quinta-feira, 14 de julho de 2005

Murphy no 49

Nada como acordar em má companhia para acreditar que a vida te deve muito mais do que você espera. Como se não bastasse ter passado toda a quarta-feira resolvendo pendengas, esquentando a cabeça e não almoçando (assim como em toda a semana, até agora, incluindo hoje), ficando sem tempo de entregar trabalhos que deveriam ser entregues, chegando em casa tarde, dormindo tarde... Acordo cedo para me redimir e o 49 é parado pela blitz, atrasando o horário da minha barca.

Mas isso não é nada. Pior é ter PMs entrando no ônibus e, dentre tantas e tantas pessoas, escolher você - eu, no caso - para mandar levantar, ser revistado e abrir a mochila. E imagino que não tenha sido por causa da minha humilde camisa do Velvet Revolver, porque ele nem deve saber o que é isso. Na verdade, duvido que ele se importe.

Não sei porque, mas tenho a impressão de que foi por causa da minha bonita cor de pele. Para quem não me conhece, tenho a tez morena de índio, não tão queimada de sol porque agora sou rapaz trabalhador. Meu avô era índio, e apesar de não herdar traços fortes da raça tenho um quê deles. Mas a verdade é que achei um pouco constrangedor, mas para não perder a pose falei para ele abrir a mochila quando pediu perguntou se eu podia abrir. Daí ele ficou meio sem jeito, "você pode abrir, por favor?", e mal tirei o porta CDs ele disse que não precisava mais. Cada vez mais odeio PMs.

Estou começando a achar que tenho cara de bandido, também. Como se não bastasse ser parado em todas as blitzes possíveis todas as vezes que saio, em todos os Estados por onde passo, agora sou parado à luz do dia, indo para o trabalho. Se houvesse uma escala de suspeitos, seria assim:

1ºPreto
2ºHomens com dread, rastas e afins
3ºPretos com dreads, rastas e afins
4ºAlexandre (eu) e pessoas parecidas
5ºMendigos

Fora uma coisa: um velho que estava sentado no banco da frente ficou falando sobre "desconfiar sempre das pessoas de cor", que normalmente "pessoas de cor" são ladrões e afins e por isso PMs sempre revistam "pessoas de cor". Uma senhora "de cor" disse que aquilo era um absurdo, que ela era negra e não era ladra. O velho justificou dizendo que "branco correndo na praia é atleta, preto correndo na praia é ladrão".

O bom do Brasil é o brasileiro, né?

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