quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Adendo

Crédito aos skamaradas, do meu irmãozinho mais novo de Sevilla, o franco-brazuca Ste. Transcrevo, ou seja, pontuação e afins de acordo com o que está escrito.

"Sacerdotal
assim chegou o príncipe
montado no cavalo seu (glorioso)
dirigiu-se ao seu povo
dirigiu-se aos fiéis
diririu-se a Gibraltar
dirigiu sua carroça
dirigiu até o mar
dirigiu seu dirigível
dirigiu sem parar
dirigiu até aqui
dirigindo para lá
dirija
dirija meu filho
dirija até o mar
dirija
dirija meu filho
mas dirija devagar"
***
Isso veio em boa hora. Ou ao menos em uma hora condizente com minha cabeça. Preciso de férias, preciso fugir da rotina, preciso de ar fresco e diferente e ar de verdade, não o ar viciado de uma vida cada vez mais igual. Preciso estar em outros lugares, em todos os lugares. Cada vez mais me sinto como cidadão do mundo.

Só preciso tomar cuidado para não virar hippie maluco.
***
Mais uma vez ele voltava de madrugada. Outro dia com os amigos, outro em que se sentia solitário, vazio. Queria poder beber mais para esquecer, mas além de seu estômago não deixar, ele não conseguiria deixar de lado seus sentimentos. E por isso voltava só, sóbrio e sombrio para seu quartinho.

O que não contava era encontrar a última coisa que gostaria de ver no ônibus, bem ao seu lado. Um casal. Mas não um casal qualquer, um daqueles bem felizes, apaixonados, que pretendem sempre mostrar ao mundo como são fogosos juntos. E por mais que tentasse desviar a atenção, seus olhos de vidro se voltavam para os dois se beijando e se abraçando.

"Nossa, como é linda!", pensava. na verdade não era linda, nem bonita era, mas a solidão aumenta o poder de visão. Ajuda a enganar o cérebro, pelo menos. E o que os olhos vêem deturpados o coração sente melhor.

Uma esbarrada! Droga, bem que poderia ter sido no braço, pelo menos não sentiria sua barriga flácida. Ou no rosto, de repente. Nos óculos, para que eles quebrassem nos seus olhos e ela sentisse pena. Aí ia levá-lo para casa debaixo de seus braços, pedir mil desculpas, cuidar dele até que ficasse bom, e aí ela poderia deixar de ter pena e sentir alguma coisa a mais. Ou ao menos sentir menos pena. Ou...

Agora quem sentia pena era ele. Pena de si mesmo e da sua situação patética. Pena de ser apenas mais um ninguém para todos à sua volta, pena por saber que seu destino era seguir solitário até que o mundo mudasse os conceitos de beleza e passasse a reparar em gordinhos de óculos sem nenhum atrativo em especial e com uma vida parada e idiota. E só aí ele deixaria de sentir idiota também, e poderia ser alguém mais feliz.

Por enquanto, era impossível ser feliz. Chegou seu ponto, desceu com lágrimas nos olhos e caminhou até seu apartamento com aquele riozinho gelado cortando suas bochechas salientes. Sabia que não havia nada que pudesse fazer. Não que ele soubesse. Pensou que a única solução era acabar de vez com aquela existência ridícula, que talvez assim fosse notado. Assim como fizeram, fazem e farão milhões e milhões de pessoas. Pensou, mas de pensar a fazer a dist[ancia é grande, e seu desespero era inversamente proporcional à sua coragem.

Enxugou as lágrimas, tomou um copo de refrigerante, comeu uma barra de chocolate e dormiu no sofá. Outra vez.

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