domingo, 8 de novembro de 2009

Balanço do mês (e pouco)

NE: devido às obrigações de um estudante sem grana e ainda com muito por fazer, este texto está uma semana atrasado.

Depois de pouco mais de um mês na terra dos brancos de olhos azuis, e há um tempo sem escrever para a Ponte, volto com uma auto-entrevista pra resumir, explicar, dar notícias etc de como andam as coisas em Barna.

Eu: Barna?
Eu: Sim, Barna. Já me considero íntimo da cidade. Posso falar de bares, restaurantes, linhas de metrô, quanto está o quilo da laranja e forma de abordagem dos paquistaneses nos diferentes bairros turísticos. Assim, acho normal chamar pelo apelido. Como Zico, Mengo ou Pet.

Eu: Peraí, porque seus exemplos foram todos do Flamengo?
Eu: Porque o todo-poderoso acaba de colar de vez nos paulistas. E, quando você está fora de casa, qualquer alegria é uma grande vitória. Como esse 3x1. Essa taça vamos conquistar!

Eu: Concordo. Mas, voltando. Como é a vida em Barcelona?
Eu: Excelente. A cidade é tranqüila, limpa, o transporte público funciona perfeitamente, as pessoas têm se demonstrado simpáticas. Além do mais, quando se vive em outro país o dia-a-dia parece um grande período de férias. O único problema é que está chegando o frio.

Eu: Muito forte?
Eu: Pra um carioca, sim. Essa história de andar à noite ou ter que acordar às 7h fazendo 10 graus na rua não é nada legal. Fora que, por ser uma cidade de praia, venta muito. A sensação térmica agora deve ser de 273 kelvin.

Eu: Mas seu casaco agüenta, né?
Eu: Depende. Sempre esqueço do mais pesado. Saio sempre com um meio bunda que, na hora do vamos ver, peida. Eu até comprei um da Adidas por módicos 25 euros, que rasguei no metrô. Já era. Qualquer brecha que deixe passar frio congela até a alma dos seus ossos. Mas não tem nada. Março tá chegando, o sol vem aí!

Eu: Você esta conseguindo resolver tudo?
Eu: Espero. Sexta agora pego minha identidade de estrangeiro (NIE) - uma forma de te tacharem gringo e saberem que não está aqui escondido num cafofo e limpando privada no McDonald's no lugar de um espanhol. Com meu NIE posso abrir uma conta, pra pegar a grana que deixei no Brasil. Também vou poder faze o Bicing, um esquema de bicicletas da prefeitura que você pega e deixa em pontos espalhados pela cidade e sai por míseros 40 euros. Quando me mudar pra Barna, vai ser muito útil.

Eu: Ué, você não mora em Barna?
Eu: Quase. Vivo em El Prat de Llobregat, um ainda pueblo mas quase bairro de lá que fica a 10 minutos em trem. Como ele é pontual e tem o dia inteiro, é do lado. Mais perto que muita gente de lá mesmo. Além do mais, está me saindo bem em conta.

Eu: E as aulas?
Eu: Do mestrado, foram melhores esta semana. Na primeira foi tudo muito básico. Achei um absurdo mas, como o professor teve que explicar pra uma menina que apertando CTRL+Z juntos ela conseguiria voltar a cagada que tinha feito, entendi um pouco melhor. Na verdade, ainda não está do jeito que quero. Mas como o principal do máster é arrumar trabalho por aqui, não me preocupo tanto. Por enquanto.

Já as aulas de catalão estão muito boas. Às vezes, me parece que escolhi a carreira errada. Gosto de línguas e me saio bem com elas. Outra coisa: o català é muito parecido com o português. Mais que o espanhol. À primeira vista, parece complicado. Mas com um mínimo de boa vontade e inteligência, bastam duas aulas pra você entender o básico. Mas, como ajuda, basta pensar como o Mussum fala e tentar imitar. Vou escrever sobre isso mais pra frente.

Eu: Está saindo muito? Está em casa direto? Pode falar sobre isso?
Eu: Posso, Carol sabe o que tenho feito.

Eu saio muito com os amigos do Alberto, meu companheiro de piso, e da Bella, carioca que faz um máster em gestão cultural. Conheci os dois em Sevilla, e a vida nos colocou juntos de novo aqui. Os amigos deles são muito legais, alguns inclusive estão se tornando meus amigos. Vamos a muitos bares e restaurantes locais, o que me transforma num semi-camaco.

(camaco: do catalão "que maco!", ou "que bonito"; os daqui falam ou falavam muito isso, e acabaram sendo apelidados dessa forma pelos outros da província)

Não sou de boates, mas ontem fui a uma porque os amigos do Alberto estavam. Era como festa Ploc, mas com músicas espanholas dos 80 e 90. Mais perdido, impossível. Também fui num show de jazz grátis. E já recebi uns amigos gringos aqui em casa - apesar de que o conceito de gringo, agora, está muito expandido.

Mas estou boa parte do tempo em casa. Um, porque já conhecia a cidade. Dois, porque não sou turista e sim morador. Três, porque não tenho grana pra sair. Quatro, porque os deveres me chamam - dos trabalhos do mestrado a lavar cuecas. Poderia encontrar mais motivos, mas como não devo explicação a ninguém e já citei quatro, está de bom tamanho.

Eu: Já começou a procurar trabalho?
Eu: Fui a duas agências, falei com dois brasileiros, não consegui nada em nenhuma delas. Mandei e-mail pra uma conhecida de um deles que não me pareceu muito simpática. Tenho mais um contato e, depois, estou por conta própria. Vim sabendo que o mercado de trabalho não estava lá essas coisas, mas nunca é bom quando suas más suspeitas se confirmam. De qualquer jeito, agora que as aulas começaram eu posso procurar pelo cole. Eles devem me ajudar. Assim espero, claro.

Eu: Tem mais?
Eu: Claro! Acha que minha vida é só o que contei até agora? Acontece que já falei muito nessa postagem. E é bom saber o que os outros querem saber. Vou esperar comentários com novas perguntas (ou não) e escrevo outro texto.

Além do mais, tenho que estudar, escrever e não dá pra ficar me auto-entrevistando por muito tempo. Sou um homem ocupado. Marcamos um próximo papo entre você e eu em breve, vale?

Um comentário:

Unknown disse...

Errata: segundo meu irmão, o certo é 0 kelvin. Como ele saiu do colégio 6 anos depois de mim, a chance dele lembrar e eu não é gigantesca.

Corregido, ok?