quinta-feira, 2 de novembro de 2006

"Você já foi mais humilde"

Vou aproveitar o tema para tocar em um assunto que começa e morre nesta postagem: eleição. Aí vocês perguntam "mas por que você não quer falar de eleição?", e eu respondo "porque tô de saco cheio de política, e só volto a discutir sobre quando aparecer alguém em quem eu realmente confie. Ou quando o Zico for presidente do Flamengo.

Falando esse tantinho de política, sou obrigado a comentar a votação de agora. Agora como semana passada. Votei nulo pra governador e presidente.

Ah, o voto é secreto?

Problema meu. Eu falo o que quiser, a Ponte é via pública mas a informação sai daqui da minha garagem cerebral. Votei nulo porque não acredito em nenhum deles. Seja para governador, seja para presidente. Com um agravante, no caso do Lula.

Não, não vou dizer que ele é o maior pilantra do mundo, como tem gente que faz. Porque não tenho memória curta ou seletiva, como essas mesmas pessoas. Afinal, o mensalão desse governo rolou também no FHC. Acordos por debaixo dos panos, roubalheiras e tudo isso que sai nos jornais "imparciais". Mas as coisas não poderiam ter tomado esse rumo.

A esperança do povo não poderia se comportar desse jeito. Empáfia, oba-oba, pedantismo, arrogância. O chefe de Estado esperado por tanta gente anos a fio não poderia não saber de nada. É inaceitável que não saiba de nada. Se fosse um chifre da dona Marisa, será que ele também não saberia? Porque isso é típica atitude de corno. E o presidente não pode ser corno, ele tem a inteligência e a aparelhagem do governo a favor dele.

Se Lula foi (re)eleito - e sem meu voto, dessa vez -, foi devido à incompetência da oposição, à inexpressividade de um candidato tão errado quanto seu adversário (pra quem não sabe, 80% das obras públicas do estado de São Paulo foram ou deveriam ser cortadas devido ao rombo deixado pelo governo Alckmin), à falta de propostas realmente atraentes para o povo e à desconfiança na direita. Que passou décadas, séculos, dando motivos para isso.

Então, direita, não reclamem. A culpa pela derrota é de vocês. E é verdade que o país tem o povo que merece. Porque milhões de pessoas se apequenarem diante de uma micro-elite covarde por tanto tempo tinha que resultar em um Brasil tão miserável por tanto tempo.

E, senhor presidente: você já foi mais humilde.
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Meu pai também já foi mais humilde. No sentido monetário do termo. Ele não tinha nada, ganhou pouco e me deixou aqui. Sem posses, rendas ou heranças, mas com um capital social honesto e invejável. A falta de uma condição financeira confortável é compensada com o entendimento do valor do trabalho, do suor que traz o que se quer.

Algumas pessoas não tem isso. Nem essa (pouca, mas minimamente satisfatória) condição financeira que temos em casa, nem capital social. Nem casa, roupas, educação e mesmo comida. Elas (sobre)vivem próximas, às vezes ao lado, de quem tem. Muito ou pouco, não importa. A questão é que essas pessoas que têm não movem um dedo para ajudar as que não tem. Não movem sequer os olhos, porque "o que os olhos não vêem o coração não sente". Acredito que o coração delas não sentiria de qualquer jeito, mas mesmo assim não olham para os lados. Ou para baixo, para os que estão caídos no chão, morrendo de fome.

Foi uma dessas pessoas que meu pai parou para ajudar. Comprou comida, abriu a porta do carro ao lado dela para ninguém ver a situação, e ficou ali, acompanhando a pessoa matar sua fome. Ela não disse obrigado, mas é como meu pai disse. "Não precisava, não estava ali pra isso".

Ele disse que viu nos olhos dele uma expressão de pena pela situação do meu pai. Porque o constrangedor não é não ter, porque ele provavelmente não teve chances na vida. Constrangedor é ter e ver que você é minoria absoluta e se sentir culpado pela situação dos outros, mesmo que você não tenha.

Afinal, para cada "meu pai" que ajuda um desconhecido necessitado, existem "pais", "mães", "playboys" e inúmeras raças que simplesmente ignoram esse mundo que não é o deles. Tendo muito mais condição que nós, aqui de casa.

Isso é vergonhoso e desanimador. Às vezes me pergunto se sou desse planeta, porque deve ser uma coisa muito anormal me importar tanto enquanto tantos não se importam nem um pouco. Chorar enquanto riem "da roupa da cor do cara". Sofrer enquanto comemoram as rodas de liga leve e o insulfilm que custaram um ano de comida para uma família miserável do país.

"O bom do Brasil é o brasileiro".
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Pra fechar, quero registrar a mudança de sentido na Ponte. Se quero um blog condizente com o que penso e gosto de escrever, então vou juntar humor - mesmo que vocês não me achem engraçado, eu me acho; e isso é que nem mamãe dizendo que o filho é bonito, o que no meu caso também considero verdadeiro - com preocupação social e pensamentos um pouco mais elevados do que "JQuest é a pior banda da história da humanidade no Universo!". Com todo respeito à minha pequena.

Os links do lado esquerdo estão mudando, e poderão receber companhias novas a qualquer momento. Basta que eu queira. Porque, se não posso ser presidente, pelo menos aqui eu mando.

Entraram "Ponte para o sucesso", com a presença ilustre e até agora solitária do Dr. Separita - as letras são engraçadas mas a crítica aos assuntos é séria, vale a pena, além da amizade pelo Alex; e "Contra o câncer de mama" - porque tenho certeza que vocês conhecem ao menos uma mulher que já teve, e nesse link você encontra um botãozinho rosa que deve ser clicado diariamente para que mulheres carentes possam ganhar mamografia grátis. Se quem tem condição já sofre, imagina humildes. O que fiz foi facilitar a vida de vocês para que possam ir para o céu. Então, mesmo que não queiram ler meus edificantes e hilários textos, entrem aqui e cliquem lá. Ou coloquem nos favoritos de vocês o ink direto. Dane-se. Só façam.

Também tirei a "Ponte para um sonho", porque não condiz comigo links de Porsche e Leica. Até gostaria de ter uma máquina dessas, e um carro assim eu me amarraria em dirigir por umas horas. Mas a função social da Ponte está acima de besteiras materiais.
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Adendo: obrigado, Latino, por uma letra tão expressiva, que me ajuda a falar ao mesmo tempo do presidente, do meu pai, da situação brasileira e de mim. É um gênio incompreendido, esse galã da música pop tupiniquim!

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