domingo, 3 de outubro de 2010

Zico

A primeira e única vez que vi o maior ídolo da história do clube mais querido do mundo jogar foi na sua despedida. Como torcedor grato por suas façanhas e amante de futebol, acompanhei seu sucesso no Japão (onde ganhou uma estátua por tudo o que fez), a criação de um clube com o seu nome (que só não foi mais longe pela politicagem e roubalheira que imperam no país), sua tentativa de auxiliar o Zagallo quando este já estava gagá e queria que as pessoas o engulissem e outros tantos fatos que cito na categoria etc.

Como outros 35 milhões de rubro-negros eu rezei, desejei, esperei e sonhei com o dia em que ele voltaria para o clube que o criou, onde escreveu algumas das páginas mais bonitas da sua vida - e de muita gente. O esperado retorno para excomungar os vermes que proliferam no clube e consomem livremente seus recursos e nossas esperanças. Não seria mais Zico, o craque. Seria Zico, o herói.

Há quatro meses, o sonho se tornou realidade.

Nessa sexta, o sonho morreu.

No dia primeiro de outubro de dois mil e dez, uma nação inteira acordou dentro de um pesadelo. O clima pesado, as acusações absurdas e a artilharia na direção do ídolo surtiu efeito. Zico se desligou do departamento de futebol com palavras que doem tanto nele quanto nos que são flamenguistas de verdade: "morreu no meu coração esse Flamengo de hoje que está representado por essas pessoas".

Falo de coração - doído como o dele - que sinto vergonha do Flamengo. Não do manto sagrado, mas da corja que destrói o clube há décadas. Dos bandidos fantasiados de dirigentes que desrespeitam a instituição. Das torcidas organizadas repletas de marginais que apóiam um cretino aproveitador como esse tal de Capitão Leo, um ser desprezível que deveria estar longe da Gávea. Dos torcedores que têm a audácia de concordar com essa palhaçada e acusam o Zico de pipocar - quando a presidenta (entre milhões de aspas) prefere dar suporte ao seu cabo eleitoral. O tal do Leo. O tal que conseguiu a proeza de ter mais voz que o Galinho de Quintino. Além da vergonha, claro, do bando que veste a camisa sem a menor condição de aguentar seu peso e honrar sua tradição.

Fiquei sinceramente emocionado com a carta de demissão do Zico. Tive a nítida sensação de estar lendo uma carta de suicídio. Que, sem querer, mata outras 34.999.999 de pessoas.

Torço porque o amor é um sentimento irracional. Mas seria mentira se dissesse que amo esse Flamengo.

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