quarta-feira, 30 de novembro de 2005

O preço que se paga

30 euros. Esse é o preço que se paga - ou que, ao menos, paguei - por Êxodo e Retratos de crianças do Êxodo. Acabei de ver no Buscapé a 104 reais só o primeiro, no mínimo e sem taxa de envio. Pechincha, não? Mas não quero tirar onda com relação ao preço. Quero falar sobre o livro, apesar de não ter visto todo.

Já disse que não curtia o fotógrafo até as aulas do Dante na UFF, e a partir daí aprendi a admirá-lo. Sua trajetória, sua coragem, seus trabalhos. A sorte acompanha quem tem competência, e se a pessoa souber aproveitar vai se dar bem na vida. Foi assim com ele.

Mas nunca tinha lido o texto introdutório do livro. E é simplesmente maravilhoso. A consciência que ele tem, seus pensamentos, suas reflexões, como se sensibiliza pelos seus semelhantes, sua preocupação e indignação com a situação de milhões e milhões de seres humanos como nós, mas só na classificação biológica, já que estão esquecidos pelo resto do mundo.

Tem que estar muito preparado para ler tudo aquilo, seus relatos sobre como foram feitas as fotos, onde e em que situação - dele e dos fotografados - e depois ver as imagens. Quantas vezes não fiquei emocionado, com nó na garganta e tudo. Dá certa tristeza pela nossa raça.

E se for falar sobre as fotos... Seu talento é absurdo, o olhar sobre a situação, a capacidade de achar as imagens mais bonitas onde pessoas comuns enxergariam coisas comuns e tudo o mais. Não é à toa que ele é consagrado. Merece estar aonde chegou. E espero que melhore ainda mais, um brasileiro que chama a atenção do mundo para coisas tão importantes para o nosso futuro tem que ser louvado.

E para provar que não é à toa tudo isso, acabei de ler uma notícia no Globo que fala sobre a vitória da bancada ruralista pra cima do PT no Congresso. A idéia é simples. A partir de agora, invasão de terra é crime hediondo e ato terrorista.

Ah, bom. Tá certo, ainda mais se pensarmos que boa parte das terras invadidas (não digo todas porque tem gente canalha também entre os sem-terra, eu sei) é improdutiva, e os que invadem não tem aonde plantar, viver e coisas assim bobas que a constituição brasileira diz que faz parte dos direitos fundamentais do cidadão. E é mais do que óbvio que isso é um crime hediondo. Matar não, roubar seu país e deixar milhões na miséria não, falsificar documentos e se apropriar de terras dos outros (como índios, por exemplo) também não. Mas invadir uma terra e tentar construir uma vida, isso sim é hediondo.

Ou o dicionário precisa de uma revisão ou os brasileiros estão perdendo o mínimo de moral que poderia restar para criar um país melhor. Por que querem tanto me fazer desacreditar na nossa gente?
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Só para acabar com o post-tristeza:

"PF prende 20 por invasão de área indígena em MT

Anselmo Carvalho Pinto*

CUIABÁ (MT). A Polícia Federal prendeu 20 pessoas e ainda procura mais 57 por envolvimento na invasão de uma área indígena em Colniza, no noroeste de Mato Grosso. Entre os presos está o secretário de Habitação de Cuiabá, Oscar Martins. A PF investiga denúncias de genocídio dos índios da etnia tupi kawahib, que vivem isolados dos brancos nas terras invadidas. Eles podem ter desaparecido com a ação de grileiros e madereiros.

A Operação Rio Pardo, realizada em sete estados, foi provocada por uma denúncia da Funai de que integrantes da Associação dos Proprietários Rurais de Colniza estariam patrocinando o loteamento de uma área onde a Funai está fazendo um trabalho de aproximação com índios isolados, próximo ao Rio Pardo.

Segundo a denúncia, 53 mil hectares estariam sendo divididos em lotes de 499 hectares. As investigações concluíram que a associação estaria arrecadando recursos e contratando homens para demarcar lotes e destruir vestígios da ocupação indígena, o que impedia a aproximação e o reconhecimento da etnia, inicialmente identificada como tupi kawahib.

A operação ocorre em sete cidades de Mato Grosso, além de Goiás, Santa Catarina, Paraná, Rondônia, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

(*) Especial para O GLOBO"

Meu vô era índio. Sinto pela raça, que também é minha. O bom do Brasil é o brasileiro...

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