quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quase morte

Eu tenho pra mim que a melhor maneira de escapar ileso de uma experiência de quase-morte é não passar por ela. Claro que posso estar enganado, como da vez em que não alimentei minha esposa e tentei sair do zoológico abraçado ao hipopótamo. O que foi muito injusto e insensível da minha parte, pois ela já tinha perdido mais de 80 quilos nos últimos meses. Anos, sei lá. Não prestava a menor atenção nela.

A experiência de quase-morte é uma espécie de test-drive do céu. Ou do inferno, dependendo de como você se comportou e se acredita mesmo nisso. Porque sempre tem a opção de dizer "ei, seu cramulhão, você é uma invenção da igreja pra me obrigar a entregar as moedas que ia gastar na máquina de refrigerantes!". Se tiver a mente muito forte, pode acabar com a visão do fogo eterno. Ou então fingir que não sente nada, caso o diabo realmente exista e não vá com a sua cara depois da tentativa frustrada de desacreditá-lo.

Voltando ao test-drive, ele não tem seguro (os bancos ainda não cobrem isso, por mais que os valores das apólices pareçam incluir até queda de pêlos da orelha). Se você bater as botas, é perda total. Não sei de onde sai a ilusão de que vai ser uma boa história pra contar e que todo mundo vai te pagar cerveja enquanto escuta como é o outro lado, quem te recebeu e se a luz divina funciona com sensor de presença.

Imagina a situação: você cai da escada da 4x4, escorrega numa revista de subcelebridades de três anos atrás que estava no chão da recepção do Werner Coiffeur ou xinga o motorista que te deu uma fechada antes de perceber que ele é duas vezes maior que a porta da sua garagem. Daí, sente alguma coisa e não se lembra mais de nada - também conhecido como ir para o hospital em estado de coma. O que acontece?

Então, não sei. Nem você. E é aí que mora o perigo (na Vila Cruzeiro o perigo só dorme, normalmente nas noites de pagode; é perigoso sair de lá de madrugada). Além de você poder morrer, o que não é legal se comparado a estar vivo, podem acontecer coisas muito piores. Quase pior que ser mãe do Serginho, do BBB.

Você pode despertar em estado vegetativo. Além da palavra despertar ser irônica, já que você não recobra a consciência, o termo estado vegetativo é maldoso. Chamam assim porque a pessoa - que, no caso, seria você - se parece a uma alface, ou um abacateiro. Sendo que não faz fotossíntese, ninguém rega e o Greenpeace não se amarra em volta pra defender.

Você pode voltar sem algumas funções básicas e seriamente afetado. Deve ser doloroso acordar falando como a Hebe, com o senso de humor do Faustão ou como o Rubinho, num aspecto geral.

Ademais, caso você sobreviva sem nenhum tipo de seqüela, ainda vai ter que passar por um longo período de recuperação. Ou seja, vai ter sempre as mesmas histórias pra contar - se transformando no famoso chato.

Assim, quando pensar em ter uma experiência de quase-morte, fique com a definição dos franceses, que chamam o orgasmo de petite mort. O gasto com saúde se resume à camisinhas, o tempo de recuperação varia entre uma soneca e a reativação do princípio ativo do Viagra e você vai ter muito mais histórias pra contar.

E, se ela for feia ou fingir a petite mort, você não precisa de atestado médico pra inventar o que viu.

Um comentário:

Al Mota disse...

maneiro, alexandre em seu dia de seinfeld! continue meu filho.