segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pelé x Mourinho

Ambos são vitoriosos, ricos e falam português. Pelé Arantes do Nascimento e José Mourinho, o treinador do momento (há algum tempo) têm muito em comum. Inclusive, a incapacidade de manter a boca fechada.

"Pelé calado é um poeta", disse Romário. E dos bons, se compararmos com o nível do que sai quando ele abre a boca. Mas, se ainda não vi o lusitano derrapar em declarações extra-futebolísticas, no que diz respeito ao esporte ele não tem papas na língua. Só que existe uma diferença nada sutil entre os dois.

Pelé sempre disse que Pelé é único (ou seus equivalentes). Quer dizer, o Edson falou. Porque o Pelé é humilde, não fala de si mesmo. Já o Edson, como entidade extra-campo de carne e osso, tem todo o direito de idolatrar, tietar e amar o maior jogador de todos os tempos.

Já o Mourinho declara abertamente que é o melhor do mundo. Sua entrevista hoje, ao ser apresentado pelo Real Madrid, foi de um egocentrismo que beirava o ridículo. Frases como "ainda bem que existem presidentes de clube e diretores de futebol inteligentes que não acreditam nas invenções da imprensa e contratam técnicos como eu" rechearam suas respostas às dezenas de repórteres submissos e ignorantes que lotaram a sala de imprensa. Sem contar suas esporádicas ironias mal-educadas, ou a cara de quem foi dar um peidinho e agora tá na dúvida se pode levantar ou não.

Pelé foi eleito o atleta do século, e o Edson reconhece o feito. Mourinho espera ser eleito o melhor do mundo - pelos outros, porque ele mesmo já se premiou há muito tempo. O Edson fala na terceira pessoa porque é humilde como o Pelé, que não fala das suas façanhas. Mourinho fala em primeira pessoa porque ele é, ele foi, ele será e ele todo-o-possível, como se as suas conquistas - que não são poucas, é verdade - não tivessem sido suficientemente documentadas. Pelé é idolatrado. Mourinho se idolatra.

Por isso o Mourinho é o Mourinho, e o Edson é o Pelé.

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