quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

O preço (psicológico) que se paga

Ontem, o assunto era dinheiro. Hoje o papo é cabeça. Literalmente.

Desde que decidi vir para a Europa, e quando realmente vim pra cá, sabia que ia sentir falta de muita coisa. Afinal não sou um largado desestruturado, tenho família que amo, namorada - séria e linda - e amigos maravilhosos. E teria que deixar tudo isso afastado (fisicamente) por um tempo, como está sendo.

O que passa, então, com esse papo? Simplesmente que tudo tem limites. E se o meu ainda está longe de acabar, graças a minha resistência, perseverança, teimosia ou sei lá o quê, às vezes ele sofre atentados. Como o desses dias. E por isso o que escrevo aqui, como uma espécie de desabafo.

A família que criei aqui, o tanto de gente que conheço e que imagino que goste de mim tanto quanto eu deles, brasileiros (aliás, achei mais uma menina ontem, que mora em Salamanca desde o início da faculdade; louco isso) e gringos muito tranquilos e que estão sempre juntos, ajudam muito a passar por boa parte das coisas. Mas para algumas nao têm jeito, só o que resolveria é alguma coisa especial. No meu caso, mesmo meu pai se enrolando pela milésima vez sobre PT-não PT e a confiança, dizendo que sou Lula, minha mãe dizendo par eu não sair à noite porque é perigoso, Alan fazendo piads comigo por muito tempo e a gente chorando de rir e o colo da minha pequena. Coisas que são impossíveis de se encontrar aqui, porque só há um deles. Graças a Deus e infelizmente, neste caso específico.

Às vezes dá um baque tão grande que acho que vou pirar. Faço coisas idiotas e poderia fazer muito pior, se fosse mais estúpido. Ontem, por exemplo, apesar de trabalhar não queria falar com ninguém, mas também não tinha para onde ir já que moro longe do centro e minha casa não é minha. Daí, fui para perto do trabalho, comprei dois pães com recheio de chocolate (caña, aqui, que é uma das formas de pedir cerveja também) e fui para um parque no centro, comer. Nada de mais se não fizesse uns 6 graus, mais ou menos, e não houvesse lugar coberto. Como se fosse pouca estupidez, não tinha mais o que fazer nem para onde ir e resolvi dormir por ali. Coloquei o despertador para meia hora antes de entrar no trabalho e apaguei. Acordei com o rosto a menos 20 graus, perna dormente e um frio de dar inveja a esquimó.

Só para terem uma idéia, cheguei no bar e pedi um café. Ele veio pelando e, ao invés de tomar, fiquei segurando nas duas mãos para ver se ajudava a parar de tremer de frio. Depois de uns cinco minutos até que ajudou mesmo. Daí comecei minha ralação, acabando às 2:10 e indo à despedida de uma argentina gente fina demais, Ana, que volta pra Mar del Plata segunda. Foi seu último dia no Levies e ela estava triste. Fiquei junto, graças à minha estúpida capacidade de me colocar no lugar dos outros.

Cheguei em casa às 7h, porque não tinha ônibus antes. Não dormi porque tinha aula às 9h, e fui. Mas só meu corpo estava presente, e de olhos bem fechados (link da semana). Deprimente, porque odeio sentir sono nas aulas. que é o que mais acontece quando estudo pela manhã, como aqui. E que contribui para meu estado chato de espírito.

Sei que isso é fase, vai passar, blá blá blá. Não precisam dizer, me conheço. "Mas eu nem sei porque me sinto assim/vem de repente um anjo triste perto de mim", é bem isso. Mas quero que lembrem que odeio isso. Sei lá porque, mas quero que lembrem.

E antes que pensem, não chorei. Praticamente não choro, como vocês também devem saber.

Chega de saudades. E tenho dito.

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