sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Conexão Rio-Babilônia

O código de Hammurabi é considerado por muitos como o primeiro código de leis da história. Ele era simples, gravado em uma pedra exposta na entrada da cidade, para que ninguém pudesse alegar que não viu o que estava escrito. Era direto, para não haver problemas em sua interpretação.

Dentre várias de suas leis, uma era interessante e temida: lex talionis, conhecida como lei de Talião. Quem não reconhece pelo nome deve entender quando ouvir – ou ler, no caso – “olho por olho, dente por dente”.

A lei de Talião visava impor um mínimo de respeito e ordem na sociedade nascente, padronizando o comportamento e mantendo os homens em harmonia. Claro, havia falhas na lei, como há até hoje. Ela era discriminatória em certos pontos, elitista em outros. Mas temos que perdoar porque, afinal de contas, foi o primeiro conjunto de leis da história.

“Tá, Alexandre, e por que você voltou à Ponte falando sobre isso? Quer dizer que eu espero um tempo, acesso todo dia – ou não – para saber sobre a DPZ, suas mudanças de vida, sua cabeça complicada, e você me vem com código de leis de um tal de Hammurabi?”

Sim. Porque, na verdade, nem poderia estar escrevendo aqui, tenho coisas pra fazer. Mas não é todo dia que você é acordado ouvindo que três bandidos arrastaram uma criança com parte do corpo pra fora do carro por sei lá quantos quilômetros, e quando pararam só tinha sobrado a parte que estava pra dentro. E isso me faz pensar.

Primeiro, na mãe da criança. Esperou um tempo por um filho, mais nove meses na barriga, mais alguns anos criando, e fica completamente impotente diante da situação. Na irmã, que também era uma criança e viu o que fizeram com ele. No pai, que provavelmente se sente um ninguém por não estar lá na hora, pensando que poderia ter feito alguma coisa para evitar isso. No trauma que essas pessoas terão, na vida miserável que vão levar, lembrando e relembrando todos os dias o que fizeram com seu menino. Tendo que catar os pedaços pela cidade pra poder fazer um enterro digno, em uma situação absurdamente indigna.

Depois eu penso nos bandidos. E é aí que entra Hammurabi, lex talionis e “olho por olho, dente por dente”. Eu não deveria, me igualo a eles quando penso nisso, mas como evitar? E se eu conhecesse? E se fosse meu filho?

Se fosse, eu ainda estaria em estado de choque. E assim que passasse, matava todos eles. Muito devagar. Esse é meu lado negro: eu posso ser muito mal. E nessa situação, superaria meus limites. Seria por uma “boa” causa.

Depois eu penso no que fez com que eles serem assim. Convenhamos: uma criança não nasce, a mãe coloca pra mamar e ele mete a chupeta no olho dela, nem crava um lápis de cera no coração do irmão quando tem dois anos. Ele passou por coisas até ficar assim. Viu coisas. Aprendeu coisas. Com os marginais que moram perto deles. Que aprenderam com quem morava perto deles. E assim sucessivamente, até chegarmos ao início da formação de favelas, da exclusão social absurda em que vivemos, da falta de oportunidade para os miseráveis, da ignorada que se dá nos moleques de quatro anos que vão vender balas nos sinais.

Nada disso justifica, é claro. E continuo odiando mortalmente (literalmente) os três inumanos que fizeram isso com o garoto e, com certeza, afundaram uma família. Continuo adepto da lei de Talião. Até porque, tem muito mais gente pobre boa do que gente pobre má. E ricos também são maus (vide os que queimaram o índio Gaudino), só não aparecem no jornal. Mas é preciso ver todos os lados do problema. E esse descaso é um deles.

A gente vive dizendo que isso só vai mudar o dia que acontecer com o filho de alguém importante. Mas não vai acontecer. Porque filhos de gente importante têm segurança, blindados, câmeras, GPS, Papa, balas de prata e sabe-se-lá Deus mais o quê. Então, queridos leitores, não insistam nesse papo. Ou vocês protestam, ou ajudam trabalhos sociais ou instituições de caridade, ou parem de falar. Ou matem bandidos. Porque esse assunto está se tornando intolerável para minha pequena mente de redator publicitário.

Eu vou continuar fazendo minha parte. E ainda vou dar um gás em novas formas de atividade. Espero que dê certo. Vocês vão saber. Espero que façam alguma coisa, também.

Não pus fotos nem depoimentos nem nada porque não vou explorar a miséria alheia. Se quiserem, tem jornais, YouTube, Internet e TV pra verem isso. Eu passo. Por pena. Da humanidade. Porque, quando vejo essas coisas, penso se o mundo ainda tem jeito.

Um comentário:

Maverick_JPA disse...

Revoltante essa situação...
e o que será feito com eles ???
Reu primario, outro menor de idade...
a justiça no pais e muito fraca, por isso acontece esse tipo de coisa...
Infelizmente...
Sem mais

PS.: E quem disse que eu quero saber da DPZ ???hehehehehe
Brincadeirinha