domingo, 9 de maio de 2010

Eyjafjallajokul, eu e a minha mãe

Mais uma vez, sou obrigado a deixar a série de textos sobre Malta pra depois. Dessa vez, graças à mãe natureza. Aquela que, ao menos por mim, não será homenageada hoje.

O Eyjafjallajokul não é o maior vulcão da Islândia, nem o mais importante. Mas resolveu que era hora de aparecer. Não por pouco tempo, só pra dar uns dias de notícias para os jornais de todo o mundo. Por muito, muito tempo. Espalhando cinzas e caos pela Europa. E cancelando vôos.


O pior de ter um nome impronunciável é que não consigo xingar com propriedade. Dizer "esse vulcão" prejudica bastante minha intenção de odiá-lo. Porque, depois de planejar por um mês quatro dias em Pisa, encontrar sofá e albergue, criar um mini-dicionário básico fundamental de italiano e descobrir coisas que me encantaria fazer, ele fechou o espaço aéreo espanhol e bloqueou meu avião.


Posso resumir meu sábado assim: acordei cedo, perdi aula e paguei 23 euros por um bilhete de ida e volta ao aeroporto de Reus. Viajo uma hora e vinte e dou de cara com um painel que informa o cancelamento de vários vôos. Entro numa fila da RyanAir por mais de uma hora, tendo que dissimular minha decepção enquanto impedia milhares de tentativas de uns marroquinos cretinos de passarem na minha frente. Arrumo um reenbolso pra cerca de dez dias, não sem antes aturar uma catalã dando piti com a funcionária que me atendia. E que queria chamar a polícia, o que atrasaria consideravelmente minha saída daquele inferno.


Por demorar nesse processo, não havia mais ônibus pra Barna quando saí do sagüão. Eram 13h, e o seguinte sairia às 16h ou mais. Paguei 2,20 € por um ônibus pra estação de trem da cidade, mais 7,40 € por uma passagem de volta e 1h de viagem. Demorou mais, claro. E fui obrigado a agüentar um ser roncando metade do trajeto. Ah, sim, perdi a grana do bilhete de volta do ônibus, não reembolsável.


Apesar de tudo isso, estive surpreendentemente calmo durante todo o dia. Talvez porque, no fundo, sabia que não posso me irritar com o inevitável. De que adiantaria me estressar se não ia mudar absolutamente nada? Já tenho muita coisa que tira meu sono, o que não tem jeito não pode entrar nessa lista. Uma prova do meu amadurecimento? Espero.


Só sei que, graças a esse belo sábado, eu descobri que a mãe natureza é mãe também dos juízes de futebol.


***

Mas essa história não pode apagar a estrela do dia: a mãe. Especialmente a minha, que me atura há tanto tempo e conseguiu transformar a união de um óvulo com um espermatozóide em um adulto minimamente educado, com algo de inteligência e tão bom quanto a vida o permite ser.

Minha mãe não lê meu blog, não deve saber que tenho um e, provavelmente, nem sabe o que é um blog. Mas escrevo isso porque ela merece. Porque não é todo mundo que acorda de madrugada pra saber o que você tem. Que faz seu prato favorito quando você está triste por algum motivo que não quer dizer a ela. Que liga sem avisar porque sentiu que você precisa de um afago - e você realmente precisa.

Não é todo mundo que faz previsões que não te agradam, acerta e no fim das contas você se dá conta de que era exatamente o que gostaria. Que chora porque você conseguiu seu objetivo, por mais bobo que seja. Que conta vantagem pras amigas por coisas que você considera normais. Que agüenta sua fase chata de criança, cretina de adolescente e sumida de adulto. Que engole suas palavras feias e louva cada mínimo elogio. Que se orgulha de ter sofrido pra você nascer, e que continua se orgulhando por anos, décadas, o tempo que estiverem juntos, por tudo o que você faz, é ou está. Que se sacrifica por alguém que, segundo a (triste) lógica da vida, viverá mais do que ela. A distância (graças a Deus, física, de "apenas" um oceano) me faz perceber cada vez mais como ela faz falta. Assim como pai, irmão e pessoas amadas em geral.

Quilômetro é uma unidade de medida diretamente proporcional à saudade, e potencializada por datas especiais.

Mesmo tendo consciência de que esta é uma invenção comercial, e de ser dos que defendem que todo dia é dia das mães, não poderia deixar de falar um pouco de uma das pessoas que amo mais que tudo nessa vida. Mais que a mim mesmo, inclusive. Não por falta de amor-próprio, e sim desprendimento pessoal por algo - alguém, no caso - infinitamente maior e melhor do que eu, e que merece todo o amor do mundo.

Por isso, ainda que eu acredite que minha mãe não vai ler esse texto, digo: feliz dia das mães. Te amo.

E, para todas as outras mães da minha vida (tias, avós, sogra, mães de amigos e agregadas em geral), um excelente dia de hoje. Desejando que os outros 364 sejam ainda melhores e mais especiais.

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