quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"O Pelé, calado, é um poeta"

O que permitiu ao Romário falar isso do Pelé, e a este opinar contra a convocação do primeiro pra Copa de 2002, foi a famosa liberdade de expressão. É ela que permite aos cidadãos manifestarem suas opiniões, idéias e pensamentos de forma livre. É um dos pilares da democracia; está garantida constitucionalmente.

Bom senso não está garantido na Constituição. Não é nem mesmo um conceito fechado, acordado entre os seres humanos. Ele diz respeito, basicamente, à educação e ao uso da razão na hora de se expressar sobre determinado assunto. Não é pré-determinado por juízes ou filósofos; na verdade, costuma vir de casa e das experiências que cada um teve ao longo da sua vida.

(Antes de continuar o texto, vale lembrar a quem me conhece e avisar a quem não sabe que eu não suporto o CQC e seus integrantes. Pra mim, são pseudohumoristas e pseudopolíticos, sem fazer direito nenhum dos dois. Mas vou deixar o gosto pessoal de lado e falar baseado em fatos reais.)

Não sei exatamente qual a experiência de vida do tal Rafael Bastos. Desconheço a educação que teve em casa e onde estudou, e isso pouco me importa. Mas a liberdade de expressão da qual ele abusa passa a anos-luz do seu bom senso, se é que ele tem algum. Há pouco tempo, disse que "estuprador de mulher feia merece um abraço". Agora, que "comeria a Wanessa Camargo e seu bebê". Se eram piadas, deram errado. Se pensa assim, deveria abrir o jogo num churrasco da Band, não em rede nacional.

(Algumas piadas, ou "piadas", têm lugar certo pra serem feitas. Adoro piadas de humor negro, mas não faria num velório. Os negros aqui da agência fazem piadas de preto, mas não imagino que contariam uma num gueto. Isso faz parte do tal bom senso. Se o Rafael Bastos for pago pra fazer um "stand-up" num clube judaico, vai fazer piadas com judeus e cinzeiros?)

Ah, só afastaram porque senão o programa perderia anunciantes. Provavelmente. Ah, negócios são assim mesmo, ele foi ingênuo achando que podia falar qualquer coisa. Talvez. É o sujo falando do mal lavado, seus hipócritas amantes da ditadura! Discordo, mas a liberdade de expressão te dá o direito esse texto - que ainda mete Hitler no meio, em outro excelente exemplo do uso do bomsenso na defesa do seu ponto de vista.

A verdade é que ninguém do CQC tem o direito de reclamar de liberdade de expressão. Pra começo de conversa, porque não é o primeiro deslize do grupo (e apagar o que disse em vez de se desculpar não é lá muito honesto, não acham?). Segundo, porque Marcelo Tas e seus pupilos não são exatamente um exemplo da defesa do direito de opinião. Na minha humilde opinião, já que ao menos na Ponte eu posso escrever o que quiser (até que o Tas me processe), eles se consideram acima de qualquer coisa por serem o carro-chefe da emissora, e garantirem uma grana forte todo mês. A mídia constrói a imagem que quiser, e o povo sempre acaba comprando. Até que algo aconteça e a mídia desconstrua a imagem que criou - e o povo compre outra vez.

Há alguns meses, saiu na (chata) revista de domingo dO Globo uma matéria com alguns humoristas e vários "humoristas" sobre as polêmicas "piadas" da galera do CQC. Entre opiniões diversas e várias puxadas de saco entre amigos, uma me pareceu bem sensata. Acho que foi do Andre Dahmer, do Malvados ("acho", ok?), e dizia mais ou menos isso:

A questão não é se uma piada é ofensiva a esse ou aquele grupo, mas se tem alguma graça. E muitas delas não tem.

É exatamente assim que eu vejo o CQC e seus integrantes. Sem a menor graça. E, cada vez mais, sem o mínimo de bom senso.

ps: tuitar isso - "Que noite triste pra mim: Foto1 - Foto2 - Foto3- http://t.co/ILrICqmH" - me parece uma bela demonstração de caráter. Parabéns a todos os envolvidos na defesa do tal Rafael Bastos.

ps2: ia colocar "humor" como mais uma tag do post, mas isso não combina com o CQC.

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