilidade de decidir o próprio futuro. Mudou de idéia, quer ser médico? Deveria ter pensado antes de deixar seu papai com primeiro grau incompleto assinar um termo de responsabilidade num contrato em inglês de quarenta páginas decidindo sua vida. Ok, a chance de Fulaninho querer ser médico em vez de jogador de futebol é mínima. Mas não deixa de ser alarmante que ele tenha seus próximos tantos anos de profissão definidos quando ainda mal tem noção da vida. Se existe a discussão sobre decidir a carreira aos 17 anos, época do vestibular, imagina não poder ser nada além de jogador de futebol aos 12. Tendo que treinar pra se aperfeiçoar, o que fatalmente fará com que a escola fique em décimo-oitavo plano.

Esse texto não é ingênuo ou romântico, esperando que os clubes estrangeiros sejam mais humanos ou que seja criada uma política de proteção às crianças e jovens dos países fornecedores de mão-de-obra habilidosa. É um desabafo, por ver que continuamos sendo um bando de ignorantes colonizados pelo primeiro-mundo. Se a maior riqueza de um país é o seu povo, estamos cada vez mais pobres.