quinta-feira, 18 de março de 2010

Lamentável

Começo meu texto com o outro, do qual quero falar. E lembrando a todos que sou "acima de tudo, rubro-negro". Só pra deixar claro que não é por isso que escrevo. Paciência, já, já vocês vão entender tudo.

"O Flamengo parece um antro de marginais
seg, 15/03/10, por Marco D'Eca

O centro-avante Adriano é um cachaceiro marginal e descontrolado, protegido pela mídia flamenguista e financiado por quem quer vê-lo na Copa.

Wagner Love é marginal mesmo - no sentido social do termo - destes que participam de festas com traficantes e acham normal a convivência.

O goleiro Bruno se revela um marido brutamontes, agressor de mulher e farrista inveterado, com as declarações bisonhas que deu à mídia.

Além dele, vários jogadores rubro-negros participam de farras e bebedeiras antes, depois e até durante os jogos do Flamengo.

Nenhum outro time de futebol no Brasil abriga tanta gente desajustada quanto o Flamengo - marginais no sentido amplo da palavra, aqueles que vivem, por exclusão ou opção, à margem da sociedade organizada e civilizada.

Nenhum outro time registra tantos jogadores com problemas sociais quanto o Flamengo.

Este é o Flamengo, parece um antro de marginais.

Movidos, no mínimo, pela ausência de bom senso, os donos da Choppana, em São Luís, resolveram abrir a casa para acompanhamento comaptrilhado de torcida durante os jogos.

Vascaínos disseram não à idéia estapafúrdia e procuraram outro local para se concentrar e fazer a festa do futebol.

Porque sabem ganhar e perder com a mesma educação.

Não dá para compartilhar o mesmo espaço em ambientes públicos com flamengustas - jogadores ou torcedores.

É pedir por agressão...

Texto modificado às 16h55 por conter agressões injustas e desnecessárias a dirigentes e a torcida do Flamengo. Mantêm-se a opinião apenas em relação aos jogadores. a Torcida, minhas desculpas.

Marco Aurélio D'Eça
marcoaureliodeca@mirante.com.br"

Tive o trabalho de transcrever o texto tal qual estava na página da globo.com por alguns motivos. Um, porque me recuso a dar qualquer chance de tráfego a uma página com esse conteúdo - quem quer saber exatamente do que se trata se satisfaz aqui. Dois, porque quero ser honesto com ele para quando começar a bater no seu texto. Três, para que vejam que o infeliz é incapaz de escrever corretamente, e tem a audácia de falar alguma coisa de alguém.

Acredito que não faria falta falar isso, mas ele é vascaíno. Não só pelo elogio à torcida, mas por escrever com tamanha dor de corno numa segunda-feira pós-derrota. Não apenas pós-derrota, mas pós-cagadas do seu (teoricamente) maior astro. Que, não custa nada lembrar, ficou suspenso por um bom tempo. E, até onde eu ser, ser atleta de Cristo não dá gancho em ninguém...

O queridão também demonstrou uma falta de memória incrível, se considerarmos seu último ditador presidente, Eurico Miranda, que roubava renda dos próprios jogos e amordaçava imprensa, sócios e funcionários. Ou mesmo do Dinamite, que rezam as más línguas (repetindo palavras de amigos vascaínos) não é lá um primor de honestidade. Ah, sim, vale lembrar que ali está jogando o Carlos Alberto, e que seus últimos grandes ídolos foram Romário e Edmundo. Que batiam boca abertamente na imprensa, quando o Euricão deixava.

Também não custa nada relembrar o alinhamento de Eurico com o declaradamente pilantra Viana (se era com dois "n", o outro foi roubado). Quem conhece um mínimo de história do futebol carioca sabe da quantidade de falcatruas organizadas e levadas a cabo pelos dois.

Mas não quero falar dessas brechas, apesar de poder. Não quero revidar na torcida vascaína, por não ser necessário e por ter amigos (incluo pai, irmão e demais familiares em amigos) que torcem pelo clube. Muito menos vou ficar xingando o pobre coitado, exatamente por esse motivo: o tal Marco Aurélio é um coitado.

Um ser sem um mínimo de bom senso. E que, justamente pela falta dele, acabou expondo um preconceito lamentável que já deveria ter sido extinto há muito tempo. O país do futebol, que une ricos e pobres, letrados e analfabetos, pretos e brancos e toda a escala Pantone, não consegue se livrar de idéias absurdas e mesquinhas inventadas algum dia por algum idiota.

Chamar alguém de "cachaceiro marginal e descontrolado" é triste, porque alcoolismo é um problema de saúde. De "marginal mesmo - no sentido social do termo" é grave, uma acusação digna de ser provada - e passível de ser punida na falta de provas. "Farrista inveterado" pode até ser um elogio, dependendo da situação. Dizer que "jogadores participam de farras e bebedeiras até durante os jogos" mostra um absoluto desconhecimento do esporte.

E tudo isso em uma idéia pré-concebida - preconceituosa, vamos deixar mais claro - de que um clube de futebol reúne a toda essa gente é deplorável. Sim, o Flamengo é um time de massas. E entre 35 milhões de torcedores é provável que tenhamos bandidos entre nós. Assim como policiais, cientistas, médicos, advogados e até publicitários como eu. Assim como é normal que, devido à paixão de tanta gente, o sonho de todo aspirante a profissional (e profissional também) seja defender as cores do clube - o que aumenta a probabilidade de que alguém com problemas venha a jogar pela equipe.

A maioria esmagadora de brasileiros que pretende viver de jogar bola é a mesma que não tem muitas expectativas na vida, por falta de educação ou oportunidades. Como uma pequena parcela alcança o sonho de ser jogador, e uma ainda mais microscópica consegue viver disso, e um milionésimo dessa gente vive bem como que ganha, é claro que muitos virão de áreas pobres, e muitos voltarão para lá. E vitoriosos e "derrotados" manterão a amizade, o que é louvável. Mais do que o ganha-pão de alguns, que entram no mundo do crime. O que não faz com que os anos juntos sejam esquecidos. O que faz com que um jogador profissional seja visto no baile funk que freqüentava, ou no churrasco de um amigo bandido.

O preconceito exposto por um ser como o que escreveu o texto, compartilhado em muitos dos comentários que vinham abaixo, fatalmente será retransmitido às próximas gerações, mantendo o círculo vicioso de ignorância que impede nossa sociedade de evoluir. Também contribuirá, provavelmente, para que sigam existindo agressões verbais e físicas entre torcedores dos dois clubes (e de vários outros), que não se aceitarão ou dividirão espaço, como o próprio cita no final do seu texto. E, pior ainda, é reflexo de tantos outros preconceitos que estão escondidos numa capa bem rasa de muita gente, e só precisa de um arranhãozinho para abrir um rasgo e transbordar, espirrando em todo mundo. Coisa de cor, raça, gênero, opção sexual, idade, estudo, profissão etc.

Sinto muito, mas o Brasil não vai longe com gente assim. Porque, cedo ou tarde, essa visão curta vira uma barreira e bloqueia o caminho. Vira cegueira. E, em terra de cego, quem tem um olho fatalmente acaba se aproveitando. Basta ver o que passa no país há séculos, literalmente.

Voltando às idéias absurdas do texto do queridão (e estou sendo incrivelmente gentil chamando tudo aquilo de "idéias" e "texto"), é bom ressaltar que jogadores problemáticos estão espalhados por todos os clubes, basta uma lidinha rápida na página de esportes pra satisfazer a curiosidade e conseguir papo pra fofoca com os companheiros de resmungo. E torcida problemática se manifesta em cada canto do país, e fica a dica do jornal pra conseguir mais assunto.

Isso não é uma questão de camisa. É questão de educação. A mesma citada no texto desse tal de Marco Aurélio D'Eça, e que claramente falta na sua vida. E a desculpa que ele foi obrigado a acrescentar no final do seu texto, eu não aceito. É um remendo pra disfarçar sua opinião, que não mudou.

Eu tenho pena. Não dele, mas de quem é obrigado a conviver com tamanha boçalidade.

6 comentários:

Anônimo disse...

Esse cara é um babacóide. Valeu, Alê.

Unknown disse...

Hahahaha, babacóide e cara de mamão.

Cá disse...

É incrível! Não existe agressão assim a outro time que não seja o Flamengo. No final das contas, parece infantil, mas tudo se resume a inveja mesmo do Mengão. Porque somos a torcida mais bonita e mais feliz!
Deixa os outros se queimarem... quem tá perdendo são eles!

Beijos, Cá

Alexei Potemkin disse...

Mandou bem, Alexandre! Confesso que me forcei a ler aquela merda lá, mesmo porque me mandaram 3 vezes e eu me recusei a ler só pelo título do texto que resume toda a boçalidade do visceíno.


Abs

Unknown disse...

Oi, Alexandre. Sou jornalista e flamenguista (com força, ou melhor, com raça!). Conheci seu blog porque uma prima minha (publicitária e vascaína) me mandou o link. Li sua análise e gostei muito! O pensamento do Marco é o de 90% dos torcedores dos outros times.

Chamam flamenguistas de favelados, como se estivessem xingando a massa. Favelado não é (ou não deveria ser) um insulto. A torcida da massa tem, sim, mais gente do morro, assim como do asfalto e de todos os grupos. Por isso, com um certo orgulho, a nossa torcida canta: Favelaaaa, festa na favelaaaa! E canta com frequencia, porque são muuuuiiiitas vitórias! rs...

Saudações rubro-negras! Ahhh, tb tenho um blog. Já escrevi sobre a alegria de ser hexa! Se quiser, olha lá.

Unknown disse...

Concordo, Cá. Te entendo, Alexei. E obrigado, Érika e todos. É uma pena ter que analisar isso, porque é sinal de que ainda existem pessoas que pensam assim. Muitas. Lamentável. Mas sou bobo, utópico, acredito que ainda existe um jeito pra isso. A ver.

E Érika, não consigo ver qual é seu blog. Não está habilitado no seu perfil. Qual é o endereço? E, por curiosidade, quem é sua prima?