quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O ritmo da vida

Escutando: Trem das onze, com Gal Costa
Às: 4h de uma quinta-feira, 24 de dezembro
Porque: acabei de chegar de Barcelona
A: minha nova casa, do outro lado da rua

Escrevo pra situar minha postagem, meu estado geral e dar alguma pista - inclusive pra mim mesmo - de onde quero chegar com isso. E já aviso aos mais preguiçosos rápidos que deve ser um texto um pouco mais longo. Assim que vou colocar umas partes em negrito pra quem quiser fazer leitura dinâmica.

Hoje é véspera de Natal e estou cagando pra data. Não sei se é a distância da família, Carol e amigos da terra, se percebi o valor comercial da data ou se é só porque tô sem vontade de comemorar, mesmo. Tenho pena por não ter comprado nada pro Alberto e os pais dele ou preparado meu "kit Brasil", e não deve dar tempo de fazer isso até o fim de semana. Mas a vida me fez não conseguir. A troco de pouca coisa, na verdade.

Comecei a trabalhar na quinta passada. Hoje, foi meu último dia. O dono da empresa queria um designer que trabalhasse de graça ou pelo menor salário possível, e estou numa situação completamente oposta. Cheguei cheio de idéias e saio uma semana depois, não triste mas decepcionado. Com muita coisa.

As pessoas tendem a confundir prioridades, ou não enxergar coisas óbvias. Neste caso, vem dele. O cara sabia que meu perfil era outro, mas resolveu tentar mesmo assim. Gostou do que fiz, ficou com o que estava pronto e fim de jogo. O que ele mais precisa vai continuar igual. Uma bosta. E o que tinha em mente, com certeza, não vai sair do papel. Mas me incluo nessa coisa de não enxergar coisas óbvias. Infelizmente, todos tendemos a dificultar a vida. Que é, por definição, bem mais simples do que aparenta.

Daí sou obrigado a repensar meus assuntos, que pensava estarem encaminhados. E lá vou eu, carro morrendo no meio da estrada, esperando uma alma caridosa que jogue uma luz no problema ou dê aquele empurrãozinho pra o motor pegar no tranco. No embalo, sempre vai. Mas por que não manter a mecânica funcionando, revisar periodicamente, limpar de vez em quando? Precisa deixar dar problema?

Não. Mas eu tenho por definição deixar isso acontecer. E acabo me atrasando pro que realmente importa na minha vida, assuntos das pessoas que amo. Desde pequenas vitórias do dia-a-dia, como fazer um desenho que ganha uma TV, a descobrir que uma das raras pessoas que admiro de verdade, e tenho como ídolo-exemplo-sei lá, escreve melhor que eu. Não estou ao lado de pessoas fundamentais no momento que mais gostaria.

Alivia um pouco o meu lado conviver-reviver-conhecer pessoas maravilhosas, que salvam minha cabeça de surtar. Pode não parecer, mas sou uma fábrica de pensamentos maus e absurdos. Se não fossem as amizades que reencontrei e as que fiz até agora, não sei como seria. Fico feliz de ver que existem pessoas boas nesse mundo a serem descobertas e que ainda serão valorizadas como merecem - hoje, amanhã, não sei. Mas serão.

Engraçado é ver que todos aqueles ensinamentos bonitos que você escuta e repete pra quem precisa, pensamentos trabalhados e horas de atenção dada aos outros não te servem de um mísero pelinho, quando você precisa. É nesse momento que você entende que "falar é fácil". Passa pela situação e vê como você se comporta. Depois, se ainda puder, fale algo para os outros. Ou dos outros. Julgar e criticar é fácil quando se está de fora mas, uma vez no meio do turbilhão, sair andando pro lado certo e de cabeça erguida é outra história. Que pode muito bem não ser a sua.

A verdade é que a vida pode mudar a qualquer momento, e é bom estar preparado. Não que você vá sair ileso, o que é pra ser vai ser e ponto. Mas dá pra evitar umas quantas coisas, e diminuir o impacto de outras tantas. Por isso é bom nunca se empolgar demais com algo. Nem se decepcionar, porque com disposição dá pra sair dessa. Bom, e um pouco de coragem nunca é demais.

Não vou reler este post pra corregir nada, mas tenho a sensação que ficou um pouco com cara de livro de auto-ajuda. Se o Paulo Coelho roubasse este texto e colocasse na coluna dele num desses jornais da vida (e acredito que ele seja capaz de algo assim), ia ter gente chorando e mandando cartas quilométricas de agradecimento. Algo conhecido como "poder da marca". Ou "poder da mídia", pra quem prefirir. Como eu.

Não importa. Depois de uma semana em que entrei e saí de uma empresa, me dei bem nas aulas de um lugar onde não me dou bem com as pessoas (sim, isso também acontece comigo - assim como, acreditem, existem pessoas de quem não gosto) e tive surpresas maravilhosas de pessoas que estão longe de mim, isso foi quase uma extensão desses dias. E, de quebra, ainda dou notícias a todos que vira e mexe me perguntam como está aqui, que tal tudo etc.

Pra completar o rollo auto-ajuda, coloco um vídeo excelente da Honda. Uma empresa que tenho mais vontade de trabalhar do que muita agência grande e exibicionista por aí. Mas a vida cisma em me levar pro lado negro da força.

De qualquer jeito, a gente nunca sabe o que espera do outro lado do calendário. É bom eu ir me preparando. Cagando ou não pro Natal, o novo ano já tá batendo na porta.

Ah, e mais uma coisa: Papai Noel não existe.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Concurso "Cara limpa, bunda suja"

Nos últimos dias, alguns esportistas famosos deram muito o que falar na mídia. Primeiro, Henry e sua mão no jogo contra a Irlanda, que classificou a França pro mundial da África do Sul - aquele que é logo ali. Depois, Tiger Woods e a fofoca notícia do seus casos extraconjugais.

O curioso é que ambos são garotos-propaganda da Gillette. O que me fez pensar: o que vão aprontar seus outros dois companheiros de barba feita, Kaká e Roger Federer?

Assim, acabo de lançar o primeiro concurso da Ponte Elétrica. Cara limpa, bunda suja. Opinem, divulguem e torçam. O resultado sai assim que eles fizerem alguma cagada, claro. E, além de se divertir, você ainda tem a chance de levar um exclusivo prêmio pra casa: um Mach 3 Champions com duas giletes de refil e um saco de papel - pra esconder sua cara dos fotógrafos se um dia for famoso e fizer besteira.

Boa sorte!
















Eu dou minha cara à tapa se você acertar e o Alexandre não mandar o prêmio!

Cultura. A gente vê por aqui.

Quando lembrei da vinheta plim-plim e em tudo o que ela (não) significa, cheguei a sentir vergonha alheia. Pior, na verdade. Pena. Pelo que a gente não tem no Brasil. Não sei se a Constituição espanhola é tão extensa quanto a nossa, nem se eles têm milhões de parágrafos em cada lei que anula e reafirma e cancela de novo os direitos do cidadão. Sei que, aqui, eles levam a sério a questão da cultura.

Hoje (quarta-feira passada) foi dia de visita guiada à bibioteca principal do bairro onde está Can Felipa, o centro onde tenho aula de catalão. Antes de andar pelo local, o responsável reuniu a gente - alunos e professora - numa sala pra explicar como funciona o sistema de bibliotecas de Barna. Ainda bem que ele não perguntou como era nos outros países.

Aqui, funciona assim: você vai à biblioteca com sua identidade e faz uma carteira de sócio. De graça. E fica pronta na hora. Com ela, você tem acesso a a) todo o acervo oferecido no local para consulta; b) 30 documentos (livros, CDs, DVDs, jornais e revistas) por mês; c) Internet no local, tanto nos computadores deles quanto por wi-fi; d) aulas grátis de como usar computador, Internet e programas básicos pra quem não sabe; e) televisões para assistir filmes e programas ali mesmo, com fones também oferecidos por eles; f) cursos de vários temas diferentes a preços populares; g) clubes de leitura de uns quantos assuntos.

Além disso, a carteirinha de sócio vale para todas as bibliotecas da província - Barcelona, os povoados cerca e as cidades da região. Você pode pedir um documento de uma biblioteca e eles deixam em outra de graça, ou pagando um euro se for de outra cidade. Se ele não estiver, é só deixar reservado que te avisam quando volta. Também é possível fazer consultas gratuitas na Internet. E não custa nada dizer que, apesar de elas fecharem entre 14h e 16h (siesta; não se brinca com este costume local), ficam abertas até à noite, umas até de madrugada e muitas, se não todas, nos fins-de-semana.

Quase esqueci de explicar uma coisa muito importante. A logística da rede bibliotecária catalã. Cada bairro tem sua biblioteca principal e outra menores, complementares a ela. Elas têm um tema específico ao qual se dedicam - por exemplo, a de Poblenou, onde fui, é especializada em cinema. Assim que oferece muito disso e um tanto de outras coisas. Dessa forma, a rede pode oferecer uma quantidade enorme de livros sem a preocupação de se repetir ou armazenar tudo, o que seria impossível. Isso também permite que os cursos sejam voltados ao que se dedicam, facilitando tanto o acesso à bibliografia específica quanto o conhecimento por parte do público do que pode encontrar no lugar.

Aí vem a Rede Bobo e diz que a gente vê cultura por ali. Fiquei na dúvida se falavam de BBB ou Zorra Total mas, como não posso ir a uma biblioteca do Rio pra pesquisar sobre o assunto, acho que vou só rir do que tentam me vender.

Pena que meu sorriso é de vergonha.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Crackòvia

Uma das maiores dívidas que acredito ter com vocês é não ter falado sobre esse programa mais cedo. Mas antes tarde do que nunca. Vou dar um panorama rapidão cometa antes de entrar em detalhes. E já adianto que esse texto vai ser melhor entendido por quem sabe um pouco de futebol.

Uma das formas (debochadas/pejorativas) de chamar os nascidos em Barcelona é "polaco". Não sei exatamente porque, tampouco o Alberto, e estou com preguiça de inventar uma história agora. O importante é que, por isso, fizeram um programa de humor aqui chamado "Polônia". Muito bom, diga-se de passagem. Seria o equivalente ao Casseta e Planeta, só que exclusivamente de política e absurdamente mais engraçado.

Assim que uma variante deste programa é "Crackòvia". O nome tem duplo sentido - tanto por ser uma cidade polonesa quanto por se referir a craque (crack), já que é um programa de humor esportivo. E, por ser catalão, fala muito do Barça e faz graça com ele. Além de debochar do Real. E é uma das coisas mais engraçadas que já vi na tele. É um rolo meio Monty Phyton. Ou não. Só quero situar vocês.

Eles têm uma capacidade e uma facilidade incrível pra caricaturar os jogadores e personagens ligados ao mundo da bola. As imitações do Pujol (zagueiro e capitão do Barça), Messi, Ibra e Piquet são excelentes. As do Sérgio Ramos, Raúl, Guti e Cristiano Ronaldo, sem comentários. Fora as outras, que não devem nada a estas mas que não faço questão de citar.

Só pra vocês terem uma idéia de como eles são bons, um dos bordões do Guti - "pim-pom-pim-pom-pim-pom" (marcando ritmo de música de boate, já que ele é reconhecidamente festeiro) - está até pichado em muros da cidade. Os daqui usam pra se referir a várias coisas, como "aí a gente vai lá e pim-pom".

Aí embaixo tem um vídeo de exemplo. Quem quiser, com certeza acha mais no youtube. Adianto que é em catalão, mas é fácil de entender. É só pensar na língua como uma mistura de francês, português, castelhano e italiano. E imaginar o Mussum falando isso. No terceiro vídeo já dá pra entender una mica e rir junto. Nem que seja pra fingir que é inteligente.

Conselho de quem já merece um oscar por isso.



ps: só falei isso pra incentivar vocês, eu já falo um pouquinho e entendo bem catalão; nada como umas aulas e miles de amigos daqui pra adiantarem o aprendizado.