quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O sexy e plagiado selo Procel

Com a casa em obras, o pai resolveu mexer em coisas até então intocáveis. Algo que não faz o menor sentido, já que tudo numa casa pode ser mudado. Mas a tradição (também conhecida como cisma) impera em vários aspectos da família. A zebra ficou por conta do ar-condicionado.

Os antigos eram realmente antigos. Um, inclusive, deve ter chegado com a Telefunken que, até um tempo atrás, só sintonizava bem a Globo, e o SBT com mais fantasmas que Poltergeist. A mesma TV que era usada com o Atari que eu tinha quando pequeno. O caso é: já que era pra mudar, que fosse mudar ou... mudar de vez. De uma tacada só, três aparelhos chegaram pela entrega da (péssima) Americanas.com.

Como o pai não pode pegar peso, coube a mim e ao Alan subir com eles e pôr no lugar dos antigos. Foi então que percebi o quanto a humanidade evoluiu. Porque trazer os eletros novos foi fácil, me senti o Huck Hogan. Mas descer com os outros... Sinceramente, quem diz que pra baixo todo santo ajuda nunca teve que carregar um ar-condicionado antigo. Eles pesam mais que a Preta Gil, certeza que eram projetados como método moderno de tortura. Porque ninguém consegue levar o trambolho no braço numa boa. Às vezes, pra ser sincero, parecia que eu e meu irmão éramos pouco. As peças de plástico dos novos, que pai e mãe tanto reclamam que "são vagabundas, vão fazer o troço durar pouco" etc têm exatamente a mesma serventia das feitas de metal, perfeitas pra quem sente aquela incontrolável necessidade de uma vacina antitetânica.

Ou seja, o homem precisou de décadas pra perceber que não é a maldita parte externa que faz dos eletrodomésticos bons aparelhos, mas sim a interna. Gastamos recursos à toa. E ainda damos trabalhos pra filhos legais que pretendem poupar a saúde dos pais, ainda que isso signifique um projeto de hérnia de disco antes dos 40 anos.
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Ahan. O "sexy e plagiado selo Procel". Faltou dizer que, das três novidades papáticas (palavra que significa "do pai" - sim, sou um natoneologista), a única que não tomou lugar foi a do meu quarto. Como sempre. Um, porque é o único que fica no alto e isso dificulta a troca. Dois, porque qualquer coisa que dificulte o que quer que seja vira assunto pra depois, aqui em casa. Vulgo rodei.

Enquanto o ar fica no chão do cafofo me olhando com um irritante ar de deboche, sou obrigado a encarar o selo do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Um smiley dividido ao meio, o que responde à parte do plágio. Com a metade esquerda dormindo sorridente, como se estivesse no meio de um sonho erótico.

Pelo menos esse ar-condicionado vai poupar energia. Afinal, eu sei que ele não vai ser trocado tão cedo.

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