segunda-feira, 17 de abril de 2006

Grande Fausto

Vocês já devem ter visto o comercial do programa do Faustão em que ele fala de uma tal de "Seleção do Faustão". Mais uma daquelas promoções que atraem os pobres para gastarem dinheiro sem poderem e enriquecerem a Globo e seus parceiros. Até aí nada de novo, mas alguém atentou para um fato importante na propaganda?

O gordo diz "se você tem celular pré ou pós-pago e sabe mandar mensagem de texto...". Veja bem, ele não disse quer. Não disse pode. Ele disse sabe, verbo saber. O que pressupõe que ele - e mais que ele, quem escreveu este texto - sabe que existe gente que não tem idéia de como mandar mensagem de texto.

Pode não parecer nada de mais à primeira vista, mas parem para pensar. Como alguém pode gastar uma grana para comprar um aparelho eletrônico, símbolo de tecnologia avançada, e não saber como funciona? Então, por que compra? Para quê?

Isso prova (não que não soubesse, mas assim não tem desculpa) que os comunicadores, os responsáveis pela informação, sabem sim sobre a condição intelectual da população. Ainda assim - ou principalmente por isso - criam publicidade e promoções e notícias explorando o que deveria ser combatido, que é essa deficiência crônica na educação de grande parte dos brasileiros.

Esse textinho da promoção anunciado pelo gordo é mais uma prova de que a classe pensante do país, minoria absoluta, está muito mais preocupada em se aproveitar da lacuna intelectual da nossa gente do que em ajudar a resolver a situação e contribuir para o desenvolvimento do Brasil.

Prova também que o profissionalismo e a preocupação social pregados pela Globo não são mais do que um grande fingimento para conseguir abatimento de impostos através de programas de ajuda aos pobres. Aliás, como comprovar o destino do dinheiro arrecadado, por sinal?

Prova, ainda, que todo o alarde e o falatório por parte de artistas, apresentadores e gente da mídia, em sua maioria, não são mais do que balelas para ganhar a simpatia de anônimos, que vão posteriormente dar audiência e dinheiro para eles. Em sua maioria, já que em toda regra existem exceções.

(Lima Duarte que o diga, já que teve que se desculpar com Globo e o mundo após criticar um monte de gente da emissora e a edição "seletiva" do Fantástico)

A mulher que trabalha aqui não sabe ler nem escrever, mora com a filha em um quarto alugado por R$150,00 no Rio das Pedras, sem janelas nem nada. Apesar disso, seu celular está sempre com crédito. Será que ela vai escolher a seleção do Faustão? Consumo responsável parece ser um conceito meio por fora do marketing atual.

Não sei por quê, mas do fundo deste abismo me sobe um cheiro de hipocrisia...

Se o comentário anterior estiver meio bagunçado e sem sentido, culpem a Light. Depois de ter que parar a postagem duas vezes pela incapacidade deles de manter a energia correndo por Jacacity, perdi um pouco o fio da meada. Mas imagino que entenderam aonde queria chegar.
***
Bem que eu tentei colocar um link para a música aqui, mas isso já basta. Aconselho a procurarem e chorarem com uma das canções mais bonitas que já ouvi. Interpretação tocante de Jeff Buckley, e dica do Alan (sim, sei valorizar quando sou informado de algo bom - parabéns ao meu irmão, mais uma vez).

"well your faith was strong but you needed proof
you saw her bathing on the roof
her beauty and the moonlight overthrew you
she tied you to her kitchen chair
she broke your throne and she cut your hair
and from your lips she drew the hallelujah"

Hallelujah - Jeff Buckley

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