quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Heresia temporal

17 de junho, 23h59. Você está acordado. Olha o relógio no exato momento em que os ponteiros se juntam lá em cima. Qual a diferença pro dia anterior, além de uma folhinha a menos no calendário?

Nenhuma.

Assim como de 31 de dezembro pra 1 de janeiro.

Esperançosos de plantão - ou desesperados de carteirinha, mudar o ano não altera em nada a ordem do universo, a boa vontade divina com sua vida ou a cor da água da pororoca. Traçar planos não faz diferença se você não corre pra realizar o que quer. Os próximos 365 dias não vão ser lindos e perfeitos se você não fizer por onde. O que pode acontecer daqui a alguns dias ou meses já poderia ter acontecido se você tivesse tentado no ano que acaba de ficar pra trás.

Se por um acaso você se esforçou, ótimo. Continue. É assim que as coisas vêm. A única coisa que cai do céu é chuva (às vezes um avião, sapo pra quem acredita nos contos da Bíblia).

Hoje eu encontrei um amigo que compartilha da minha opinião. Me senti menos herege. Mas continuo na expectativa de ser alvejado com bolinhos de bacalhau e rabanadas na festa de fim de ano lá em casa, ou xingado por hordas de molestadores de santos nas ruas.

Não importa. Eu comecei 2011 em março de 2009.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Amigo oculto

Os caras eram reis, magos e empreendedores. Caminharam um tempão no deserto, seguindo uma estrela, pra dar mirra, ouro e incenso a um menino que nem conheciam. O investimento deu certo, e hoje eles fazem parte da história da humanidade - ainda que poucas pessoas se lembrem do nome dos três.

Assim surgiu o amigo oculto. As regras mudaram. Hoje, nem mesmo o filho do chefe leva todos os presentes. A não ser que ele seja filho do Chefe, mas há mais de 2000 anos que isso não acontece. A intenção, porém, é a mesma: dar um presente a alguém que talvez você nunca tenha visto na vida. Ou não tem intimidade. Ou não se importa, mesmo.

Isso faz qualquer ser com telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor pensar no valor de suas amizades. Outro dia, abri a carteira e pude contar quanto me custaram algumas. Guardei na gaveta da memória, tranquei a chave e joguei na cápsula que estão mandando pro espaço. Obrigado, Nasa.

Conhecidos, são inúmeros. Colegas, quem tem é a garota da laje de Mesquita. Bons colegas, o pai dela. Amigos - no sentido strictu/latu/ponderadu sensu da palavra, são poucos. E, pela primeira vez na minha vida, percebi que posso contar nos dedos. Mãos e pés, mas bem menos do que imaginava.

Obrigado a todos os envolvidos no processo. Vou começar 2011 muito mais feliz. E gastando menos dinheiro com amigo oculto.