quinta-feira, 30 de junho de 2005

Ah, Moema...

Escutem uma coisa do seu querido amigo Alê. Murphy é pouco, e essa história de que tudo que está ruim pode piorar é muito mais grave do que vocês podem imaginar. O querido Moema acabou de comprovar isso.

Para quem não sabe, moro (com mais Andrea, Márcio e Renato - ordem alfabética, só) em um dos prédios mais antigos de Niterói, o Moema. Pelo menos que eu saiba. Graças também a isso, o que não falta lá é problema. Dos mais simples aos mais terríveis.

Não vou ficar contando histórias sobre ele, principalmente sobre o nosso querido 801, porque não quero assustar meus amigos nem possíveis futuras visitas. Com certeza fugiriam se soubessem de tudo o que rola por lá. Mas vocês podem imaginar que vida de estudantes que moram sozinhos, que recebem no máximo salário de estagiário, não deve ser muito fácil. Só que isso ainda é pouco.

Além da costumeira pindaíba, a gente vive às voltas com problemas mais "estranhos". Pelo menos duas vezes por semana janto mini-pizzas, vulgarmente chamadas de esfihas. Muito boas, mas não muito saudáveis. Portas que batem são comuns, assim como barulhos estranhos, passos e vozes. Às vezes até umas visões, mas só para felizardos como o Renato. A dignidade acaba de repente, deixando você em uma situação chata de ter um trono mas não ter como sair limpo dele (por isso sempre tenho uma reserva - sabe como é, né, seguro morreu de velho e limpinho). Mas ontem foi longe demais.

Chego em casa e me perguntam se eu ia ao banheiro. "Sim", respondo. Afinal, nada mais natural do que chegar em casa e tomar um banho para relaxar, no meu caso tirar a lente também. "Vai lá, dá uma olhada no banheiro". Percebo que alguma coisa está errada. As coisas sempre estão erradas no Moema. Ainda torcendo para ser apenas mais uma goteira - que esqueci de dizer, também rola por lá de vez em quando - me deparo, incrédulo, com um vazio profundo. Quiçá aterrado. Faltava a privada! Olho para o chão, todo cheio de poeira. Olho para o teto, um pequeno buraco. Olho para a pia, entupida de farelo de parede. Chuveiro interditado. Como assim?!

"A vizinha de cima tá fazendo obra, o cara mexeu errado e caiu em cima do vaso. O prédio disse que vai levar mais ou menos uma semana pra consertar tudo". Percebo que sobra a opção de tomar banho no cafofinho da área. Não que seja a lástima maior, mas é meio incômodo ter que fazer tudo - digo tudo - la´do lado de fora. Deveras inconveniente. Foi como uma ducha de água fria em minha frágil cabecinha...

Na verdade, ainda não tinha sido uma ducha de água fria. Seria hoje de manhã, quando a Ampla foi cortar a luz do apê. Aí, sim, seria terrível. O terror começou quando o interfone tocou às 7:50h da manhã. Podem ter certeza, se o interfone tocar a essa hora na casa de vocês não vai ser caminhão do Faustão nem visita de amigos agradáveis. Atendi já esperando o pior:

"Oi."/"Quem tá falando?"/"Alexandre"/"Olha só, o rapaz da Ampla tá aqui embaixo, tá dizendo que vai cortar a luz. E agora?"

Minha vontade era falar pra ele cortar a luz, a água, as vigas e mandar todo mundo pro espaço. Pra acabar de vez com o sofrimento, tipo cavalo quando quebra a perna. Avisei que ia chamar o Renato pra ir lá embaixo. Para quem não conhece, saiba que ele pode fazer um leve "medo" nos outros. Fomos lá e o cara foi tranquilaço, mas do que eu esperava, até. A gente explicou que invertemos as contas, que pagamos primeiro a deste mês e esquecemos a do outro, e ele ficou de passar lá mais tarde pra pegar o comprovante da que falta, que nós nos comprometemos de pagar ainda agora de manhã. Menos mal, porque banho frio no cafofo seria escroto demais.

Vale como nota que cheguei a pensar em me sentir constrangido quando estava me encaminhando para a portaria. Estava me sentindo como um bicho indo para o abate, ou como aquelas pessoas acusadas de atentado aos bons costumes da Idade Média, que eram encaminhadas para a praça para levar frutadas e pedradas e escarradas. Mas qual minha surpresa ao chegar lá e ver pai de família barrigudo e sem camisa, senhora com cara de boazinha e afins na mesma situação? Daí lembrei que sou apenas um estudante ferrado e me lixei para minha humilde situação. E me atrasei para o trabalho.

Ah!, Moema...

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